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Confraternização
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Parte 1 

Do aeroporto, fui direto para o primeiro evento do fim de semana. Não foi o primeiro presencial desde o lançamento do meu livro, mas um dos primeiros. Conheci a Janela, uma livraria que abriu um dia antes de decretado o fechamento de todas as portas, lá no começo da pandemia; reencontrei pessoas que não via há anos; estive pela primeira vez diante de outras que, por meio das redes, já faziam parte do meu mundo. É bom confirmar que as pessoas não só existem mesmo por detrás das telas, mas que têm altura, volume, gestos e, principalmente, uma presença, uma presença que tecnologia alguma jamais será capaz de transmitir.

Parte 2

Festa. Uma festa de verdade. Demorei para entender que ainda estava com máscara, que, ali, era permitido tirá-la; que todas as pessoas ao redor estavam vacinadas. Demorei para entender que era dançar, só isso, o que eu tinha que fazer ali, além de abraçar longamente quem há tanto tempo eu não via. Demorei, mas enfim entendi que gente é mais gente quando se junta; que nosso lugar é, sim, rodeado de muitos; que, sem a presença do outro feita verdade pela multidão, sem a simultânea anulação e confirmação de si que a multidão propõe, o estar sozinho ecoa demais, cava um buraco fundo demais; e aquele cantar conjunto, aquelas batidas sob as quais todos dançávamos, vêm nos resgatar desse fundo que é só nosso (e sem o qual tampouco a multidão faz sentido).

Parte 3

Um dia de ressaca. Um dia que praticamente não existiu e um dia em que eu praticamente não existi. 

Depois, conforme vou melhorando, confirmando estar viva, confirmando que sobrevivi não só à bebedeira, mas à pandemia e ao Brasil, a alegria de simplesmente existir faz parecer que um copo d’água sorvido com avidez desértica é uma piscina inteira. Talvez até o mar. 

Parte 4

Acordei cedo porque cedo era a primeira das falas do dia. Ainda fico nervosa, não tanto quando da primeira vez, talvez porque falar sobre literatura e sobre escrever também seja falar sobre o que mais me abriga, talvez também seja falar sobre minha casa. Talvez porque, ao longo deste ano, de fato, participei de muitos eventos e, afinal de contas, a gente vai aprendendo, vai se acostumando um pouco com a própria voz. Vai sabendo como conduzir uma palavra à outra, uma ideia à outra. Mesmo assim, algumas conversas dessas acontecem, faíscam, pulsam; outras, mesmo que continuem tendo sido boas, gostosas, prazerosas, não. Essa, com a Izabela Lopes, aconteceu; e a mediação dela foi tão maravilhosa que provavelmente tinha mais gente tirando foto com ela depois do que comigo. Tinha mais gente que tinha ido ali vê-la do que a mim, a autora do livro.

Parte 5

A sala dos autores da Bienal do Livro do Rio de Janeiro: ainda me surpreendo por estar do lado de dentro, e não de fora. Me surpreendo que as pessoas me reconheçam, inclusive aquelas que eu mesma vou tietar. 

Preciso aprender a ser um pouco mais blasé. 

Ou não. 

Parte 6

O amor e seus percalços: sobre isso falamos. Minha voz no microfone soa mesmo muito diferente, demoram algumas perguntas, algumas respostas para que eu me acostume a ela. Mesa potente em que aprendi tanto. 

Parte 7

Uma noite em um quarto de hotel, depois de cumpridos os deveres, talvez seja o sonho de toda mãe. 

Parte 8

Talvez tenhamos sentido falta de sair da nossa vida, durante o tempo de quarentena, de maiores restrições, não apenas pela própria saída, mas também para poder olhá-la de fora. E também para poder voltar: saímos de nossa vida também para poder voltar a ela. Afinal de contas, como é bom chegar em casa.  

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