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Executivo frustrado || Créditos: reprodução
Executivo frustrado || Créditos: reprodução

Lidar com a frustração é o grande desafio quando o sucesso é altamente valorizado. Porém, como fenômeno humano mais que natural, é importante tentar entender as adversidades em outro âmbito: o do aprendizado.

Por Victor Santos para a PODER

No “Poema em Linha Reta”, Fernando Pessoa disserta sobre nunca ter conhecido quem tenha “tomado porrada”. “Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo”, escreve na primeira estrofe. O “eu” da obra desafia os semideuses que existimos aos montes no Ocidente e clama por uma oportunidade para ser apresentado a alguém capaz de reportar uma mera infâmia ou covardia. “Então sou só eu que é vil e errôneo nesta terra?”, questiona.

Pessoa assinou o “Poema” sob um de seus mais prolíficos heterônimos, Álvaro de Campos, e a obra soa atualíssima um século depois, em que proliferam plataformas virtuais de autopropaganda. Nosso narcisismo contemporâneo persevera não só na cabeça de cada indivíduo, mas também é fomentado por uma cultura que tem na ideia de sucesso uma de suas pedras fundamentais, donde nem a história ou a versão dos perdedores é lembrada. Perder é motivo de vergonha e frequentemente induz à ocultação de circunstâncias e acontecimentos. Porém, essa valorização do êxito entra em choque com um ditado tão popular que é quase mandamento: “Errar é humano”.

Além de ser episódio comuníssimo, passar por desventuras é um fenômeno que, como poucos, pode servir de mola propulsora ao aprendizado e ao crescimento pessoal. De acordo com o psicoterapeuta Ivan Roberto Capelatto, a frustração é a expressão humana decorrente da quebra de um desejo ou expectativa que proporciona experimentar um sentimento de impotência sem o desenvolvimento de uma patologia. E há mais sentimentos envolvidos. “A frustração pode ser sentida de várias maneiras e formatos: reação aguda ou grave a perdas e decepções; reação aguda ou grave a projetos não realizados; reação depressiva ao contato interrompido com pessoas afetivamente ligadas. O problema maior é quando o paciente não consegue sentir a frustração e transforma a perda em depressão ou em ideias autodestrutivas. Às vezes até em agressividade hétero dirigida”, diz Capelatto.

Frustração em si não é um problema, mas a dificuldade de muitos em lidar com ela, sim, e isso pode ter consequências graves. O psicoterapeuta pontua que associar frustração ao sofrimento é um engano, pois ela tem o potencial de gerar o bem. Lidar com a desilusão de forma saudável é um terreno fértil ao desenvolvimento do juízo crítico, auxilia a se conectar com o “eu” interior e é uma etapa crucial na construção da autoestima. O desafio está em transformar essa experiência, o que pode ser feito nos primeiros anos de vida, e os pais podem dar grande contribuição ao processo.
Capelatto diz: “Uma criança bem cuidada é aquela cujos cuidadores oferecem limites e suportam raiva, birras e gritos sem punições ou agressões verbais. Quando a criança percebe que a raiva passou e ela é a mesma, constrói uma estrutura psíquica forte capaz de fazê-la suportar alguma derrota escolar, alguma decepção amorosa, perdas, mortes e mudanças na vida”.

No âmbito empresarial é claro que erros podem ter consequências extremamente graves a ponto de comprometer a relação do executivo não só com liderados, mas também com acionistas e parceiros. No entanto, a alta competitividade pede inventividade que se reflete até em afirmações de um dos CEOs que sempre marcam presença na lista dos mais ricos. Segundo Jeff Bezos, da Amazon, “o fracasso é o caminho para o sucesso”. Patrícia Molino, sócia-líder da área de People & Change da companhia de auditoria e consultoria KPMG, disse a PODER que o mercado vive um momento de transformação muito intenso, o que gera insegurança em profissionais de diferentes níveis hierárquicos e faz questionar a ideia de fracasso por remeter a uma falha ampla e generalizada que pode trazer consequências drásticas. No entanto, erros pontuais fazem parte do processo e é importante saber enfrentá-los. “Sem saber lidar com o erro a gente vai premiar o comportamento de quem se sente inseguro e afetar o rendimento de quem toma risco”, comenta.

A executiva explica que as experiências negativas não devem ser justificadas automaticamente pelo potencial de aprendizado que geram, nem tampouco ser tomadas como uma tempestade permanente, pois, podese dizer, o mundo dá voltas. Quem se encontra em posição de prestígio pode experimentar o amargor de uma frustração num próximo momento. “Há bons exemplos no mundo das startups, em que a primeira experiência não é de sucesso e depois vem o desenvolvimento do negócio”, diz. E como tirar o melhor de uma situação que parece extremamente negativa? “Esses momentos trazem desenvolvimento individual e criam empatia. A frustração frequentemente faz com que a pessoa se movimente. Assim, os erros devem servir como aprendizado e desenvolvimento pessoal.” De fato, abrir o peito e receber as experiências frustrantes do dia a dia com otimismo não é uma tarefa nada fácil, mas um primeiro passo é ter a consciência de que ela é natural, universal e tem um potencial de fortalecer o sofredor. A sabedoria popular pode ajudar nesses momentos, pois como escreveu o compositor – e zoólogo – Paulo Vanzolini em uma de suas mais famosas canções: “Reconhece a queda e não desanima / levanta, sacode a poeira e dá a volta por cima”.

OPS, DEU RUIM

Você sabia que o Instagram e o Teflon são resultados de erros? Em Oportunidades Disfarçadas 2 (ed. Sextante) o escritor e publicitário Carlos Domingos conta essas e outras histórias de empresas que transformaram problemas em oportunidades. Olha só: Instagram Em 2012, a rede social foi adquirida pelo Facebook por US$ 1 bi, não antes de os criadores Mike Krieger, brasileiro, e Kevin Systrom quase desistirem do negócio. Lançada inicialmente como o nome de Burbn, era uma cópia malfeita do Foursquare e só não morreu porque os proprietários notaram algo interessante: as pessoas usavam mais um recurso secundário do app, a ferramenta de postar fotos. Teflon Em 1938, a DuPont tentava desenvolver um refrigerante para competir com a Coca-Cola e a Pepsi quando um processo químico resultou numa resina branca que se tornaria a substância mais antiaderente do mundo segundo o Guinness Book. Hoje, o Teflon está em panelas, fios elétricos, automóveis e até propulsores de foguetes e, por prosseguir no erro, o químico Roy Plunkett integra o Hall da Fama dos inventores.

 

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