1. Há muita discussão e até algum terrorismo com relação aos problemas climáticos que estão ocorrendo no mundo. Experiências involuntárias produzidas por eventos isolados mostram, entretanto, que o aquecimento global produzirá mesmo efeitos devastadores sobre os indivíduos e sobre a produção de alimentos, a menos que pesquisas agronômicas desenvolvam plantas mais resistentes ao calor e consumam menos água. Nossa memória é curta e já esquecemos que no verão de 2003 na Europa, o calor matou (direta e indiretamente) quase 30.000 pessoas. Na França, onde a temperatura ficou naquele ano 3,6ºC acima da média, a produção de milho e de frutas caiu mais do que 25%. Em compensação, tivemos uma espetacular safra de vinhos! Nos anos 70, uma onda de calor reduziu as colheitas em todo o mundo e produziu grande aumento dos preços dos alimentos que estavam na origem do processo inflacionário daquele período.
2. Os mais recentes modelos climáticos mostram que o problema é menos de seca (falta de chuva) e mais de aumento da temperatura. Eles apontam para um aumento médio da temperatura, na Europa, da magnitude do verificado na França em 2003 e mostraram que o Brasil também será afetado pela variação climática. Isso sugere que o Governo deve fornecer recursos à EMBRAPA para que ela dedique atenção especial ao problema de produzir em tempo hábil variedades mais resistentes ao calor. Não há nenhum projeto de pesquisas no País com uma taxa de retorno superior àquele que poderá ser obtido com o eventual sucesso desse empreendimento. O fantasma malthusiano voltou a rondar a humanidade: o mundo esquenta por causas físicas e naturais somadas à ação do próprio homem. Isso vai reduzir a produção de alimentos per-capita, a não ser que o desenvolvimento tecnológico vença o crescimento da população, como aconteceu a partir dos meados do século XVIII. Mas agora é preciso proteger melhor a mãe Natureza.
3. A discussão entre os criacionistas (os que crêem que a origem da espécie humana está em Adão e Eva) e os evolucionistas que respeitam as evidências do mundo físico e encontram em Darwin uma “explicação” para a sua origem, está se tornando incômoda. Pode-se, perfeitamente, perfilar qualquer crença religiosa sem ter que aceitar como “fato” a história bíblica: são dois universos separados que não devem excluir-se: o religioso e o científico. Já nos basta o enorme atraso no ensino da matemática, da física, da química e da tecnologia que nos coloca numa situação de absoluta desvantagem com relação aos países mais desenvolvidos. Não é necessário insistir no “obscurantismo” biológico. O Brasil está numa situação curiosa: em cada um daqueles campos tem ilhas de excelência reconhecidas universalmente. A tragédia é que elas são cercadas por um imenso mar de ignorância cultivado pelos pescadores de águas turvas e pelo mais incompetente ensino básico controlado por perverso corporativismo.
Por Antonio Delfim Netto
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