A jornalista canadense Isabel Vincent, autora do livro "Gilded Lily: The Making of One of the World’s Wealthiest Women", sobre a trajetória de esplendor e tragédia que marcou a vida da socialite Lily Safra, bateu um papo com Glamurama. Isabel falou sobre o sucesso do livro, que em breve ganhará edições em português e em francês, e sobre a experiência de ter morado no Brasil. Confira:
Lily Safra é uma viúva rica, com uma história de vida impressionante. Mas existem outras socialites com histórias de vida semelhantes. Por que você a escolheu como o tema do seu livro?
"Na verdade, a escolha não foi minha. Quem me procurou para escrever o livro sobre a Lily foi minha editora na Harper Collins. Ela precisava de uma jornalista investigativa. Isso aconteceu em 2005, quando o Dominick Dunne ainda estava publicando matérias sobre a tragédia que resultou na morte de Edmond Safra, em Mônaco, em dezembro de 1999."
Você já escreveu um outro livro envolvendo uma personalidade de destaque do Brasil, lembrando que o seu livro sobre os sequestradores do empresário Abílio Diniz, publicado nos anos 1990, também fez bastante sucesso. Há algo em particular que lhe chama atenção em relação aos brasileiros?
"Também escrevi um livro, em 2005, que foi publicado no Brasil, sobre as polacas – "Bodies and Souls: The Tragic Plight of Three Jewish Women Forced Into Prostitution in the Americas", as mulheres que foram submetidas à prostituição. Elas eram judias e vinham para o Brasil com promessas de casamento entre os anos 1869 e 1939. A pesquisa demorou cinco anos no Brasil e na Argentina. Meu interesse pelo Brasil começou em 1991, quando, aos 25 anos, fui enviada para o Rio para ser a correspondente do jornal ‘Globe and Mail’, o mais importante do Canadá. Passei cinco anos no Brasil, cobrindo toda a América Latina e a África Lusófona. Adorei a experiência e adorei morar no Rio. Morei em Copacabana e, mais tarde, na Urca, mas prefiro a confusão de Copa. Sempre fazia minhas refeições no Caranguejo, na Barata Ribeiro. Nunca me esquecerei das coisas que aprendi com jornalistas brasileiros que cobriram o período de Fernando Collor de Mello. Existem ótimos jornalistas no Brasil."
Lady Colin Campbell publicou, em 2005, um livro que, pelos menos para os assessores de Lily, foi visto como um roman à clef sobre a vida dela, o que resultou em um processo contra a autora. Você sofreu algum tipo de intimidação semelhante?
"Não, nunca sofri intimidação. Mas eu fui muito discreta na pesquisa. Minha editora, a Harper Collins, nunca anunciou que eu estava trabalhando no livro. No início, eu só pensava em recorrer aos documentos públicos. Encontrei muita resistência por parte dos amigos de Lily no Brasil e parentes na Argentina. Quase ninguém quis falar. Era esse medo que eu optei por evitar. Inclusive, todo mundo que trabalhou com os Safras assinou contratos de confidencialidade. Achei várias pessoas que não haviam assinado esses contratos, e falei com eles, mas só em off."
No ano passado, Glamurama publicou uma nota sobre uma paixão não correspondida de Dominick Dunne por Lily. Dominick foi seu amigo e ele chegou a ler seu livro. É verdade que ele considerava Lily uma "personagem enigmática"?
"Sim, ele estava fascinado com a Lily. Ela achava ela uma mulher muito interessante, muito poderosa."
Aproveitando a entrevista, em um artigo seu publicado no site Macleans.ca, você analisa o "surpreendente legado de Lula". Como alguém que viveu no Brasil durante um tempo considerável, vale a pena perguntar: se você fosse brasileira, votaria na Dilma?
"A princípio, eu via o Lula com muita dúvida, porque eu vivi a época do Collor e FHC no Brasil. Eu achava que o Lula não tinha o background para ser presidente. Mas ele virou um grande homem de estado. Não sei se votaria na Dilma… Como jornalista, costumo não votar. Apenas cubro as eleições."
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