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1. A crise que estamos vivendo no Brasil foi importada através de dois canais, o financeiro e o do comércio exterior. Quando se reconheceu (nos EUA e na Europa) que não haveria retorno dos financiamentos de residência para quem não tinha renda suficiente para pagá-los, destruiu-se a enorme pirâmide de crédito que havia sido construída sobre as hipotecas que garantiam os empréstimos. Tratava-se, inicialmente, de uma idéia generosa, dar casa própria às classes menos favorecidas (nos EUA, os afro-descendentes e os latino-americanos), que foi levada ao paroxismo. Durou enquanto o preço das casas subia e o crédito farto e duvidoso crescia graças às invenções de novos “produtos” financeiros a que se deu o nome de “derivativos”. Numa única manhã todo o império bancário que havia financiado esse movimento acordou falido. Os preços das casas caíram e as hipotecas deixaram de ser honradas, arrastando-o para a insolvência. Um sistema financeiro “apodrecido” havia encontrado a “morte súbita”. No Brasil, ao contrário, o sistema bancário havia adquirido higidez a partir do PROER de março de 1977. Isso não impediu que ele, por prevenção, reduzisse dramaticamente suas linhas de crédito, o que causou o “pânico” que paralisou o crédito inter-bancário e, com ele, o “circuito econômico”. Hoje, quase oito meses depois, o Banco Central está terminando a sua tarefa de dar “conforto” ao sistema bancário nacional. Este é o primeiro passo para restabelecer o crédito inter-bancário e, com ele, o circuito econômico. Se o Banco Central for bem sucedido, talvez se acenda uma pequena luz no fim do túnel.

2. Quanto ao canal do comércio exterior, o efeito final dependerá não apenas das quantidades exportadas e importadas mas, também, do que se chama a “relação de troca”: o quociente entre os preços das exportações e das importações. Grosseiramente ele mede quantas “toneladas” de importação pagam uma “tonelada” de exportação e tem um efeito decisivo sobre o crescimento real do PIB. Restabelecido o financiamento do setor (o que parece estar acontecendo), o sistema de câmbio flutuante minimizará seus efeitos sobre a economia real. Aqui, também, surgem alguns sinais promissores.

3. Com isso esgotou-se o papel clássico da política monetária. Só lhe resta agora reduzir a taxa Selic e providenciar formas mais diretas de financiamento do setor privado. Enquanto seus efeitos não regularizarem o crédito inter-bancário para restabelecer o “circuito econômico”, a taxa de crescimento do PIB dependerá dos investimentos públicos. É por isso que é fundamental financiá-los adequadamente: 1º) com a redução da taxa Selic, 2º) com um superavit primário menor mas capaz de continuar a reduzir a relação Dívida/PIB e 3º) com o diferimento dos gastos de custeio e transferências do Governo.

Por Antonio Delfim Netto

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