por Flávio Gikovate
O travesti é um personagem intrigante que interessa principalmente a um bom
número de homens heterossexuais. Nascidos meninos, desde cedo se identificam com
o gênero feminino e, ao crescer, transformam seu corpo (afora os genitais) com o
intuito de parecerem mulheres.
São extravagantes no vestir, despertando o desejo visual masculino com uma
ousadia que falta à grande maioria das mulheres. Diferem dos transexuais que
querem efetivamente assumir a condição feminina. O travesti quer parecer mulher
mas não quer ser.
É constrangedor para a maioria dos homens sentir desejo por eles (elas?)
mas sentem; muitos se iludem dizendo que não perceberam a diferença. Sentir
desejo por um homem é ser homossexual e este “fantasma” continua a espantar a
quase todos. O constrangimento se atenua porque o travesti desperta o desejo
justamente por suas características femininas (adquiridas de forma artificial e
bastante trabalhosa), de modo que alguns se atrevem a chegar perto deles.
Pode parecer inesperado, mas o fato é que um bom número de homens se aproxima
dos travestis justamente por serem “falsas mulheres”, por possuírem o pênis. No
início assumem o papel ativo no ato sexual mas aos poucos vão ganhando coragem
de se aproximar do pênis e mesmo de serem penetrados.
O prazer experimentado leva muitos a um estado de alarme, pois este tipo de
gozo é interditado aos heterossexuais: onde já se viu sentir excitação táctil
por força da estimulação anal? Que dizer então da penetração anal?
A verdade é que as sensações masculinas relacionadas com a região anal
parecem ser mais fortes do que aquelas sentidas pelas mulheres.
Arrisco aqui uma hipótese para explicar o gosto pelos travestis: a vergonha,
a culpa e os temores da homossexualidade se atenuam muito porque eles estão se
relacionando não com homens de verdade mas com “quase mulheres” que despertam
neles forte desejo visual (típico do contexto heterossexual). O tema é complexo.
Voltarei a ele na próxima coluna.