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Por Antonio Delfim Netto


1. Caiu a ficha! Os acontecimentos das últimas semanas mostraram que o Brasil é parte da economia mundial e que seu desenvolvimento está ligado a ela. A despeito da expansão do nosso mercado interno devido ao aumento do número de empregados com carteira, do salário real médio, da massa salarial e da ampliação do crédito, o que acontece no Mundo repercute de uma forma ou de outra no Brasil. A crise financeira que se instalou nos EUA e hoje está na Europa e no Japão foi agudizada pela “barbeiragem” do Banco Central e do Tesouro dos EUA quando escolheram a pior forma de liquidar o Lehman Brothers, um banco de investimento imenso e que, como todos os outros, havia feito uma série de patifarias vendendo aos seus clientes “gato por lebre”. Agora a crise financeira é uma ameaça para a economia real…


2. A reação imediata dos mercados foi uma redução ainda mais rápida das cotações em todas as bolsas do Mundo. A nossa BOVESPA está umbilicalmente ligada à de Nova York pela cotação dos papéis das principais empresas brasileiras na forma de ADRs – American Depositary Receipts, criado para que o investidor pudesse comprar papéis estrangeiros dentro dos EUA. Dessa forma ela responde “on time” aos seus movimentos, porque as empresas cotadas em Nova York têm peso dominante no nosso índice. O que é preciso lembrar é que tais flutuações têm pouco a ver com o que se passa na maioria das empresas cotadas apenas na BOVESPA, para as quais o “fundamental”, que é a taxa de retorno sobre o capital, não sofreu até agora alteração sensível, o que sugere a possibilidade de uma recuperação.


3. Estamos enfrentando problemas com o financiamento do setor externo, e temos algumas complicações com empresas exportadoras que se cobriram contra a variação da taxa cambial com um indecente “derivativo-tóxico” “inventado” por bancos de investimento estrangeiros que seduziram tesoureiros imprudentes. A solução de ambos dependerá de uma ação enérgica, tempestiva e justa da autoridade monetária na divisão de custos e benefícios entre os parceiros.


4. Lembremos um fato: o Brasil recebeu o “bônus” da expansão mundial e vai ter um “ônus” com a sua retração. O tamanho do “bônus” já conhecemos e foi imenso. O tamanho do “ônus” vai, numa larga medida, depender da qualidade da nossa política econômica. Quer um conselho? Se você tiver sangue frio e liquidez como o Buffet e o Soros compre. Se não tiver, fique aonde está!

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