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Por Verrô Campos, de Trancoso

Quando César Camargo Mariano falava com a plateia nas apresentações do Música em Trancoso, ele se dirigia sempre a uma pessoa: Sabine Lovatelli, fundadora do Mozarteum Brasileiro. Além de idealizadora, é o grande nome por trás da curadoria e coordenação artística do festival no sul da Bahia. Glamurama conversou com essa dama de tipo europeu, longilínea e loira de olhos zuis, que está sempre no teatro do Terra Vista de chapéu panamá combinado a kaftans e camisas brancas, bela tradução do chique despojado da região.

Sabine nasceu na Alemanha, onde estudou línguas até os 20 anos, para depois viajar pela Europa por três anos. Quando voltou à sua terra natal, Hannover, conheceu Carlo Lovatelli, na época um bolsista em física nuclear, a primeira geração de brasileiros de uma família de mãe inglesa e pai italiano. “Cinco dias depois que nos conhecemos, decidimos nos casar”, conta. Foi assim que ela chegou a São Paulo, no ano de 1971. As primeiras impressões? “O aeroporto de Congonhas ficava numa região não asfaltada, com terra vermelha, aquilo me assustava um pouco, era tudo vermelho. São Paulo não era o que é hoje, a grande atração era o Shopping Center Iguatemi, que foi o primeiro da cidade, me levavam sempre para lá e eu não entendia o porquê”.

As pessoas a conquistaram: “Logo gostei muito do caráter dos brasileiros, todo mundo estava me cumprimentando, convidando, ajudando. Na Europa é um pouco mais frio, aqui me integraram imediatamente”. Depois de 10 anos se adaptando e formando amigos, ela achou que estava na hora de fazer algo. “Pesquisei o mercado, na época não tinha música clássica aqui, e eu sentia falta disso. Aí pensei ‘vou tentar’. E tentei…”. Vale lembrar que Sabine não toca sequer um instrumento e nunca estudou música. Foi apenas como plateia que ela se tornou o que é: “Na escola, na Alemanha, sempre tínhamos que frequentar um evento cultural por mês, e eu sempre me interessava pela música, muito pela ópera, claro, mais complexo para um jovem, com todo o cenário e tudo mais”. “Pensei em fazer algo esporádico, mais modesto, mas logo soube que vinham para a América do Sul as orquestras de Paris e de Washington, entrei em contato com eles e deu certo”. Foi o começo de uma instituição hoje consolidada que, além de promover temporadas de música, fomenta a cultura através de bolsas para jovens estudantes e trabalhos de inclusão social.

Muito ocupada, Sabine não consegue passar grandes temporadas em sua casa no Terra Vista, em Trancoso: “O máximo que fiquei foram três semanas, apenas uma vez. Agora, com o Música em Trancoso, fico dez dias, venho várias vezes por ano, mas fico pouco”. Do que mais gosta aqui? “Gosto da vida pacata, para mim isso é uma máquina do tempo. Quando se passa pela balsa, você está em outro mundo”. Sabine não teve filhos – “Mais uma razão porque podia me ocupar tanto do Mozarteum e fazer disso uma organização mais ampla” – e carrega em seu DNA alemão o gosto pela excelência: “Queremos que os jovens entendam que quem se formou no clássico depois faz qualquer coisa. Tem que ter o gosto pela excelência, a convicção de que a coisa tem que ser boa. Quero que este (o teatro Música em Trancoso) seja o palco de todas as orquestras jovens do Brasil. Mas tem que ter nível, não entra só porque é brasileiro”. E completa com o seu sotaque característico: “Não há nada pior que uma ópera mal tocada”. Brava!

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