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Antonio Delfim Netto


1. O Brasil é um país sem memória. Como disse com graça e sabedoria o ilustre
ministro Pedro Malan, aqui até o passado é incerto. Pois bem, a Federação das
Indústrias do Estado de São Paulo, sob a presidência de Paulo Skaf promoveu um
seminário para lembrar uma célebre e importante polêmica estabelecida entre dois
grandes brasileiros. Em 1944 dois competentes engenheiros e economistas
auto-didatas, Roberto Cochrane Simonsen (1889-1948) e Eugenio Gudin (1886-1986)
iniciaram um sério debate sobre se o desenvolvimento econômico do Brasil deveria
apoiar-se num Estado-Indutor (Simonsen) ou numa organização puramente liberal:
que o traria por gravidade (Gudin) . Sessenta e cinco anos depois a disputa não
foi resolvida. E, o que é pior, nenhum deles deixou defensores com a mesma
seriedade e qualidade…


2. Como temos insistido nesta coluna, o regime de economia de mercado
(imprecisamente chamado de “capitalismo” trouxe em dois séculos o homem da Idade
da Pedra à Idade da Informática. Mas ele contem em si uma tendência à flutuação
(as crises). São sempre de origem e profundidade diferentes e delas ele sempre
sai fortalecido. No Brasil estamos hoje um pouco melhor do que estivemos no
passado para enfrentá-las. Certamente é um erro pensar que estamos vacinados
contra ela. Tivemos nos últimos anos o “bunus” de integrar um mundo em
desenvolvimento acelerado (sem aproveitá-lo inteiramente) e teremos o “onus” da
redução do seu crescimento. Mas é preciso evitar o “pânico” e entender que o
crescimento de 2009 não está escrito nas estrelas ou no de 2008. O ano de 2009
será o que soubermos fazer dele com nossas condições objetivas, nossa
inteligência e nossa ousadia. É preciso encarar a crise com relativismo
histórico: ela não é o fim do “capitalismo”, mas outro aperfeiçoamento. Ela
contém em si, para quem tem  liquidez e sangue frio, novas
oportunidades.


3. A continuidade de boas políticas econômicas (aquelas que combinam um
aumento da igualdade de oportunidades com uma aceleração do crescimento) depende
de sua aprovação nas urnas. A desigualdade no ponto de chegada por mais
desagradável que seja, é moralmente aceitável quando há igualdade no ponto de
partida. Os homens  são naturalmente desiguais e o resultado de seu esforço
ao longo da vida serão sempre desiguais. O que é importante é que no processo
competitivo (que se produz no mercado) a corrida seja justa, isto é, que o
desempenho não dependa da origem (do lar, da religião, da cor,etc.) do cidadão.
É exatamente a redução da desigualdade na “origem” que tem sido buscada com
algum sucesso pela atual política social do Governo.

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