1. Muitos economistas, inclusive alguns prêmios Nobel, têm criticado o presidente Obama por este não ter produzido uma solução rápida e radical para o grave problema criado com a intervenção (feita no governo Bush) no Banco de Investimento Lehman Brothers. Este era um importante “nó” que sustentava uma imensa rede financeira. Quando ele foi “desfeito” pela intervenção desastrada instalou-se uma falta de confiança que levou ao colapso todo o sistema de crédito mundial, principalmente o crédito “inter-bancário” que o sustentava. Enquanto essa confiança não for restabelecida é pouco provável que a economia mundial volte a funcionar normalmente.
2. Mas qual era a sugestão rápida radical? Simplesmente a estatização dos bancos americanos, a separação da parte “podre” de cada um deles e a venda ao setor privado dos “bons ativos”, ou seja, a posterior re-privatização do sistema… O exemplo histórico sugerido é o chamado “modelo nórdico” que teria sido usado na Suécia, Dinamarca e Finlândia na crise bancária que enfrentaram no início dos anos 90 do século passado. A reação de Obama deve ter dois motivos:1º) uma coisa é a dimensão total das economias daqueles países e o pequeno papel representado pela soma dos seus sistemas bancários na economia mundial. Outra, bem diferente, é a dimensão da economia americana e o papel representado pelo sistema financeiro na economia americana, que poderia arrastá-la (e ao Mundo) para o cáos e 2º) as conseqüências políticas de uma ação mal sucedida que, eventualmente, deixaria o fornecimento de crédito nas mãos do governo. A experiência histórica mostra que o monopólio do crédito pelo Estado é o caminho da destruição do espírito animal do empresário que produz o desenvolvimento: os governos, em geral, não financiam o melhor e mais produtivo projeto, mas o projeto do melhor amigo, não importando a sua produtividade. Como quem controla o crédito, controla a vida do cidadão, isso termina subtraindo-lhe a liberdade…
3. O fato mais curioso à respeito da “solução nórdica” é que pelo menos com relação à Suécia ela é puro mito. Nunca aconteceu! Ali estatizou-se, na verdade, apenas um pequeno banco (o Gota Bank) que tinha pouco mais do que 5% do crédito total. O outro que se pensa que foi “estatizado” (O Nordbanken) era resultado de um “merger” de pequenos bancos públicos regionais que haviam comprado um banco privado (para usar o seu nome) quando entrou na “moda” a grande onda de “privatizações” que dominou boa parte da Europa na era Thatcher…
Antonio Delfim Netto
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- Gotas de Mel e de Fel,