Por Antonio Delfim Netto
É surpreendente a quantidade de pessoas que por motivos puramente ideológicos torcem contra o Brasil. Para eles somos, por definição, um fracasso. Lula “não pode” ter dado certo. É ilusão! Como é possível um torneiro mecânico despreparado discursar (e em português, que horror!) na FAO e na ONU e ser ouvido? Tudo o que parece estar dando certo”já existia”. Ele apenas se apropriou das conquistas das maravilhosas administrações anteriores. Mas como, se o Brasil crescia 2,5% ao ano e agora cresce a 5%? É ilusão estatística! Pura sorte, uma “loteria”, presente do mundo! Mas como, se a distribuição de renda continua a melhorar e o cidadão sente que sua oportunidade de progresso melhorou? Isso é apenas propaganda! E, no entanto, neste momento Lula tem o reconhecimento de 4 em cada 5 brasileiros. O que fazer, perguntam-se assustados? Não têm coragem de dizer publicamente. À socapa, nos jantares elegantes, sugerem que só há uma solução: trocar de povo!
Para tais pessimistas a crise internacional será salvação. Não podem dizer que ela foi produzida por Lula, mas quem sabe ela pode ajudar a complicar as coisas no Brasil. E certamente o fará. Cresceremos menos, daremos menos emprego, teremos menos crédito, menos consumo, menos renda, mas nada como aconteceria no passado quando nossa vulnerabilidade externa era imensa (devíamos três anos de exportação) e nossa situação fiscal dependia da taxa de câmbio (uma boa parte da dívida interna era precificada em dólares). Vamos pagar o nosso preço. Não podemos fazer o que dizia um famoso show da Broadway: pare o Mundo que eu vou descer!
A grande conquista do segundo mandato de Lula (e ele nunca pensou no terceiro. Isto é coisa para intelectual!) foi ter acordado o “espírito animal” dos nossos empresários com o Programa de Aceleração do Crescimento, o PAC. O desenvolvimento econômico é um estado de espírito apoiado em condições objetivas. O nosso está aceso e podemos mantê-lo se entendermos que ele depende muito mais de nós mesmos, do nosso mercado interno, do que das facilidades externas. Não vamos crescer 5% em 2009, mas não vamos, também, crescer 2,5% como era o costume. Precisamos de uma política econômica realista, que controle as expectativas inflacionárias porque a estabilidade é fundamental para o desenvolvimento com justiça social, mas que não mate o “espírito animal” que produz os investimentos.