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1. No mundo do “faz de conta” da desenfreada especulação financeira existem instituições que deveriam ter colocado um pouco de ordem na folia. Em primeiro lugar os Bancos Centrais que devem velar não apenas pela manutenção do importante bem público que é o valor da moeda mas, também, pela higidez do sistema financeiro. É da própria natureza de um sistema que empresta a prazo maior do que seus depósitos e no qual cada empréstimo cria um depósito, seja sujeito a estresses produzidos por eventos reais ou imaginários. É por isso que os Bancos Centrais têm de fiscalizar de perto as instituições financeiras exigindo-lhes capital suficiente e adequada avaliação do risco dos seus passivos. O sistema está sujeito a “chuvas e trovoadas” mesmo quando obedece às boas regras de precaução. Infelizmente, os Bancos Centrais falharam!

2. A segunda instituição é constituída pelas empresas de “auditoria privada” com fé pública, que devem atestar a completa veracidade dos registros contábeis. As operações fora dos balanços normais, que impliquem no comprometimento do capital, devem ser registradas como “contingentes”. Aquela é, afinal, a primeira trincheira de sustentação dos possíveis prejuízos. Infelizmente, a competência e honestidade de tais empresas sofrem hoje grande descrédito: ajudaram as instituições financeiras a “esconderem” suas responsabilidades contingentes!

3. As terceiras instituições são as famosas empresas de avaliação de risco. Seus modelos revelaram-se de uma incompetência única. Falharam miseravelmente. Agora sua honestidade é contestada, pelos vínculos incestuosos com seus próprios clientes. Estes foram os autores da grande patifaria que colocou o mundo nesta recessão que custou milhões de empregos e levou para abaixo do nível de subsistência outros tantos milhões de cidadãos que através do mundo tentavam ganhar a vida honestamente. Está provado que o que elas vendiam era vento! Estão sempre atrás da curva. Basta ver com que facilidade em menos de cinco meses transformaram papéis, aos quais davam nota AAA, em “junk bonds”, papel sucateado sem nenhum valor!

4. É evidente que as três instituições não foram capazes de honrar o compromisso de manter o sistema financeiro sólido e solvente. É difícil apontar a responsabilidade de cada uma delas na pavorosa crise que estamos vivendo e que ameaça uma recidiva na Eurolândia. Não pode haver dúvida, entretanto, que a maior culpa cabe aos próprios Estados. Com seus Bancos Centrais surfando a prosperidade prevaricaram no seu dever de fiscalizar a higidez do sistema financeiro.

5. Felizmente o Banco Central do Brasil tinha aprendido a lição. O nosso sistema financeiro saiu-se bem da crise.

Por Antonio Delfim Netto

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