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Taylor Swift
Foto: Taylor Hill/TAS23/Getty Images for TAS Rights Management

É oficial: o “fenômeno” Taylor Swift atingiu tal magnitude que agora há um emprego exclusivo para cobrir sua trajetória. Segundo o USA Today, o “The Tennessean”, principal diário de Nashville, no estado americano do Tennessee, busca um repórter especializado em “capturar o impacto musical e cultural de Taylor Swift“. A remuneração para o cargo específico pode chegar a até US$ 50 (R$ 246) por hora. Contextualizando isso para os padrões brasileiros, a renda anual ficaria em US$ 104 mil (R$ 511,7 mil), ou quase US$ 8,7 mil (R$ 42,8 mil) mensais. E apenas para que se tenha uma ideia da magnitude do que há por trás dessas cifras, vale até mencionar um dado oficial: de acordo com o Bureau of Labor Statistics (BLS, na sigla em inglês), o órgão governamental dos Estados Unidos que mais se aproxima em termos de funções ao IBGE, o ganho médio anual de repórteres e profissionais de jornalismo em geral no país foi de uns US$ 60 mil (R$ 295,2 mil) em 2022.

Swift, portanto, não apenas está prestes a virar uma seção de jornal, mas também requer que o jornalista responsável por analisar e noticiar tudo que for relativo à sua relevância no mundo contemporâneo seja bom o suficiente para merecer uma salário bem acima da média nacional de sua profissão. À parte a aparente decisão bem pensada do Tennessean, que circula desde 1907, de entender ser necessário adaptar sua narrativa para os leitores jovens da atualidade e suas formas de perceber a realidade em que eles vivem, aqui o que mais chama atenção é essa nova evidência de que a cantora americana de 33 anos é, por assim dizer, a “Madonna do século 21″.

O futuro editor da “seção Taylor Swift” terá uma grande tarefa. Sua função não será apenas a de olhar com lupa os trabalhos musicais de Swift na indústria de entretenimento internacional, mas principalmente traduzir como ela se tornou tão grande ao ponto de que sua fama hoje em dia vai além do sucesso artístico e influencia desde o mundo da política ao dos negócios. Em relação a esse último, a vaga aberta pelo Tennessean vem à tona no contexto de previsões financeiras estonteantes relacionadas à artista: sua turnê “The Eras Tour“, que estreou em março e deve ser concluída em novembro de 2024, está projetada para se tornar a mais lucrativa da história, com uma receita total estimada em US$ 1,4 bilhão (R$ 6,7 bilhões), aproximadamente 44% do faturamento da Globo em 2022, como a gigante de mídia brasileira reportou em março. Se a cifra for atingida, pode-se dizer que Swift caminha para se tornar a celebridade mais bem paga de todos os tempos, com uma possível renda antes dos impostos na casa dos US$ 850 milhões (R$ 4,2 bilhões) – incluída aí, além de ganhos provenientes de outras fontes, sua parte caso o possível recorde de bilheteria bilionária seja batido, o que é bastante provável.

Essas cifras astronômicas e a necessidade de alguém que se dedique em período integral à “conjuntura Swift” levam a uma pergunta de um milhão de dólares: o que exatamente faz Taylor Swift ser a maior popstar de nossa era? O segredo de seu sucesso ultrapassa os confins da música e se aprofunda em estratégias astutas, uma conexão emocional incomparável com os fãs, e um nível de autenticidade raramente visto em figuras públicas desse calibre. Vale explorar os elementos que fazem de Taylor Swift a maior popstar da nossa era e o que empresas e indivíduos podem aprender com sua trajetória impressionante…

Entendendo o ‘fenômeno’

Quando falamos em sucesso na indústria da música, Swift é um nome que inevitavelmente entra na conversa. Acima de tudo, o que a torna tão singular no cenário pop global são sua habilidade de contar histórias em canções combinada com uma destreza nas redes sociais, o que gera um ativo intangível valiosíssimo. Mas a intérprete de “Wildest Dreams” e tantos outros hits não é apenas uma cantora e compositora, e aqui seu grande trunfo foi o de “monetizar” os contras de ter ficado famosa (fofocas, intrigas de bastidores…) sempre que os usa como matéria-prima e inspiração de suas composições. Seus álbuns frequentemente seguem um arco narrativo que faz com que o ouvinte seja transportado para um mundo todo seu. Ela tem o dom de transformar experiências pessoais em hinos universais, algo que a Billboard e outros veículos de mídia frequentemente destacam, por sinal. Esse é um exemplo perfeito de como uma forte narrativa de marca pode cativar e manter uma base de fãs (ou de clientes, de amigos, de parentes…).

Dominando a arte do rebranding

De suas raízes no country a seu salto para o pop e outros gêneros musicais, Swift sempre foi a rainha do rebranding. Ela não tem medo de reinventar sua música e imagem para atingir novos públicos ou para se manter relevante – nada que a torne menos original, e isso se chama pragmatismo. Empresas como Coca-Cola e Apple têm lições a aprender com sua capacidade de se adaptar sem perder a essência da marca. A fabricante do iPhone, mais do que nunca, dado que acaba de lançar a nova geração do smartphone e já deve ter várias ideias e também dúvidas sobre a próxima que pretende lançar.

A força das redes sociais

A presença virtual de Swift é nada menos que impressionante. Só levando em conta Instagram, X, Facebook e TikTok – o quarteto fantástico das redes sociais – seu número de seguidores totaliza 466,6 milhões, ou 5,75% da população mundial (perto de 8,1 bilhões de pessoas), conforme os dados mais recentes da ONU. Ela compreende a importância de manter um diálogo aberto com seus fãs, utilizando essas e outras plataformas não apenas para autopromoção, mas para engajamento real, assim deixando uma “pegada” bem profunda na vida real digitalizada. A revista Harvard Business Review, da Universidade Harvard, recentemente publicou uma série de artigos sobre Swift, e todos analisando como ela usa esse diferencial digital para criar um senso de comunidade. Algo que muitas empresas buscam, mas poucas realmente conseguem.

Transparência e autenticidade

Swift não tem medo de mostrar sua verdadeira personalidade, e isso é evidente em suas interações com os fãs e em suas letras. Ela aborda temas difíceis e polêmicos em muitas, e em entrevistas demonstra constantemente uma autenticidade que é rara em celebridades de seu calibre, sobretudo quando deixa bem claros seus limites e a razão de impô-los. Segundo a revista americana Forbes, essa transparência da cantora também é um fator-chave para o fortalecimento de qualquer marca e empresa. E o mesmo vale para pessoas.

Estratégias de negócio inovadoras

Além de ser um ímã que atrai dinheiro naturalmente graças ao talento que tem, Swift sabe criar caminhos rumo ao pote de ouro. Ela é também uma astuta empresária. Sua decisão de regravar seus próprios álbuns para retomar o controle de masters, por exemplo, foi um movimento de negócios sem precedentes que capturou a atenção da indústria e deu um novo significado ao conceito de propriedade intelectual. É um case que serve como lição valiosa sobre a importância da autonomia e da inovação, ainda mais em um mundo corporativo cada vez mais competitivo – o que reflete diretamente nos ambientes profissionais.

Conexão emocional e lealdade

Uma das forças mais poderosas que impulsionam o sucesso de Swift é a conexão emocional que ela estabelece com seus fãs. Seu relacionamento com eles não é meramente transacional, é profundamente pessoal. Marcas como Nike e Starbucks, que entendem a importância de criar laços emocionais fortes com os consumidores, sabendo que isso é uma história sem fim, poderiam se inspirar na forma como Swift mantém e cultiva essas relações.

O poder de saber seu valor e não conceder descontos

Não é segredo pra ninguém que assistir a um show de Swift é uma experiência cara, mas isso não parece desencorajar seus milhões de fãs ávidos (e aqueles US$ 1,4 bilhão/R$ 6,7 bilhões lá no horizonte provam o contrário). O preço elevado dos ingressos não é fruto do acaso, mas sim uma combinação de fatores estratégicos e de mercado que transformam cada apresentação dela em um evento imperdível. Primeiramente, a alta demanda combinada com a limitada capacidade dos locais de shows faz com que os ingressos se tornem um bem precioso. Além disso, a qualidade da produção – desde o design do palco até a execução técnica – justifica os altos custos. E, no caso de Swift, há ainda o fator raridade: suas apresentações em público são eventos únicos que, frequentemente, esgotam em minutos após a abertura das vendas.

O papel das agências de ingressos também é fundamental. Elas fazem uma análise meticulosa de variáveis como demanda projetada, custos de produção e capacidade do local para definir o fair market value (valor de mercado) de cada ingresso, ou seja, é o velho conceito do “vale quanto pesa”. Tudo isso contribui para o que pode ser considerado um dos maiores triunfos empresariais de Swift, que é o de transformar um produto de alta demanda (a chance de assisti-la ao vivo em uma superprodução) em uma experiência que as pessoas estão dispostas a pagar um prêmio para vivenciar.

Em resumo, o preço aparentemente proibitivo dos ingressos de seus shows e a rápida venda deles são mais do que simples indicadores da popularidade de Swift. Também servem como testemunhos de uma estratégia de negócios excepcionalmente bem-executada. Os produtos e os serviços vendidos por Swift transcendem as notas musicais e os estádios cheios, e entram no campo dos fenômenos culturais e empresariais que redefinem continuamente as regras do jogo.

Quando a arte vira uma ‘commodity’

Swift conseguiu algo que muitos artistas aspiram, mas poucos alcançam: ela transformou sua arte em uma verdadeira ‘commodity‘ lucrativa, indo muito além da monetização básica que se tornou regra para outros artistas que vivem de publiposts. Ela não se limita a vender somente música, vende uma experiência completa que vai desde a mercadoria personalizada até extras sob medida para os fãs, como pacotes VIP em seus shows. Sua expertise não está apenas em sua habilidade para criar números um, mas também em sua visão para o negócio. Swift investe pesado em marketing e colaborações estratégicas, sempre buscando manter o buzz em torno de sua brand persona. Toda essa estratégia de “auto monetização” não só a torna uma das artistas mais ricas da atualidade, mas também redefine o que significa ser um músico no mundo moderno. Ela é mais do que uma cantora ou compositora – é uma mulher de negócios focada que sabe como capitalizar em cada aspecto de sua marca pessoal.

Nova era do pop: O legado de Madonna reinterpretado

Swift faz algo semelhante ao que Madonna fez nos anos 1980, porém com uma sensibilidade ajustada para a cultura contemporânea. Enquanto Madge foi revolucionária ao desafiar as convenções sociais e “cutucar” instituições como o Vaticano, Swift entende que para os millennials e a Geração Z (que compõem a maior parte de sua base de fãs), essa abordagem não é mais tão “chocante”. Na verdade, para a Gen Z, Madonna pode até parecer um pouco “careta”. O que essas gerações mais jovens encontram de revolucionário em Swift é sua habilidade de se reinventar constantemente e sua coragem de se manifestar sobre questões políticas e sociais, como ela fez ao apoiar a Lei da Igualdade em 2019.

As cifras por trás do ‘fenômeno’ Taylor Swift

Sob um olhar 360, alguns dos grandes feitos sem precedentes de Swift, como sua capacidade de dominar as paradas da Billboard e sua fortuna estimada em US$ 740 milhões (R$ 3,6 bilhões) pela Forbes, fica clara uma força imparável. A demanda por ingressos da “The Eras Tour”, em 2023, foi tão avassaladora que até membros do Congresso dos EUA questionaram o monopólio da Ticketmaster.

Next: A primeira bilionária ‘puro-sangue’ da música?

Nesse ritmo acelerado em que a conta bancária de Swift segue aumentando, é provável que ela se torne a primeira cantora bilionária da história que construiu sua fortuna essencialmente através da música. Embora Rihanna tenha alcançado o status de bilionária em 2021, a maior parte de seu patrimônio pessoal vem da joint venture que a popstar barbadiana mantém com o LVMH, a marca Fenty. Swift, por outro lado, se aproxima desse marco monumental através de seu indiscutível talento musical e habilidades empresariais afiadas, e baseando-se em uma série de decisões estratégicas. Ela não é apenas uma cantora, compositora ou celebridade. O fenômeno Taylor Swift é uma força da natureza na indústria do entretenimento, e seu impacto duradouro promete redefinir o que significa ser uma mulher poderosa na música. E, ao escolher tratar disso apropriadamente, o Tennessean deu uma aula magna para toda a mídia (e todos que vivem dela, vivem por ela, ou vivem pra ela).

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