1. O “chairman” (o presidente) do Banco Central dos EUA, Ben Bernanke, está passando por um enorme constrangimento. Ao mesmo tempo em que espera a aprovação no Senado para poder exercer seu segundo mandato,está sendo submetido a críticas contundentes da Academia e dos homens “práticos” que constituem o que se chama de “mercado financeiro”.
2. No que respeita à Academia ele pronunciou no dia 03/01/2010, na Sociedade Americana de Economistas, uma imprudente defesa da política monetária do FED. Há 125 anos ela reúne anualmente os principais representantes da profissão. Com enorme malabarismo retórico, Bernanke tentou mostrar que a política de juros baixos por muito tempo, e a maneira descuidada com que o FED tratou o controle das inovações do sistema financeiro nada tiveram a ver com a crise que assolou o mundo em 2009, custou milhões de empregos e aumentou a pobreza em todos os países. O discurso mereceu uma forte contestação do economista J.B.Taylor, criador da famosa fórmula que leva o seu nome e é, aparentemente, observada pela maioria dos bancos centrais do mundo. É evidente que qualquer fórmula é para ser observada, não para ser seguida cegamente, mas os argumentos de Bernanke não adicionaram nenhum suporte teórico ou empírico que justificasse o comportamento do FED.
3. O problema é mesmo controverso. O The Wall Street Journal fez uma “pesquisa “ ouvindo a opinião de 27 economistas “especializados” em política monetária. A pergunta foi “a política monetária excessivamente frouxa do FED na segunda parte da primeira década deste século ajudou a criar uma “bolha” nos preços das habitações?” As respostas foram:SIM para 13(52%) dos entrevistados e NÃO para 12(48%). Como não parece plausível atribuir algum interesse escuso à Academia, o resultado revela apenas a precariedade da “pseudo-ciência” que informa a política monetária dos bancos centrais…
4. A mesma pergunta foi feita a 54 economistas que respondem a uma pesquisa mensal do mesmo jornal e que inclui apenas economistas que trabalham em Wall Street. As respostas foram: 42(78%) SIM e 12 (22%) NÃO! É possível que as respostas do “mercado” tenham um viés que é o interesse de eximir-se da tragédia que provocaram e despejar toda a culpa no próprio Governo, isto é, no FED.
Por Antonio Delfim Netto
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