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Rainer Cadete
Foto: Márcio Farias

Rainer Cadete, 34 anos, dá vida a Visky, personagem queridinho do público em “Verdades Secretas” que não poderia ficar de fora da segunda temporada da trama, exibida no Globoplay. Com carreira iniciada no teatro, o artista entrega de cara que, assim como Visky, sabe a que veio. Inteligente, questionador e curioso, ele contou ao GLMRM sobre a relação com o personagem que, segundo o próprio, colocou uma lupa em seu trabalho.

“Me dá prazer estar fazendo o Visky, ele é tão legal, divertido e forte, é muito especial estar perto dele, ainda mais agora. Acho que o Brasil está precisando de uma distração, uma alegria”, disse Rainer. Na conversa, o ator ainda falou sobre a importância do personagem em um dos países mais LGBTfóbicos do mundo, entregou o que trouxe de novidade ao Visky e o que herdou dele desde a primeira temporada.

Foto: Márcio Farias

Paradoxos

“O Visky ocupa esse lugar do alívio cômico, que muitas vezes é destinado às pessoas da comunidade LGBTQIA+, mas ele não é só isso. Para muita gente – e para mim também – ele é um muso da liberdade. Lutou muito para conseguir estar no lugar onde está. Foi expulso de casa, como muitas pessoas, por conta da sua sexualidade e do seu jeito. Na vida, ele é um sobrevivente. Além disso, estamos falando de um personagem afeminado, LGBTQIA+, que consegue também ser um símbolo sexual, talvez um dos primeiros na teledramaturgia, porque, geralmente, ele estaria no lugar do humor e ponto. É um paradoxo o fato do Visky conquistar tantas pessoas em um país tão preconceituoso quanto o nosso. Mas isso é muito importante, porque ele representa pessoas que estão sendo invisibilizadas, marginalizadas e mortas por uma sociedade patriarcal e colonialista que fala que elas não merecem viver. É nesse contexto que o Visky chega na Times Square, em Nova York, e na Champs-Élysées, em Paris. Ele entra na casa de muita gente abrindo esse debate. Nessa segunda temporada, já perdi as contas de quantas mensagens recebi que falavam ‘graças ao Visky pude conversar com meu pai sobre a minha sexualidade’, ou ‘por causa dele, passei a me vestir como quero’.”

Do Visky para o Rainer

“Minha vida inteira, por viver nesse país LGBTfóbico, vi a minha própria masculinidade, enquanto Rainer, ser colocada em questão. ‘Homens não podem chorar, ser sensíveis, mostrar vulnerabilidades, ousar na moda’… É um país muito careta e conservador, ainda mais nesses últimos tempos. Por isso e por tantos outros motivos, o Visky é um presente. Além disso, eu particularmente não me acho muito engraçado, mas quando estou interpretando-o acabo trazendo mais humor para a minha vida. Por onde passo, alguém solta uma gargalhada. Ando mais brincalhão”.

“É um país muito careta”

Rainer Cadete

Do Rainer para o Visky

“O Visky está mais dançante nessa segunda temporada [risos]. Quis trazer a dança vogue, que é muito representativa e importante para a comunidade LGBTQIA+. Ela surgiu nos Estados Unidos e tem toda uma história por trás. Começou nas casas que recebem pessoas LGBTQIA+ que se encontram em estado de vulnerabilidade, foram expulsas de casa e não têm para onde ir. O vogue surge daí, desse encontro, e fala sobre beleza, feminilidade e empoderamento. Acho muito legal que as pessoas conversem sobre tudo isso, sobre fluidez sexual, sobre a liberdade de ser o que é, sobre essa brincadeira de usar a indumentária feminina. Qual é o limite? O Rei Luís XIV, da França, usava salto alto e maquiagem. O que aconteceu? Enfim, o Visky nos enche de questionamentos e gosto de usar a minha arte para entreter e levantar debates”.

Foto: Márcio Farias

Sexo sem tabu

“‘Verdades Secretas 2’ fala de sexo também. Mas não é como em toda as outras novelas que, na hora da transa, corta a cena. Ela conta o sexo porque ele existe, precisa ser naturalizado e narra uma história. O sexo do início de um casamento é diferente do meio ou do final dele. Ele se transforma e a série fala sobre isso, mas fala também sobre beijo grego e sobre assuntos considerados proibidos. Por que tem tanto tabu em cima disso? Tabus só geram ignorância, eles criam uma lacuna para as pessoas demonizarem coisas que são naturais. Quando existe um diálogo aberto, você fala sobre as coisas, as elabora e aí consegue se emancipar em relação ao que pensa sobre elas. O conhecimento é emancipador. Então, acho muito bacana estar falando sobre isso, é muito gratificante colocar a minha arte nesse lugar, contra o conservadorismo”.

“Tabus só geram ignorância. O conhecimento é emancipador”

Rainer Cadete

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