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1. As instituições governamentais e privadas (Bancos Centrais, Comissões de Valores Mobiliários, auditorias privadas e agências de classificação de risco) falharam miseravelmente no atendimento ao que delas se esperava: a vigilância capaz de garantir a estabilidade, a liquidez e a honestidade do sistema financeiro.Essa disfunção coletiva permitiu a criação de novos complexos instrumentos financeiros que confundiam até os “profissionais” do setor e que terminaram num desastre coletivo.

2. Nesse desastre os sinistrados fomos todos, menos os autores da façanha. Devido à importância da intermediação financeira no processo produtivo, os Estados Soberanos foram obrigados a transformar-se em salvadores. Quem está pagando o custo desse comportamento imoral? Todos os cidadãos do Mundo que amargaram (menos eles!) uma queda do PIB mundial da ordem de 5% e terão de suprir recursos para seus governos cobrirem déficits fiscais (para salvá-los!) da ordem de 3%. O custo mais trágico desse desastre foi o desemprego de mais de 20 milhões de trabalhadores espalhados pelo Mundo, que estavam ganhando a vida honestamente e que vão custar a serem reabsorvidos.

3. A situação é muito grave. Há menos de dois anos as agências públicas/privadas “juravam” acreditar num “mercado financeiro perfeito”, capaz de auto regular-se e obedecer normas éticas razoavelmente civilizadas. Hoje apresentam toda sorte de desculpas e até algumas confissões de “arrependimento” por terem levado a sério essa mitologia enquanto surfavam na aparente prosperidade que embalava o Mundo.

4. O problema é que a tragédia ainda não é totalmente conhecida. Na medida em que a realidade vai sendo exposta pelas próprias agências governamentais e privadas, agora envergonhadas, vai sendo descoberta toda uma trama de absoluta imoralidade. Verdadeiros assaltos ao patrimônio dos poupadores honestos (e incautos!) num jogo com roleta viciada entre “profissionais”. Dessa tentação não escaparam nem Estados Soberanos…

5. Ao analisar um caso concreto de suspeita de graves fraudes produzidas por uma das maiores e mais prósperas “corretoras de negócios”, o Sr.Robert Khuzami, diretor da Security Exchange Comission (SEC) (mais ou menos equivalente à nossa Comissão de Valores Mobiliários, CVM) resumiu primorosamente a patifaria: “O produto era novo e complexo, mas a fraude e os conflitos são velhos e simples”.

Por Antonio Delfim Netto

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