Renato Janine Ribeiro, professor titular de Ética e Filosofia Política na USP
– na qual se doutorou após defender mestrado na Sorbonne -, é uma referência nos
estudos da democracia e da cultura política brasileira, entre outras questões.
Aqui, num papo rápido e revelador.
Se os políticos brasileiros representassem uma peça, como ela se
chamaria?
Muito barulho por nada, de Shakespeare. Mas essa peça
também poderia ser representada pela imprensa. E por boa parte de nossa
sociedade. Temos um déficit enorme de ação, se comparado com nossa disposição à
fala e mesmo à indignação. Indignar-se é uma paixão brasileira. Fazer alguma
coisa, não.
Intelectual também vê novela?
Claro. Intelectual é gente.
Mas nem sempre assume. Curiosamente, eu, que escrevi sobre várias, hoje vejo
raramente. A última de que gostei, e muito, foi Paraíso Tropical. Talvez porque
rompia com a hipocrisia nacional.
Jamais aceitaria…
Coisas com que todos convivemos,
embora eu as ache insuportáveis e procure evitá-las: a arrogância, a falta de
educação, a vaidade, a prepotência, o desrespeito ao outro. No poder, esses
defeitos aumentam muito, vão ao infinito e além.
Um tabu que mereça ser quebrado…
O da hipocrisia
nacional. Nosso país detesta encarar a realidade. Tem paixão por valores
bonitos. Se estes são inviáveis, então adota a esquizofrenia: profere o valor,
pratica o desvalor, mas escondido. Adora-se a mentira! Deveríamos ver nossa
cara, que não é bonita como fingimos, mas que só há de melhorar se acabarmos com
a hipocrisia nacional.
Uma frase ouvida e nunca esquecida…
Muito cuidado ao
atravessar a rua dita por meu pai, Benedicto Ribeiro (1924-2002), desde quando
eu tinha uns sete anos até muito mais tarde na vida.