De uma empresa cujo principal objetivo é a exploração do turismo espacial (a Blue Origin) a uma outra que está construindo dentro de uma caverna no Texas, nos Estados Unidos, um relógio projetado para durar 10 mil anos sabe-se lá porque, os tentáculos da Amazon fora do segmento que a tornou uma empresa mundialmente famosa – o comércio eletrônico – se tornaram tão grandes que chegam a fazer jus ao nome com o qual a gigante americana quase foi batizada em 1994, quando foi fundada por Jeff Bezos: “Relentless”, que se traduz basicamente como “Implacável”.
Desde sempre um megalomaníaco, o agora homem mais rico do mundo tratava nos bastidores seus planos de criar uma rede de varejo virtual nos primórdios da internet como “Cadabra”, mas achou que seria melhor chamá-la de algo mais sério nas apresentações oficiais e que ao mesmo tempo proporcionasse a seus interlocutores aquilo que realmente tinha em mente, visto por muitos deles como coisa de gente maluca.
Meros 24 anos depois, o resultado é uma multinacional cujas bases mundiais equivalem a 38 Pentágonos, lembrando que o órgão responsável pela defesa dos EUA tem sedes administrativas oficiais e secretas em praticamente todos os lugares importantes do planeta. Aliás, quem digitar Relentless.com nos navegadores da rede será redirecionado para o site da Amazon, já que Bezos nunca abriu mão de ter o endereço virtual registrado como seu.
Mas, afinal, o quão grande é a Amazon – que tentará finalmente conquistar o Brasil em 2019 – e até onde se estendem os interesses da companhia que chegou a valer US$ 1 trilhão (R$ 3,93 trilhões) na bolsa em setembro e deixou varejistas tradicionais como o Walmart comendo poeira? Glamurama foi atrás das respostas para esse enigma, é só continuar lendo pra saber o que a gente descobriu… (Por Anderson Antunes)
Um exército de “Amazonians”
Os colaboradores da Amazon são chamados de “Amazonians”, e existem mais de 613 mil deles ao redor do planeta. Isso porque a empresa faz questão de estar presente em todas as etapas das indústrias em que atua, ao contrário da grande maioria de suas concorrentes no universo do e-commerce, que preferem a terceirização. Trabalhar na Amazon, no entanto, está longe de ser um dos jobs mais recompensadores sob o ponto de vista econômico, já que o salário médio oferecido aos funcionários da “loja onde se pode comprar de tudo” gira em torno de US$ 28 mil (R$ 110,1 mil) por ano, uma pechincha no mundo das grandes da tecnologia. Para efeito de comparação, a remuneração média para aqueles que dão expediente no Facebook é de US$ 240 mil (R$ 943,4 mil) anuais.
O lucro está nas nuvens
Acredite se quiser, mas o grosso do lucro da Amazon não está nos livros ou carros que esta vende na web, mas no sim no serviço de armazenamento em nuvem Amazon We Services (AWS). Criado há 12 anos, o AWS respondeu por US$ 2,1 bilhões (R$ 8,2 bilhões) dos US$ 3,7 bilhões (R$ 14,5 bilhões) que a empresa teve no terceiro trimestre de 2018. De qualquer forma, o grossa dessa grana é usado para subsidiar sobretudo as etapas de entrega dos produtos comercializados pela Amazon, o que tem tornado a vida dos concorrentes de Bezos em um verdadeiro salve-se quem puder.
Comprar para crescer
Boa parte do dinheiro também é empregada na compra de concorrentes, muitas vezes de carne e osso. Só editoras de livros a Amazon tem mais de vinte, além de redes de livrarias e de players do varejo tradicional. No caso desse último grupo, a grande aquisição da gigante americana foi a rede de supermercados natureba Whole Foods, arrematada por Bezos em junho de 2017 por US$ 13,7 bilhões (R$ 53,8 bilhões). Todos os grandes especialistas em análise de mercado concordam que o bilionário vai dar mais ênfase a essa “shop therapy” em 2019.
Multimídia em todos os sentidos
Você falou mídia? Sim, a Amazon também tem negócios nessa área desde 1998, quando comprou o site de entretenimento IMDb (Internet Movie Database). Nos anos seguintes foi a vez do Alexa, uma espécie de ibope da internet que nada tem a ver com a assistente doméstica virtual de mesmo nome, o Withoutabox (que reúne as produções de concorrentes em festivais de cinema), o Box Office Mojo (que faz tracking das bilheterias internacionais), o desenvolver de videogames Double Helix e o site de live streaming Twitch. Frise-se que o “The Washington Post” foi comprado pessoalmente por Bezos em 2013, por US$ 250 milhões (R$ 982,7 milhões), através da holding Nash.
Te cuida, Netflix!
A Amazon também compete de igual pra igual com a líder mundial em streaming, com seu Amazon Studios. Atualmente com 26 milhões de assinantes só nos EUA, o serviço é um dos que mais crescem em seu meio e também um dos que mais investem em novas produções. Só os direitos globais televisivos da saga “O Senhor dos Anéis”, que vai ser lançada provavelmente em 2020 como webseries, custaram US$ 250 milhões (R$ 982,7 milhões).
Prevenir é o melhor remédio
Nove a cada dez frequentadores do Vale do Silício são categóricos quando afirmam que a próxima grande invenção tecnológica estará ligada de alguma forma à saúde. E a Amazon, claro, também aposta nisso. Nesse quesito, Bezos tem no forno um plano de saúde revolucionário que terá ares de “Minority Report”, com avisos sobre doenças que seus eventuais clientes nem imaginam que vão ter. E como eles precisarão de medicamentos para se tratarem, a Amazon comprou em junho a farmácia virtual PillPack por US$ 1 bilhão (R$ 3,93 bilhões).
Do Planeta Azul para o universo
Talvez a iniciativa “além da Amazon” mais conhecida de Bezos, a companhia de aviação espacial Blue Origin (em português, Origem Azul, em alusão ao planeta Terra), investe pesado na ideia de que a colonização do espaço e as viagens fora da órbita terrestre estão logo ali. Outro projeto ambicioso da empresa é recuperar os motores do foguete Apollo F-1 que estão no fundo do Oceano Atlântico desde os anos 1970. Pra quê? Quand0 se tem US$ 122,2 bilhões (R$ 480,4 bilhões) na conta, essas perguntas perdem o sentido.
O Relógio de 10,000 Anos
Fincado nas cavernas de uma montanha na parte oeste do Texas, o “10,000 Year Clock”, também conhecido como “Clock of the Long Now” é uma engenhoca gigantesca concebida pelo inventor americano Danny Hillis em 1986 que está sendo financiada pelo Bezos Expeditions, uma holding de investimentos travestida de centro de pesquisas tecnológicas que Bezos criou para tirar coisas do tipo do papel. A brincadeira custou mais de US$ 42 milhões (R$ 165,1 milhões) até agora, e quando concluída servirá para mostrar às futuras gerações que não existe tempo para se pensar grande, como o bilionário explicou certa vez.