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Gerry Turner, protagonista de 'The Golden Bachelor' | Crédito: Divulgação/Brian Bowen Smith, American Broadcasting Co. (ABC)
Gerry Turner, protagonista de ‘The Golden Bachelor’ | Crédito: Divulgação/Brian Bowen Smith, American Broadcasting Co. (ABC)

O solteirão mais cobiçado dos Estados Unidos, nesse momento de 2023, é um restaurateur bem-sucedido, já aposentado, e que preenche seus dias jogando pickleball. Mais ou menos um ‘cruzamento’ entre o tênis e o badminton, tendo o pingue-pongue como padrinho, e o esporte que mais cresce no país atualmente. A principal razão de estar tão em alta por lá é o fato de que esse jogo pode ser praticado por pessoas com condicionamentos físicos variados, e ideal para as que lidam com os contratempos que a idade traz.

Na falta de um termo mais atualizados, aqui seriam os idosos, como o ‘idoso’ condicionamento físico vai bem, obrigado, e o estado civil fez dele, praticamente, um galã. Trata-se de Gerry Turner, um senhorzinho que estrela a primeira edição do reality show “The Golden Bachelor”, spin-off de “The Bachelor”, um dos programas decanos mais icônicos da televisão americana.

No caso da versão recauchutada, nela Turner flerta em rede nacional com 22 mulheres que disputam entre si o ‘prêmio’ em jogo: o de ser a escolhida por ele no grand finale, e dali para a frente tentar engatar um namoro sério, não necessariamente conservador. Assim como ele, todas as suas ‘dates’ têm idades que as coloca na faixa populacional da terceira idade, definição técnica de ‘idoso’ igualmente datada. No entanto, nenhuma delas – e muito menos Turner, obviamente -, entende a maturidade como um apito final para sair de campo e encerrar suas vidas amorosas. Muito pelo contrário…

No ar desde 28 de setembro, “The Golden Bachelor” (“O Solteiro Dourado”, em tradução livre, referência à “idade dourada” de uma pessoa), tem feito mais sucesso do que o original, capturando uma audiência de 4,3 milhões de telespectadores episódio por episódio. Em sua 27ª temporada, que estreou em janeiro e foi concluída em março, “The Bachelor” foi assistido por cerca de 3,4 milhões de telespectadores, o pior resultado da atração lançada em 2002 até hoje.

Ambas as atrações exibidas pela rede americana de televisão ABC, uma das três maiores dos EUA e subsidiária da Disney, tanto uma quanto a outra representam os ideais modernos dos públicos-alvo para os quais foram pensadas – mulheres millennials, que sonham mais com um vestido de noiva do que com um terninho bem cortado de executiva, no caso de “The Bachelor”, e pessoas de idades mais avançadas, desde sempre interessadas em novas experiências, no do spin-off.

O último reality tem feito sucesso justamente por inovar o conceito, já desgastado de “The Bachelor” (ou “O Solteirão”), o transportando para uma nova faixa etária mais decana, em termos de vivência, incomparável com quaisquer de suas antecessoras históricas, justamente por viver à la ‘juventude rebelde’. Assim como Turner, um homem bronzeado de 72 anos em busca de uma segunda chance no amor, todas as que buscam o mesmo com já passaram dos 60.

Viúvo, o ex-restaurateur se casou com sua namorada do colegial, Toni, ainda na adolescência. Durante 43 anos, eles construíram uma família e uma vida juntos até ela falecer, em 2017. Seis anos depois, Turner se sentiu pronto para encontrar uma parceira a fim de dividir o resto de sua vida com uma outra mulher. A imortalidade humana, por sinal, não é nenhum tabu em “The Golden Bachelor“, mas também é vista por todos que o estrelam e, principalmente, aqueles que os assistem em casa, como um mero detalhe e certamente algo que não é nenhum empecilho para as questões do coração.

O próprio Turner, já na estreia de “The Golden Bachelor”, afirmou logo de cara que ninguém precisa se preocupar com ele ou qualquer outra pessoa participando do programa pelas razões erradas – uma indireta tanto para quem enxerga neles todos apenas velhinhos com medo da solidão também mirada naqueles que para veem nele ou em suas pretendentes vovós e vovôs tentando preencher alguma lacuna de suas vidas pessoais com a fama.

“Mulheres e homens de 60 e 70 anos não estão interessadas em ser influencers e têm o mesmo direito de usar os recursos que existem agora para o que quer que sejam seus objetivos”, disse Turner na ocasião. “O nosso é simplesmente encontrar um novo amor. Não temos interesse em lançar um podcast, mas se nosso objetivo em comum pode ser conquistado de forma mais fácil e até divertida na TV, qual o problema?”.

O grand finale dos ‘baby boomers’

Assim como a Geração Z, que está prestes a se tornar a protagonista do mundo, em substituição aos millennials que continuarão em cena, os ‘velhinhos do futuro’ redefinirão o conceito do termo que une o ouro com o passar do tempo – ‘anos dourados’ – para algo que denote mais o valor das experiências vividas para qualquer um que enxergue a velhice como uma nova aventura e não uma condenação.

E isso é algo que, por sua vez, denota animação, e faz desses velhinhos futurísticos já em construção no presente consumidores raros e valiosos. Nos EUA, a expectativa de vida oficial é 76,4 anos para ambos os sexos, conforme dados do governo americano. O número oficial anterior era 77 anos, e a queda chocou muita gente. Ao analisarem melhor o que causou isso, surgiu um grupo que se destacou como exceção à essa regra.

Os habitantes do Havaí vivem, em média, 80,7 anos. O estado insular americano situado no Oceano Pacífico, conhecido por suas paisagens exuberantes, praias paradisíacas, cultura rica influenciada por elementos nativos e externos, vida noturna agitada, e por idosos tirando proveito de tudo isso em seu quintal, do jeito que era possível, mesmo durante a pandemia – ao contrário de seus conterrâneos de outros estados americanos que ‘aproveitaram’ a necessidade da quarentena para mergulhar de vez no sedentarismo.

Como sugerem as estimativas oficiais de expectativa de vida de lugares como Mississippi (71,9 anos), West Virginia (72,8 anos) e Louisiana (73,1 anos), historicamente identificados como possuindo as piores expectativas de vida de todos os estados americanos, índices que pioraram durante a crise sanitária causada pelo novo coronavírus e são suspeitos (a hipótese ainda é estuada) de terem causado a piora na nacional, que caiu de 77 para 76,4 anos, quem vive intensamente, vive mais. Melhor ainda se for fora de casa. Em horário nobre, com direito a beijos nada técnicos então…

A beleza das rugas

Grandes marcas e empresas do mundo inteiro sabiam disso há tempos. A L’Oréal, por exemplo, ainda em 2014 enxergou o potencial de Helen Mirren, que escolheu para ser sua embaixadora global já focando conquistar os consumidores de então com mais de 50 anos. A atriz britânica de 78 anos foi contratada a peso de ouro, e eleita a mulher mais sexy do mundo aos 65, para prestar serviços promocionais por dois anos em troca de estimados US$ 13 milhões (R$ 66 milhões). Deu tão certo que os vídeos da intérprete de Elizabeth II na telona fazendo essas promoções, vira e mexe, rendem marketing viral nas redes sociais.

O acordo passou a ser renovado automaticamente a partir de 2016, dado que as vendas da gigante dos cosméticos para esse nicho de cinquentões para mais velhos estourou, em grande parte graças à vencedora do Oscar por “A Rainha”. Além da beleza atemporal, do carisma e do talento de Mirren, mulheres com idades em paridade com a dela as consideram uma ‘Kim Kardashian da terceira idade’, como já apontaram pesquisas. Eventualmente, Jane Fonda e Julianne Moore também se tornaram embaixadoras da L’Oréal. e ainda por cima para substituir celebridades mais novas, perdendo para veteranas os jobs que afiram em comerciais merecer.

Os homens na mesa faixa etária que consideram Mirren um ícone, de quebra, a enxergam como uma mulher ainda mais ‘gostosa’ que uma Angel da Victoria’s Secret, lembrando que as últimas intérpretes dessa personagem saíram de moda. Também são eles os mesmos consumidores por trás do boom no segmento de creminhos e afins específicos para homens que já passaram faz tempo dos 50, como Turner. À medida que a população mundial vai envelhecendo e menos nascimentos são registrados, o capitalismo se virou nos 30 para fazer desse limão sua limonada.

O segmento cosmético anti-idade, que inclui os produtos de beleza e cuidados com a pele formulados para combater ou retardar os sinais visíveis do envelhecimento, terminou 2022 com quase US$ 50,5 bilhões (R$ 256,5 bilhões) gerados, de acordo com um levantamento da empresa americana de análises mercadológicas Precedence Research, com projeção de superar US$ 90 bilhões (R$ 457,2 bilhões) em 2032.

Abrangendo uma variedade de produtos, como cremes, soros, loções e tratamentos especializados que prometem reduzir rugas, linhas finas, manchas de idade e outros sinais de envelhecimento cutâneo, é um nicho formado por um público-alvo é predominantemente composto por consumidores de meia-idade ou mais velhos, embora cada vez mais pessoas mais jovens, como as da Gen Z, estejam também se voltando para esses produtos como uma medida preventiva.

Altamente competitivo, esse segmento com frequentes lançamentos, surgiu dos avanços tecnológicos e da popularização de tendências que se tornaram conceitos (como a causa da sustentabilidade, créditos dos millennials), é um que converge sonhos de consumo para qualquer marca ou empresa: um consumidor sedento por soluções eficazes de antienvelhecimento, seja para reduzir rugas ou retardar a inevitabilidade de que um dia os temidos pés de galinha surgirão, com dinheiro no bolso e tempo de sobra em suas rotinas diárias para gastá-lo, que quando é de mais idade prefere assistir um galã maduro sendo disputado na TV do que novelas muito açucaradas e pouco apimentadas.

Na moda não tem sido diferente. Marcas como Gucci, Dolce & Gabbana e Louis Vuitton escalam cada vez modelos mais velhas, para suas campanhas publicitárias e também para desfilar seus looks nas passarelas. Maye Musk é uma dessas tops, ainda na ativa aos 75 anos, que fez história no ano passado ao se tornar a mais velha estrela da capa da Sports Illustrated, e de maiô. Além disso, revistas como Vogue e Harper’s Bazaar, frequentemente destacavam ícones de estilo de mais idade em suas páginas. O foco em consumidores mais velhos está alinhado com o poder aquisitivo dessa demografia, que muitas vezes tem mais capacidade financeira para investir em produtos de alta moda.

A demografia do envelhecimento da população em muitos países desenvolvidos também fazia dessa um mercado cada vez mais atraente. Estima-se que até 2050 quase 2,1 bilhões de pessoas em todo o mundo terão mais de 60 anos, e esse grupo de consumidores não apenas tem poder de compra significativo, mas também está cada vez mais disposto a gastar em bens de luxo. Designers e marcas estão percebendo que a elegância e o estilo não têm idade, o que abre novas oportunidades de mercado.

Um lugar chamado Hollywood

Outra indústria que não dá ponto sem nó, e que aposta nessa ‘revolução das rugas’, é a do entretenimento. Um estudo divulgado em abril pela consultoria americana National Research Group apontou que as salas de cinema mundo afora têm sido cada vez mais preenchidas por cinéfilos sêniores, também com 50 ou mais anos de idade. No mesmo estudo, Tom Cruise se destacou como o astro hollywoodiano com o maior potencial de despertar o interesse de fãs da sétima arte mais jovens e mais velhos para assistirem filmes no cinema e não em casa, como os millennials que adoram um #sextou no streaming.

O Top 10 do levantamento da National Research continha apenas dois atores têm menos de 50: Leonardo DiCaprio e Kevin Hart, os mais ‘novinhos’ e os dois com 44 anos, respectivamente nas posições de números oito e dez, levando em conta o mesmo ‘appeal’ de Cruise para impactar as bilheterias. Os outros nove listados, de cima pra baixo, foram Dwayne Johnson (2º colocado, 51 anos), Tom Hanks (3º colocado, 67 anos), Brad Pitt (4º colocado, 59 anos), Denzel Washington (5º colocado, 68 anos), Julia Roberts (6ª colocada, 55 anos), Will Smith (7º colocado, 55 anos) e Johnny Depp (9º colocado, 60 anos)

Única atriz desses dez ranqueados seniores, Roberts deverá surgir no tapete vermelho do lendário Grauman’s Chinese Theatre de Los Angeles, no próximo dia 25, para promover seu novo e, talvez, mais importante trabalho – o thriller psicológico “Leave the World Behind”. O longa é baseado no livro homônimo de 2020, do escritor americano Rumaan Alam, que virou best-seller naquele ano. Também em 2020, a obra figurou entre as favoritas dos leitores da terceira idade dos EUA. Essa mudança de guarda no mundo do entretenimento é reflexo de uma sociedade que está aprendendo a valorizar a experiência e sabedoria que vêm com a idade.

Seus direitos visuais foram comprados pela Netflix, que escolheu a dedo a estrela de “Um Lugar Chamado Notting Hill” para produzir e estrelar sua adaptação cinematográfica, a cargo da produtora dela, Red Om Films, juntamente com a Esmail Corp do produtor Sam Esmail, e a Higher Ground Productions, de Michelle e Barack Obama. A Netflix tinha bons motivos para escolher Roberts. Conhecida como a ‘Helen Mirren’ dos americanos mais velhos, ela é um ícone cujo envelhecimento natural é admirado e frequentemente citado em entrevistas. Em tempo: “Leave the World Behind” entrará em cartaz em cinemas selecionados dos EUA em 22 de novembro, e no catálogo da Netflix em 8 de dezembro.

À medida que esse cenário real continua a se desenvolver, uma coisa é certa: a fusão de novos talentos da Geração Z com as lendas do passado está criando uma nova era dourada, uma que transcende as barreiras da idade e redefine o que significa ser uma estrela. Tanto para os que encenam essa trama quanto para os que a observam como um show de ruas próprias realidades, o brilho coletivo redefine tanto o firmamento de Hollywood quanto o da vida real, estabelecendo estrelas e admiradores como luminosos pontos de uma mesma constelação narrativa.

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Clica no vídeo aí embaixo pra assistir o trailer de “The Golden Bachelor” [ÁUDIO EM INGLÊS]:

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