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A apresentadora em cena do extinto 'Xuxa', e Tom Lynch, seu produtor americano || Créditos: Reprodução
Xuxa e Jelly em um episódio de “Xuxa”, e Tom Lynch, produtor da atração || Créditos: Reprodução/Cortesia Tom Lynch
Xuxa e Jelly em um episódio de “Xuxa”, e Tom Lynch, produtor da atração || Créditos: Reprodução/Cortesia de Tom Lynch

Dos episódios mais emblemáticos da carreira de Xuxa Meneghel, um dos menos conhecidos pelos brasileiros é aquele sobre a breve experiência da rainha dos baixinhos como estrela da televisão nos Estados Unidos. No auge da carreira dela, no começo dos anos 1990, o Brasil tinha se tornado pequeno para sua apresentadora mais famosa, ao mesmo tempo em que vários executivos do mercado americano de entretenimento buscavam uma artista de carne e osso (e, de preferência, com carisma e sex appeal de sobra) capaz de encarnar os sonhos do público infantil, que então só encontrava ídolos no mundo da ficção: Mickey Mouse, o Pato Donald e companhia.

Um desses executivos era Tom Lynch, um expert em programas infantis certa vez descrito pelo “The New York Times” como o David E. Kelley do mundo televisivo das crianças, em referência ao produtor que lançou hits da telinha como “Picket Fences” e “Ally McBeal”. Assim que soube da existência de uma certa loira brasileira que havia conquistado a América do Sul, Lynch tratou de procurá-la e logo propôs uma parceria, que foi prontamente aceita. “Foi a combinação perfeita! A Xuxa queria estrear nos EUA e eu precisava de alguém exatamente como ela”, o executivo disse em entrevista exclusiva ao Glamurama, concedida por telefone diretamente de seu escritório em Los Angeles.

A produção de “Xuxa” começou em meados de 1992, e apesar do público alvo da atração ser formado por baixinhos gringos, o orçamento era de gente grande. O diretor, Gary Halvorson, tinha no currículo vários episódios da sitcom “Roseanne”, naqueles tempos a mais assistida pelos americanos, e a produtora contratada foi a MTM Enterprises, fundada pela icônica Mary Tyler Moore e mais tarde comprada pela 20th Century Fox. De acordo com Lynch, a ideia era fazer do programa um produto específico para “syndication”, um sistema altamente lucrativo que existe praticamente só nos EUA e permite a negociação direta entre os produtores com os canais de TV.

Quem dominava esse segmento na época, ainda em sua fase popularesca, era Oprah Winfrey: a rainha de todas as mídias, como ficou conhecida mais pra frente, chegava a faturar US$ 80 milhões (R$ 308,5 milhões) por ano vendendo os episódios de seu “The Oprah Winfrey Show” para uma infinidade de estações que guerreavam entre si para tê-la em sua programação. Mas o que Lynch tinha em mente para a intérprete de “Ilariê” era algo ainda maior. “Xuxa é uma artista como poucas vezes vi na vida, capaz de se conectar com sua audiência imediatamente, como Elvis [Presley]. Não tenho dúvidas de que ela poderia ter sido até maior do que Oprah”, disse o executivo.

“Xuxa” debutou nas manhãs da TV americana no dia 13 de setembro de 1993, com custos semanais estimados entre US$ 150 mil (R$ 578,4 mil) e US$ 200 mil (R$ 771,2 mil), uma soma de respeito que rendeu um cenário caprichado e a contratação de vários assistentes de palco para sua protagonista. O mais famoso era o urso panda Jelly, que chamava tanta atenção quanto outra coadjuvante, a atriz Natasha Pearce, única Paquita americana. “Foi um estouro, tivemos uma média de 3 milhões de telespectadores por episódio, um número enorme que seria ainda maior hoje em dia”, lembrou Lynch antes de citar o canal infantil “Nickelodeon”, que com todos os seus shows não passa dos 8 milhões de telespectadores diários.

Ainda na ativa, ele afirma que sempre viu em Xuxa alguém com a capacidade de se tornar “a porta-voz de uma geração”, lembrando que os pequenos de 1993 são os “millennials” atuais, a fatia da população formada por pessoas nascidas a partir do começo dos anos 1980 que agora é a mais disputada pelos anunciantes. “Nos anos 1990 ela só perdia para Michael Jackson entre os famosos mais adorados pelas crianças em todo o mundo. Todos queriam contratá-la: a Disney, a Warner… Xuxa tem um pensamento muito progressivo e sempre esteve aberta ao novo, o que é fundamental no showbiz”, contou o executivo.

A alegria, no entanto, durou pouco. Mais por causa da concorrência que gerou e menos em razão do figurino sexy de Xuxa, como sempre foi dito no Brasil, o show americano dela não foi renovado para uma segunda temporada. “A Xuxa assustou muitos gigantes, a Warner entrou em cena logo para reagir ao sucesso dela”, Lynch explicou. “Além disso, os horários televisivos começaram a ficar caros, e a MTM não quis bater de frente com essa gente. Não fosse isso, ‘Xuxa’ teria sido um fenômeno, uma máquina de fazer dinheiro como jamais se viu em Hollywood. Ela é uma estrela orgânica, daquelas que nunca perdem o brilho”.

Lynch afirma que ainda mantém contato telefônico com Xuxa (“Nos falamos umas duas vezes por ano, mas nunca discutimos trabalho”), apesar de que se demonstrou surpreso ao saber do rompimento pessoal e profissional dela com a ex-agente Marlene Mattos, em 2002. “Jura!? Depois de anos lado a lado!? Mas, verdade seja dita, isso é muito comum entre as superestrelas…”, ponderou. E ao ser informado de que em breve a mãe de Sasha Meneghel Szafir voltará a ter um programa semanal na televisão da Argentina (na Telefé, onde ela apresentou o “El Show de Xuxa” entre 1991 e 1993), o produtor foi taxativo sobre um eventual revival nos States: “Tenho certeza de que ainda há muito espaço para Xuxa na TV americana”. (Por Anderson Antunes)

Oprah Winfrey e Xuxa Meneghal || Créditos: Getty Images/Reprodução

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