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Francois-Henri Pinault
François-Henri Pinault || Crédito: Getty Images

Um típico ‘lobo de Wall Street à francesa’, François-Henri Pinault adora aparecer – mas não sempre e muito menos em qualquer lugar. O CEO do Kering, que começou a carreira em meados da década de 1980 na meca do capitalismo, em Nova York, se viu vencido pela burocracia da França, da qual nem os muito ricos como ele escapam, só pela pressa de evitar que as iniciais de seu nome incorporadas ao número de matrícula de um dos aviões privativos que mais usava continuassem visíveis para os temidos ‘caçadores de jatinhos’ que têm bombado no Instagram e no X.

Embora não se trate de nenhuma nova categoria ‘à la Occupy…’ de algum endereço famoso, aqui a questão é diferente. Esses ocupantes virtuais são pessoas que têm usado, cada vez com mais frequência, as redes sociais com o objetivo singular de observar as decolagens e pousos de jatos executivos, os quais são usados por celebridades e figuras poderosas em suas viagens e deslocamentos. O objetivo? Calcular suas respectivas pegadas de carbono e expô-los como poluidores do planeta.

Em geral, identificações desses viajantes exclusivos raramente ficam aparentes a ponto de tornar esse tipo de rastreio tão fácil – o que não foi o caso de Pinault. Descoberto por essa turma que vive em sua cola, justamente pelos ‘F’ e ‘S’ do registro de um Global 6000 da Bombardier que comprou anos atrás, ele preferiu vender o brinquedo aéreo a fim de remover o quanto antes possível as letrinhas pintadas em sua cauda.

Combinada com um número, a identificação é o equivalente a uma placa de carro no mundo da aviação. Também conhecida como ‘tail number’, tê-la em mãos é o suficiente para buscar uma aeronave através de aplicativos específicos para esse tipo de rastreamento, e que existem aos montes por aí. Também não é nada ilegal, razão pela qual tal prática virou tendência na indústria de protestos online.

Apesar de entregue pela vaidade, o capricho de Pinault com suas consoantes nominais sequer é uma exceção. Praticamente um hábito comum de bilionários e os que já estão na lista para entrar no clube dos dez dígitos, tal personificação sutil da própria identidade na fuselagem de um avião é normal. E, dado que os que fazem isso obviamente devem ser os donos desses aviões, vários deles andam sendo traídos do mesmo jeito que o francês teria sido.

Pinault só não viveu esse desfecho porque, quando descobriu o risco disso, entre atualizar o tail number do Global 6000 (o que levaria semanas) e simplesmente vendê-lo ‘off-market’ (bem mais rápido), acabaria com o perigo em questão dias – o que, de fato, se deu, em uma transação que lhe rendeu €21,4 milhões (R$ 114,3 milhões). Praticamente ao mesmo tempo, o marido de Salma Hayek comprou um Global Jet 7500.

Também da mesma fabricante canadense Global 6000, o Jet 7500 é um dos modelos de jatos executivos mais modernos do mercado. E dos mais caros: Pinault desembolsou €55,2 milhões (R$ 294,8 bilhões) por seu Jet 7500, já devidamente matriculado e sem inicial alguma que indique quem é seu proprietário. Tudo isso consta em um balanço da Artémis, a holding da família Pinault usada para exercer sua participação de 42% no Kering e em outras empresas.

O legado e o poder: A Dinâmica familiar dos Pinault

Como comandante do Kering, Pinault está à frente do conglomerado desde 2005. O império é propriedade de seu pai – François Pinault, de 87 anos e cuja fortuna é estimada em US$ 30,5 bilhões (R$ 159,9 bilhões) – enquanto seus dois irmãos – a primogênita, Laurence Pinault, de 62 anos; e o caçula, Dominique Pinault, de 59 – fazem parte do conselho da Artémis. Poucas pessoas realmente conhecem esses dois, que se mantêm afastados dos holofotes da mídia. Eles não aparecem em nenhuma foto ou artigo, e por alguma razão também são os dois filhos Pinault que não participam das decisões sobre os negócios do clã.

Na família Pinault, que domina uma parte significativa da indústria do luxo francesa, a ascensão do filho do meio, François-Henri, de 61 anos, aconteceu de forma gradual e sempre de acordo com os desejos do patriarca. Seus três herdeiros se tornaram acionistas da Artémis por meio de doação nos anos 90, mas suas ações lhes conferem diferentes níveis de poder dentro da empresa. Enquanto as ações de François-Henri o garantem direitos de voto, as de Laurence e Dominique, sem direito a voto, restringem drasticamente sua influência nas decisões corporativas.

No mês passado, a Artémis adquiriu uma participação majoritária na agência de talentos e esportes sediada em Los Angeles, Creative Artists Agency (CAA), da empresa de private equity americana TPG. Os termos financeiros não foram divulgados, mas o negócio teria avaliado a CAA em US$ 7 bilhões (R$ 35,6 bilhões), incluindo dívidas. Antes da aquisição, os ativos consolidados da Artémis ultrapassavam €40 bilhões (R$ 231,6 bilhões).

A disputa de titãs no estádio do luxo: Estratégias e rivalidades em campo

Desafeto de longa data de Pinault, o rei do luxo Bernard Arnault não teve a mesma sorte. Em outubro do ano passado, o CEO de maior acionista do LVMH foi exposto pelos ‘caçadores de jatinhos’ também depois que suas iniciais foram identificadas em seu avião particular. Acusado de ser “hipócrita”, uma vez que defende causas como a sustentabilidade na moda e afins publicamente, o segundo homem mais rico do mundo também cortou na própria carne.

Temendo um efeito em escala que tornasse a polêmica uma ameaça à sua imagem, Arnault também vendeu seu jatinho rapidamente nos bastidores e se tornou cliente da VistaJet, uma das maiores operadoras privativos da Europa, que adota o sistema de propriedade compartilhada. Parece não combinar muito bem com a fortuna do rei do luxo, na casa dos US$ 172,2 bilhões (R$ 874,8 bilhões), mas serviu para omitir suas emissões de CO2.

O apreço de Pinault e Arnault pela discrição ao voar a bordo de jatos particulares pode muito bem ser a única coisa que os une. Rivais históricos, há mais de duas décadas os dois reis da indústria do luxo selaram um pacto de não-agressão que estabeleceu certos limites entre eles e seus interesses financeiros. Em suma, foi acordado até onde um poderia ir sem invadir o domínio do outro.

O acordo não oficial, no entanto, foi rompido por Pinault em 1999, quando a Kering (ainda conhecida na época como Pinault-Printemps-Redoute) adquiriu o controle da Gucci e suas subsidiárias por US$ 3 bilhões (R$ 15,2 bilhões), iniciando uma longa e polêmica batalha com o rival, que também tinha interesse na casa de moda italiana. A aquisição elevou o Kering ao segundo lugar no segmento global de luxo, com a LVMH de Arnault no topo.

A abordagem agressiva do Kering teve um impacto significativo, especialmente quando Arnault acreditava ser o único jogador dominante no campo. Esse ato ousado, de entrar em um jogo que passou a ser majoritariamente disputado por apenas dois jogadores e tomar o Grupo Gucci das mãos do LVMH, os transformou em nêmeses. Tal rivalidade tem dificultado a entrada de novos competidores atentos no cenário. Com as ações de luxo da Europa em queda livre, Pinault e Arnault talvez tenham que considerar um novo acordo de cavalheiros – dessa vez como um time, dentro e fora do gramado.

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