Por Antonio Delfim Netto
No Brasil temos o péssimo hábito de banalizar tudo. Não há uma semana em que
não se encontre pelo menos um fato histórico. Agora estamos diante de um
verdadeiro. A revelação que o petróleo do pré-sal existe; que o montante da
reserva ainda não pode ser estimado com precisão, mas é suficientemente grande
para nos colocar no quadro das dez maiores do mundo e que o óleo é mais leve do
que o que temos encontrado no Brasil. Há dois pequenos problemas. Um técnico:
ele se encontra a 6.000 metros de profundidade e a mais ou menos 200 quilômetros
da costa, problema que a Petrobrás e muitas outras empresas do ramo já
resolveram. Outro financeiro: as estimativas preliminares mostram que para
extraí-lo é preciso, primeiro, investir qualquer coisa parecida com 1/3 do PIB
brasileiro atual, que nem o Governo nem a Petrobrás podem resolver sem a
colaboração do capital nacional e estrangeiro.
Esses são problemas menores. O verdadeiro problema é político. Envolve o
futuro da própria sociedade brasileira que precisa decidir: 1º) como vai
utilizar essa riqueza em benefício do bem estar de toda a geração presente (não
apenas a de alguns Estados e Municípios) e 2º) como vai distribuí-la,
equanimente, com as gerações futuras. Como somos uma economia comercialmente
aberta e seremos 240 milhões de brasileiros em 2030 e teremos de dar emprego
decente a 140 milhões deles, a solução deve envolver ainda, o cuidado de manter
uma taxa de câmbio competitiva que assegure a prosperidade do setor real da
economia: a agricultura, a indústria (inclusive do petróleo) e os serviços. É um
problema e tanto…
Como disse o presidente Lula, o petróleo do pré-sal é nosso. Assim tem
sido, aliás, todo o petróleo extraído pela Petrobrás e pelo capital nacional e
estrangeiro envolvido que paga os tributos exigidos pela legislação brasileira.
Na solução do problema é preciso manter o pragmatismo do velho Deng
Xiaoping quando disse não interessa a cor do gato, o que interessa é que ele
cace os ratos
É de justiça lembrar que o pré-sal só é nosso porque a premonição e ousadia
do governo Médici estendeu o mar territorial brasileiro até 200 milhas (320
quilômetros) da costa e o viu reconhecido (com cara feia) por alguns paises
amigos. Um grande socialista (que hoje é pensionista!) achou na ocasião que
aquela decisão era apenas mais uma demonstração de arrogância do militarismo
imperial! Sem isso, nosso pré-sal seria protegido pela IV Frota dos
EUA…