Publicidade
A polêmica do Nióbio || Créditos: Reprodução / Getty Images
A polêmica do Nióbio || Créditos: Reprodução / Getty Images

A polêmica da tabela periódica: Tido como panaceia para os males brasileiros por Jair Bolsonaro, o nióbio, minério que o país é o principal produtor, pode estar longe de ser tudo isso. 

Por Anderson Antunes para a revista PODER 

Embaixador do Brasil em Washington durante o segundo governo de Getúlio Vargas, que durou entre 1951 até o fatídico suicídio do político três anos mais tarde, o banqueiro mineiro Walther Moreira Salles (19122001) manteve até o fim da vida ótimas relações com muitos poderosos dos Estados Unidos. Um deles era o almirante da Marinha Arthur W. Radford, que em 1965 convenceu o lendário fundador do Unibanco (fundido em 2008 com o Itaú, e a partir daí o maior banco privado do país) a investir em um metal até então praticamente inexplorado comercialmente em qualquer lugar do mundo: o nióbio. Tudo porque ele possui uma muito interessante propriedade: apenas 100 gramas de nióbio são capazes de tornar uma tonelada de aço muito mais forte e maleável. Membro do conselho da mineradora americana Molycorp Inc., que detinha os direitos de exploração de nióbio em Minas Gerais, Radford conseguiu que o amigo abastado comprasse uma participação majoritária na Companhia Brasileira de Metalurgia e Mineração (CBMM).

A quase despretensiosa aposta de Moreira Salles nos anos 1960 virou uma dinheirama em 2011, quando 30% da mineradora foi vendida para um grupo de investidores asiáticos por US$ 3,9 bilhões. Avaliada em US$ 13 bilhões graças ao negócio, a CBMM hoje responde pela maior parte da fortuna de quase US$ 23,2 bilhões dos herdeiros do ex-embaixador. Com isso, Fernando Roberto, Walter, Pedro e João Moreira Salles, controladores do Itaú Unibanco junto com as famílias Villela e Setubal, podem se dar ao luxo de dizer que o banco é um ativo secundário nos próprios portfólios.

Na tabela periódica, o nióbio da fortuna dos Moreira Salles leva o número atômico 41. Parece um número pouco cabalístico, ordinário demais para algo que é tido como a salvação da lavoura. Mas seria mesmo o nióbio, como dizem seus apologistas, o novo petróleo?

Nesse time, o mais famoso deles é Jair Bolsonaro, que, ainda em sua época de possível pretendente ao Planalto, visitou a sede da CBMM em Araxá, a fim de mostrar a seus seguidores nas redes sociais o tesouro que chegaria a descrever como “a maior riqueza nacional”. Já como presidente, em junho, na viagem que fez ao Japão para encontro do G-20, fez mais propaganda num vídeo em que mostrou colares e pingentes feitos com o metal de transição. “A vantagem em relação ao ouro são as cores que variam e ninguém tem reação alérgica ao nióbio. Isso custa US$ 1 mil, quase R$ 4 mil. De ouro, acho que pelo peso valeria uns R$ 3 mil no Brasil”, afirmou. Bolsonaro se anima com o metal, mas há gente que o vê muito mais como um ouro de tolo.

De acordo com estimativas de mercado, as receitas globais geradas pelo nióbio giram em torno de US$ 3 bilhões por ano. A CBMM responde por cerca de 80% desse montante, uma vez que detém 84% das reservas mundiais do metal – o Brasil é dono de 98%. O segundo maior produtor mundial é o Canadá, com 2% das reservas totais, suficientes, contudo, para atender uma vasta relação de clientes, principalmente as empresas de tecnologia. Da CBMM sai sobretudo uma versão do nióbio feita para ser misturada ao ferro e, portanto, ideal para as indústrias nuclear e de construção civil. De resto, usa-se o metal na produção de lentes ópticas, tomógrafos e afins, produtos que não são fabricados aos montes. Se uma nação dependesse disso para se reabilitar de suas agruras econômicas, certamente teria problemas. Some-se a isso o fato de que o nióbio é perfeitamente substituível, sobretudo por vanádio e titânio, já que ambos cumprem a mesma função e são mais fáceis de serem encontrados; além disso, o Brasil exporta o metal exclusivamente como matéria-prima, sem grande valor agregado. Por ano, são produzidas aqui aproximadamente 100 mil toneladas de nióbio, uma pequena fração das estimadas 842 milhões de toneladas que existem em solo brasileiro e cujo valor total pode chegar a US$ 22 trilhões – duas vezes o PIB da China.

Ao ritmo de exploração do momento, seriam necessários mais de 8.400 anos para que as reservas nacionais de nióbio chegassem ao fim, e mesmo diante da possibilidade remota de aumento considerável de produção, os lucros não seriam tão atrativos. Tão entusiasta do nióbio quanto Bolsonaro, e talvez o maior inspirador do presidente nessa área, o ex-deputado federal por São Paulo e eterno candidato à Presidência Enéas Carneiro defendia a manutenção de um monopólio nacional de exploração do metal. Era, para ele, uma questão de “salvação”. Curiosamente, apesar de seu nacionalismo quase de caricatura, o homem do bordão “meu nome é Enéas” não se entendia com a turma do “petróleo é nosso”. De Monteiro Lobato até os dias de hoje, o petróleo encontra defensores apaixonados, mas Carneiro sempre enxergou mais potencial no nióbio.

Especialistas não dão ao nióbio esse estatuto de panaceia para os males brasileiros. O metal é, sim, muito valioso, como prova o patrimônio somado dos Moreira Salles. Mas ele está longe de ganhar a importância que o “ouro negro” segue tendo, mesmo que de maneira declinante, na geopolítica mundial.

O SR. NIÓBIO

A CBMM não teria se transformado na potência que é hoje sem a dedicação de José Alberto de Camargo, que durante 30 anos foi quem deu as cartas na joia da coroa dos Moreira Salles. Executivo chegado a algumas excentricidades, como a de manter um leão no escritório da companhia em Araxá – o animal serviria para encantar clientes e investidores em potencial –, Camargo fez de uma empresa de porte médio a líder de seu setor. Ele abriu frentes de negócios em 40 países – entre eles a então União Soviética e a China, mercados que desbravou no auge do socialismo real. Aposentado desde 2006, ele contou suas experiências num livro lançado no ano seguinte e devidamente intitulado Memórias de um Vendedor de Nióbio. Na obra, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, outro entusiasta do nióbio, é só elogios a Camargo: “Uma das coisas boas que aconteceram em minha vida”. Os dois se conhecem desde a época da fundação do Instituto da Cidadania (que daria lugar mais tarde ao Instituto Lula) nos anos 1990, instituição que teve vários de seus projetos sociais apoiados pela CBMM.

VOCÊ TAMBÉM PODE GOSTAR

Gisele e o boom das propriedades equestres de luxo

Gisele e o boom das propriedades equestres de luxo

Esse artigo explora a crescente tendência no mercado imobiliário de luxo de valorização de propriedades com instalações equestres de alta qualidade. Utilizando o exemplo recente de Gisele Bündchen, que investiu milhões em um château na Flórida, GLMRM ilustra como essas instalações se tornaram mais do que um mero “extra”. Elas agora são consideradas investimentos inteligentes, especialmente em tempos de incerteza econômica, e representam um estilo de vida exclusivo que atrai a elite financeira global.

Instagram

Twitter