1ª brasileira em lista da Forbes, Xuxa figurou acima de Mel Gibson e criador de ‘Os Simpsons’

Primeira brasileira e latino-americana incluída na “Top 40”, uma lista com os artistas mais bem pagos de cada ano publicada entre 1987 e 1998 pela “Forbes”, Xuxa Meneghel entrou no ranking na edição de 1991, aos 27 anos. Estabelecida como a maior celebridade do Brasil, Xuxa dominava as manhãs da Globo com o icônico “Xou da Xuxa”, e àquela altura também era destaque em telinhas fora do país com seus programas internacionais “El Show de Xuxa” (assistido diariamente por 25 milhões de telespectadores em 16 países latino-americanos), e “Xuxa Park”, produzido exclusivamente para a Espanha, onde abocanhava 50% da audiência do horário em que era exibido. Recém-saída do arrasa-quarteirão estrondoso que foi “Lua de Cristal”, lançado nos cinemas no inverno anterior e filme brasileiro de maior bilheteria na década de 1990, a loira ainda faturava alto com produtos licenciados com seu nome e discos que batiam recordes de vendas. Sem falar no cachê por show que ela cobrava, a bagatela de US$ 100 mil (R$ 480 mil) – ou cerca de US$ 224 mil (R$ 1,1 milhão) em valores corrigidos pela inflação. De longe, ora o mais alto do mercado artístico nacional na época.

Pelas contas da “Forbes”, nos 12 meses encerrados em setembro de seu 1991 triunfante, Xuxa acumulou vencimentos de US$ 19 milhões (US$ 42,6 milhões atuais, ou R$ 204,5 milhões), a 37ª maior renda no período entre os 40 famosos do levantamento daquele ano. Abaixo dela figuraram Mel Gibson, Matt Groening (o criador de “Os Simpsons”), e o rapper Vanilla Ice. Descrita pela revista americana como “uma espécie de Madonna sul-americana misturada com Pee-wee Herman”, em referência ao personagem infantil dos anos 1980 criado pelo comediante e apresentador americano Paul Reubens – morto na última segunda-feira (30), aos 70 anos – a megaestrela de 60 anos, de acordo com a publicação, deveria ver seus ganhos anuais saltarem para US$ 45 milhões (US$ 100,8 milhões atuais, ou R$ 483,4 milhões) a partir de 1993 caso seu programa feito sob medida para a TV dos Estados Unidos, então em fase de desenvolvimento pela MTM Enterprises, produtora fundada em 1969 pela atriz Mary Tyler Moore e dissolvida em 2001 ao ser adquirida pela Disney, repetisse o sucesso das versões gringas em espanhol. Ou, quem sabe, até mesmo se viesse a superar a popularidade do original em português.

Não foi exatamente o que aconteceu. Transmitido por um pool de 100 emissoras e com média de 3 milhões de telespectadores por episódio, números significantes, “Xuxa” durou só uma temporada no The Family Channel (rebatizado Freeform em 2018), ficando no ar entre 1993 e 1996, incluindo reprises. Apesar da boa performance, o game show com duração de meia hora não resistiu aos ataques da concorrência e às críticas da imprensa sobre sua atração principal homônima, considerada “sexy demais” para os padrões dos EUA, conforme explicou ao GLMRM seu produtor executivo, Tom Lynch. Aqui, um parêntese. Sob a supervisão de seu advogado e gestor comercial de longa data Luiz Cláudio Lopes Moreira, assim que fechou com os americanos a mãe de Sasha Meneghel assinou um documento informando todos os trabalhos para o público adulto que acumulava no currículo, sendo o mais conhecido sua ponta no longa de classificação restrita “Amor, Estranho Amor”, de 1982, e no qual se comprometeu por escrito a jamais fazer coisas do tipo dali pra frente. Porém o revés ao tentar se projetar na América não é nada que diminua o grande feito conquistado por Xuxa, o de ter sido notada pela “Forbes” quando a internet e as redes sociais ainda não existiam, de maneira geral tornando-se a quarta pessoa de todas as brasileiras que conseguiram o mesmo: as outras três foram os empresários Sebastião Camargo (Camargo Correa), Antônio Ermírio de Moraes (Grupo Votorantim) e Roberto Marinho (Grupo Globo), já falecidos, listados pela revista como bilionários desde 1986.

Por causa da explosão dos salários em Hollywood no fim dos anos 1990, a “Top 40” ganhou mais posições e virou “Celebrity 100” em 1999, e assim é conhecida desde então. Depois de Xuxa, apenas Gisele Bündchen, Adriana Lima, Alessandra Ambrosio, Ronaldo Nazário, Ronaldinho Gaúcho, Kaká e Neymar foram os outros brasileiros incluídos na lista. Gisele se manteve nela durante 17 anos, em todos como a modelo mais bem paga do mundo. No momento, Neymar é o único representante do Brasil na seleção estrelada, criada pela “Forbes” há 36 anos como uma forma de “traduzir” o que de fato define o tamanho das mais variadas celebridades em um contexto global: dinheiro.

Já Xuxa não tem nada do que se queixar, mesmo não tendo vingado no showbiz americano, o mais importante do planeta e vitrine para outros mercados. Mas não o único relevante. No brasileiro, o maior da América Latina, cujas receitas em 2022 atingiram US$ 33 bilhões (R$ 158,4 bilhões), conforme estimativa da Pesquisa Global de Entretenimento e Mídia 2022–2026 publicada pela PwC Brasil, a dona do hit “Ilariê” se mantém como um de seus maiores nomes lá se vão mais de quatro décadas. Tamanha evidência a permite capitalizar suas empreitadas fora da TV, como a rede de buffets infantis Casa X e sua participação na Espaçolaser, maior rede de clínicas de depilação do país. Apesar de ser sócia minoritária da empresa com valor de mercado na Bolsa em torno de R$ 570 milhões, a apresentadora integra indiretamente seu bloco de controle. Acima de tudo, o negócio evidencia os resultados de um plano de reestruturação da Xuxa Promoções e Produções Artísticas iniciado em 2015.

De lá pra cá, a holding que cuida dos interesses econômicos de Xuxa tem como público-alvo jovens mulheres com mais de 30 anos. Não por acaso, essas “baixinhas trintonas” estão entre as mais comuns usuárias dos serviços de depilação no Brasil, um segmento em franca expansão que por aqui movimenta anualmente R$ 36 bilhões, segundo a consultoria Euromonitor International. A Xuxa Produções também administra as mais recentes parcerias dela com as gigantes do streaming Disney+ (que em breve lançará a série “Tarã”, protagonizada por Xuxa), Amazon Prime Video (na qual Xuxa apresentou um reality com drag queens), além da Globoplay, que transformou sua história em docusérie com a bem-sucedida “Xuxa: O Documentário”. Somando tudo, essas iniciativas rendem a ela R$ 100 milhões anuais. E o patrimônio pessoal da rainha dos baixinhos é estimado em R$ 1,3 bilhão. Cifras de gente grande.

Confira abaixo a lista completa da edição de 1991 da “Top 40”, feita pela “Forbes” poucas vezes pela imprensa brasileira, com Xuxa na 37ª posição entre as 40 celebridades mais bem pagas daquele (em valores corrigidos pela inflação):

1. New Kids on the Block, grupo musical (Estados Unidos) – US$ 115 milhões (US$ 257,6 milhões atuais)
2. Bill Cosby, comediante (Estados Unidos) – US$ 113 milhões (US$ 253,1 milhões atuais)
3. Oprah Winfrey, apresentadora e empresária (Estados Unidos) – US$ 80 milhões (US$ 179,2 milhões atuais)
4. Madonna, cantora (Estados Unidos) – US$ 63 milhões (US$ 141,1 milhões atuais)
5. Michael Jackson, cantor, morto em 2009 (Estados Unidos) – US$ 60 milhões (US$ 134,4 milhões atuais)
6. Kevin Costner, ator e diretor (Estados Unidos) – US$ 59 milhões (US$ 132,2 milhões atuais)
7. Johnny Carson, apresentador, morto em 2005 (Estados Unidos) – US$ 55 milhões (US$ 123,2 milhões atuais)
8. Charles M. Schulz, cartunista, morto em 2000 (Estados Unidos) – US$ 51 milhões (US$ 114,2 milhões atuais)
9. Rolling Stones, grupo musical (Reino Unido) – US$ 50 milhões (US$ 112 milhões atuais)
10. Steven Spielberg, produtor e diretor (Estados Unidos) – US$ 50 milhões (US$ 112 milhões atuais)
11. Paul McCartney, cantor e compositor (Reino Unido) – US$ 49 milhões (US$ 109,8 milhões atuais)
12. Julio Iglesias, cantor e compositor (Espanha) – US$ 45 milhões (US$ 100,8 milhões atuais)
13. Janet Jackson, cantora (Estados Unidos) – US$ 43 milhões (US$ 96,3 milhões atuais)
14. Bruce Willis, ator (Estados Unidos) – US$ 43 milhões (US$ 96,3 milhões atuais)
15. Eddie Murphy, comediante (Estados Unidos) – US$ 42 milhões (US$ 94,1 milhões atuais)
16. Tom Cruise, ator (Estados Unidos) – US$ 36 milhões (US$ 80,6 milhões atuais)
17. Arnold Schwarzenegger, ator (Estados Unidos) – US$ 35 milhões (US$ 78,4 milhões atuais)
18. Aerosmith, grupo musical (Estados Unidos) – US$ 34 milhões (US$ 76,2 milhões atuais)
19. M.C. Hammer, rapper (Estados Unidos) – US$ 33 milhões (US$ 73,9 milhões atuais)
20. The Grateful Dead, grupo musical, extinto em 1995 (Estados Unidos) – US$ 33 milhões (US$ 73,9 milhões atuais)
21. Sean Connery, ator (Reino Unido) – US$ 32 milhões (US$ 71,7 milhões)
22. Billy Joel, cantor e compositor (Estados Unidos) – US$ 31 milhões (US$ 69,4 milhões atuais)
23. Jack Nicholson, ator (Estados Unidos) – US$ 30 milhões (US$ 67,2 milhões atuais)
24. John Hughes, roteirista e produtor, morto em 2009 (Estados Unidos) – US$ 28 milhões (US$ 62,7 milhões atuais)
25. Frank Sinatra, cantor, morto em 1998 (Estados Unidos) – US$ 27 milhões (US$ 60,5 milhões atuais)
26. Michael Douglas, ator (Estados Unidos) – US$ 27 milhões (US$ 60,5 milhões atuais)
27. Michael J. Fox, ator (Estados Unidos) – US$ 26 milhões (US$ 58,2 milhões atuais)
28. Guns N’ Roses, grupo musical (Estados Unidos) – US$ 25 milhões (US$ 56 milhões atuais)
29. Stephen King, escritor (Estados Unidos) – US$ 25 milhões (US$ 56 milhões atuais)
30. Siegfried & Roy, dupla de ilusionistas, extinta em 2021 (Alemanha) – US$ 25 milhões (US$ 56 milhões atuais)
31. Prince, cantor, morto em 2016 (Estados Unidos) – US$ 25 milhões (US$ 56 milhões atuais)
32. Andrew Lloyd Webber, dramaturgo (Reino Unido) – US$ 24 milhões (US$ 53,8 milhões atuais)
33. Paula Abdul, cantora (Estados Unidos) – US$ 24 milhões (US$ 53,8 milhões atuais)
34. Sylvester Stallone, ator (Estados Unidos) – US$ 23 milhões (US$ 51,5 milhões atuais)
35. Arsenio Hall, comediante (Estados Unidos) – US$ 23 milhões (US$ 51,5 milhões atuais)
36. Tom Clancy, escritor, morto em 2013 (Estados Unidos) – US$ 20 milhões (US$ 44,8 milhões atuais)
37. Xuxa, apresentadora e empresária (Brasil) – US$ 19 milhões (US$ 42,6 milhões atuais)
38. Mel Gibson, ator e diretor (Estados Unidos) – US$ 19 milhões (US$ 42,6 milhões atuais)
39. Matt Groening, cartunista (Estados Unidos) – US$ 18 milhões (US$ 40,3 milhões atuais)
40. Vanilla Ice, rapper (Estados Unidos) – US$ 18 milhões (US$ 40,3 milhões atuais)