Gringo mais querido do Brasil, o chef francês Claude Troisgros se prepara para estrear um reality na Globo – sempre acompanhado de seu fiel Batista – e posa para estas “marravilhas” de fotos alegres, que casam bem com sua filosofia profissional: “Comida é felicidade!”
Por Fábio Dutra / Fotos: Pedro Dimitrow / Styling: Cuca Ellias
“Eu tô ou não tô a cara do deputado do A Praça É Nossa?!”, pergunta Batista, o fiel escudeiro do chef Claude Troisgros na vida e na televisão, para arrancar gargalhadas generalizadas antes de começar a posar para as saborosíssimas fotos deste ensaio. Troisgros, o mais carioca dos franceses – para usar o clichê, extremamente preciso neste caso –, abandonou a Roanne natal e a trajetória, digamos, mais linear à frente do restaurante que leva o nome de sua família e enverga as pesadas três estrelas Michelin desde os anos 1960, para vir tentar a sorte no Rio na década seguinte. Enganaram-se os que apostaram que sua carreira iria azedar ou passar do ponto: ele fez foi bonito ao usar o melhor da técnica francesa tradicional e uni-la ao mais inusitado da variedade de ingredientes tropicais. Combinação que levou a Nova York nos anos 1990, onde foi sucesso absoluto de crítica e provou para si mesmo e para quem mais duvidasse que tinha tamanho na gastronomia internacional. Foi no Olympe, restaurante que leva o nome de sua mãe, no Rio de Janeiro, que ele propôs a Marluce Dias, então diretora da Globo e habituée da casa, levar à tevê fechada um programa de culinária gravado lá mesmo. Ela gostou e ele estreou no GNT, com sucesso imediato.
Os chamados a “Batiste”, com forte sotaque francês, ganharam o público, que passou a pedir que o assistente participasse mais ativamente das gravações. Deu certo, e a dupla, depois de anos fazendo sucesso a cabo, terá um programa para chamar de seu na vênus platinada: Mestre do Sabor estreia em outubro num formato reality que terá, na primeira temporada, a participação dos chefs Leo Paixão, do belo-horizontino Glouton, Kátia Barbosa, do Aconchego Carioca, e o lisboeta José Avillez, fenômeno europeu recente. Todos focados em comida de verdade, que fala à alma: “Aprendi com o Paul Bocuse [um dos fundadores da nouvelle cuisine française ao lado de nomes como Pierre e Jean Troisgros, pai e tio de Claude, respectivamente]: a comida pode ser extremamente criativa e continuar sendo uma porcaria!”, ri o chef mais querido da tevê.
As coisas pra valer são mesmo a linha de alguém que viaja o Brasil de motocicleta todo ano para conhecer o sertão do país dormindo na casa das pessoas e aprendendo sua maneira de viver e de cozinhar, que diz que o enochato cheio de regrinhas é o pior tipo de cliente e que julga seu melhor restaurante o Chez Claude, casa carioca que não tem divisórias entre fogão e mesas, com 30 lugares e “comida na panela no centro da mesa pra compartilhar”. “Comida é felicidade!”, não cansa de repetir. Alguém assim, claro, gosta mesmo é de uma boa história. E é assim, com um causo desses de matar de rir o piadista Batista, que ele explica que seu sotaque não tem nada de forçado (e que quando ele está agitado ninguém em volta o entende): “Uma vez minha mulher foi a um médico que não sabia da nossa relação e o papo enveredou por televisão; o cara disse, com a maior certeza do mundo: ‘Sabe aquele cozinheiro que puxa os erres? É amigo de um amigo que me contou que quando desligam as câmeras ele fala normal!’”, diverte-se – rasgando bastante os erres, bien sûr. A jovialidade de Troisgros também chama a atenção: aos 63 anos, em meio a um quadro nacional tão conturbado econômica e politicamente – “acho um momento importante e delicado para o país, mas passageiro” –, ele emprega 400 pessoas, está pensando em abrir um restaurante em São Paulo e acaba de lançar uma linha de biscoitos de polvilho gourmet, uma espécie de biscoito Globo nos sabores curry, chocolate e pecorino a R$ 5. Deve ser pra homenagear a nova emissora.
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