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Walcyr Carrasco || Créditos: Juliana Rezende
Walcyr Carrasco || Créditos: Juliana Rezende

Walcyr Carrasco, autor que tem emendado um sucesso atrás do outro, se prepara para estrear “O Outro Lado do Paraíso”, próxima das nove da Globo, substituta de “A Força do Querer”. Um dos temas da nova novela é racismo. “Por que empregada não pode usar o banheiro normal da casa?”, perguntou.

Walcyr também contou o que o inspirou a ter uma personagem anã na trama e falou sobre o que ele chama de “ode ao fracasso” do brasileiro, como se as pessoas torcessem sempre contra. “Se a gente der três pontos a menos no Ibope que a novela da Gloria Perez, pronto!” Ah, comentamos sobre o furor que causou na internet o vazamento da cena de sexo para lá de picante de Grazi Massafera – aparentemente sem roupa – gravada ao ar livre na caçamba de uma pick up com Rafael Cardoso. E perguntamos se ele não teme a patrulha moralista – a mesma que vem atacando exposições de museus. “A novela tem cenas de sexo que uma criança pode assistir”. Vem ler!

Glamurama: Você se inspirou em alguma situação específica para trazer mais uma vez a questão do racismo para as novelas?
Walcyr Carrasco: “Me inspirei no Brasil mesmo, um país tremendamente racista e que finge que não é. Achei que era hora de falar que o Brasil tem racismo. É crime, a pessoa pode ser presa e continuam praticando. Se quiser um exemplo, te dou um típico: elevador de serviço. Se um médico vai te atender em casa, ele está a trabalho. Usa elevador de serviço? Não. Elevador de serviço é só pra empregada, pra pobre. Banheiro de empregada: por que ela não pode usar o banheiro normal da casa? Tem que ter um só pra ela, que em geral é um cubículo no qual ela mal consegue ficar em pé? Por quê? Porque a empregada é pobre e negra”.

Glamurama: Como é na sua casa, Walcyr? A sua empregada toma banho no seu banheiro?
Walcyr Carrasco: “Pode, se quiser, mas ela não toma. Dou liberdade total, mas dentro da minha casa tem o apartamento da empregada, nos fundos, que tem tudo. Até cozinha. Se ela quiser comer alguma coisa à noite, ela pode. Se quiser ver televisão, também”.

Glamurama: Em quem você aposta como revelação nesta novela?
Walcyr Carrasco: “A Bianca Bin não é nova, mas como protagonista das nove é uma revelação. Vai arrebentar”.

Glamurama: Você vai ter uma personagem anã na trama [Estela, papel de Juliana Caldas], que vai se envolver com um homem de estatura normal [o ator Pedro Carvalho]…
Walcyr Carrasco: “Quando eu era criança, minha mãe tinha uma grande amiga com dois sobrinhos: um de estatura normal e a outra, anã, que casou três vezes, com homem de estatura normal e com anão. Pensei que nunca tinham abordado isso… Não sei se vai dar certo. Pergunta pra personagem da Fernanda Montenegro, que é vidente. Eu acredito no que estou escrevendo, ou não escreveria. Se achasse que ia dar errado, eu faria? Enquadramento é com a direção, não tenho nada com isso”.

Glamurama: O vazamento da cena de sexo da Grazi parou a internet. Você não teme a patrulha moralista – tão ativa nesses tempos – na sua novela?
Walcyr Carrasco: “Essa questão é da direção. O autor só escreve “aí eles se beijam e transam”. É uma frase. A direção interpreta. Sem dúvida, a novela tem cenas de sexo, sim. Mas cenas que uma criança pode assistir. Nudez total, não”.

Glamurama: Já sofreu muito com críticas de telespectadores mais conservadores nas ruas e nas redes sociais, os haters?
Walcyr Carrasco: “Já pensei em me mudar do Brasil por causa da violência, mas por causa de conservadorismo e preconceito, não. Mas eu escrevo aqui, tenho que estar aqui para sentir o pulso do público. O que eu faço é minha parte: escrevi uma coluna sobre a censura nos museus. Às vezes, a censura acontece antes das pessoas assistirem. Por isso me preocupo quando você pergunta de cena de sexo. O prefeito do Rio falou que joga a exposição [‘Queermuseu’, que ficou em cartaz em Porto Alegre e foi encerrada após polêmicas] no mar e ele não pode falar isso porque a exposição não é dele. Não posso jogar fora o que não é meu. A ameaça em si é ilegal… Nunca sofri ataque nas ruas, mesmo com ‘Verdades Secretas’, que era bem forte. Nas redes sociais acontece às vezes, quando dou uma opinião que as pessoas não gostam, mas dou mesmo assim. Hater é pra xingar mesmo, tudo bem. Tem até torcida contra. Se a gente der três pontos a menos no Ibope que a novela da Gloria Perez, pronto”.

Glamurama: Essa comparação com o sucesso de “A Força do Querer” te preocupa?
Walcyr Carrasco: “Há um sensacionalismo e uma ode ao fracasso. Mesmo quando não é um fracasso, é apenas menos que o outro. Nos outros países a ode é ao sucesso. A novela da Gloria é maravilhosa, eu gosto. De que gosto mais? Da Bibi [Juliana Paes] e do transexual [Caroline Duarte]. Mas se eu parar pra pensar em comparação, não escrevo minha novela. Não penso em segurar rojão, em medo. Essa preocupação não é minha. Escrevo e pronto. Pode acontecer de ter que mudar o rumo da trama [por conta de audiência]. Se tiver que mudar, eu mudo. Tenho medidor de Ibope em casa, mas só olho no fim do capítulo. Meu segredo é não pensar em números e acreditar na minha emoção”. (por Michelle Licory)

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