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Roberto Carlos distribui rosas vermelhas para fãs durante turnê na Bahia || Crédito: Lê Taccilo

Por Denise Meira do Amaral

Uma imensa fila no aeroporto internacional de Salvador a uma semana e meia do Carnaval já sinalizava o que estava por vir. “Aqui só tem gente sexy… Sexagenária”, brincou um dos fãs que aguardavam para subir em dezenas de ônibus fretados que os levariam a um resort na Praia do Forte, cerca de 80 km da capital baiana. Era lá que os adoradores de Roberto Carlos se confinariam pelos próximos quatro dias para o projeto Emoções, que pela primeira vez em 12 edições aconteceu em terra – e não em um cruzeiro.

Após uma hora de estrada chegamos ao hotel IberoStar. Apesar da fachada opulenta, os fãs pareciam se sentir em casa: “Como vai você? Eu preciso saber da sua vida” – ecoava a voz de RC através das inúmeras caixas de som espalhadas pela recepção. Dali para frente, as músicas de Roberto passariam a ser uma presença constante na rotina dos 2.800 hóspedes. Seja no café da manhã, nas piscinas, nos corredores dos quartos, nas quadras de tênis e até mesmo na danceteria do resort, o rei reinava. “E eles ainda reclamam que o som está baixo”, explicou uma das produtoras da equipe.

Era comum encontrar senhoras desorientadas em busca dos quartos, perdidas na imensidão do resort. O anúncio da volta do Projeto Emoções para o cruzeiro em 2018 foi bastante comemorado pelos fãs, durante a coletiva de imprensa com o rei. Sim, os fãs participam da coletiva de imprensa! O feito curioso faz com que existam torcidas distintas para cada pergunta. Se eles não gostam, vaiam, se gostam, aplaudem e vibram. Teve até jornalista que fez uma pergunta a pedido de um deles, a dona Teresinha, que queria saber se o pijama do rei era azul. “Eu não durmo de pijamas”, respondeu ele, para o delírio das fãs. “Durmo de camiseta branca”, ponderou, aos risos.

Roberto Carlos ficou cerca de uma hora respondendo a perguntas na mesma sala azul, com cadeiras azuis, onde aconteceria o show, horas depois.  Dentre os temas, ele falou do filme sobre sua trajetória, que será rodado em breve: “vai contar tudo,  desde o meu nascimento, passando pelo acidente, as questões que enfrentei durante a minha vida, as alegrias”. Muitos se surpreenderam ao ouvir Roberto falar sobre o acidente, que o obrigou a amputar parte da perna direita, em uma linha de trem, aos seis anos. O assunto costuma ser um tabu para ele.

Também havia muita curiosidade sobre as possíveis namoradas do cantor. “Você está amando?”, perguntou uma jornalista baiana. “Amando estou sempre. Sou um amante. Mas se quer saber se estou namorando? Não, não… Assim não”. “Tá ficando?”, retrucou a jornalista. “É”, admitiu. “Mas você está querendo saber demais, viu”. Todos riram.

Rafael Braga, reconhecido como filho de RC por um teste de paternidade aos 24 anos, garantiu que nunca viu o pai com nenhuma namorada. “Vou ser bem sincero. A imprensa fala tanto que eu sempre fico procurando [suas namoradas]. Mas eu nunca vi. E olha que já fui com ele para tudo quanto é lugar. A gente sempre torce para que ele encontre alguém legal”, disse Rafael, em trajes de banho, enquanto esperava sua mulher e seus filhos, João e Maria, saírem de um mergulho de mar, na praia em frente ao resort.

Sua voz é parecidíssima com a do pai. Motivo que fez com que ele tentasse a carreira de cantor, em 1996. “Eu gravei um disco que hoje em dia me dá vergonha. Se você quiser ouvir e tiver coragem (risos)… Ai, que disco ruim. Mas foi uma lição porque eu achava que tinha a genética. Como minha voz falando é parecida, fizeram a minha cabeça de que deveria cantar”.

Rafael foi filho de mãe solteira, como ele mesmo diz. Maria Lucila Torres costumava falar que aquele moço que cantava na televisão era seu pai.  “Mas eu não estava nem aí. Queria só saber de brincar”. Ele revela que sua relação com RC “não é comum”. “Mas hoje a gente se dá muito bem. Ele é muito carinhoso e temos o maior respeito e amizade”. Apesar de não ter herdado o dom do canto, Rafael herdou o toque do pai. “Estou ficando com um pouquinho de perfeccionismo aqui e ali. E às vezes me pego escolhendo as palavras”, confessou o filho do rei, que aliás, resiste a assumir esse rótulo. “Monarquia é uma coisa eu não gosto. Acho esse papo de rei meio estranho”.

Apesar de estarem hospedados no mesmo hotel, Roberto não fazia as refeições com Rafael e com os netos. Permanecia isolado em outra ala do resort, cercado por seguranças. Lá, RC dispunha de um cardápio preparado especialmente para ele por uma funcionária trazida do Rio. Outra que também veio do Rio é Neide de Paula, que cuida há 45 anos do cabelo e da maquiagem do eterno ídolo da Jovem Guarda. Rafael entregou a vaidade do pai: “Ele é bastante vaidoso. Está sempre com a barba impecável, com o cabelo arrumadinho… E tem de estar liso, bem esticadinho. Ele faz uma série de tratamentos no cabelo. Eu falo, pai, por que esse exagero? Mas ele gosta, é a vida dele”.

Entre as palmeiras e infinitos corredores do resort circulavam alguns fãs notórios, como os pais da cantora Angélica, Francisco e Angelina. “Eu tinha muita amizade com a Maria Rita [última mulher de RC, morta em 1999, vítima de câncer]. A gente sentava junto com ela na plateia. Ela era muito bonitinha, uma amor de pessoa e muito companheira.  Eu tenho 56 anos de casada, e eu e meu marido sempre vamos juntos aos shows”.

Também  estava na área o advogado criminalista Antônio Carlos de Almeida castro, o Kakay, que já defendeu o ex-ministro José Dirceu, a atriz Carolina Dieckmann e o publicitário Duda Mendonça, além do próprio RC. “Já fui a uns quatro shows dele. Ganhei inclusive o concurso de karaokê, e em mais de uma edição. cantei como vai você’, lembra Kakay, muito orgulhoso. “Roberto é muito carinhoso, bem humorado, gosta de contar causos. Ele ri de si próprio”. Kakay advogou para RC algumas vezes, como no caso da biografia não autorizada escrita por Paulo César de Araújo, tirada de circulação em 2007.

Pelo pacote, cada hóspede tinha direito a uma noite de show. Como é impossível atender toda a audiência em apenas um dia, RC faz três apresentações. Ao final delas, dezenas de garçons circulam pelo salão distribuindo tacinhas de champanhe. São cerca de 250 garrafas por noite, para dar o direito de cada um na plateia brindar com seu grande ídolo na penúltima música. Ao som de “Como é grande o meu amor por você”, uma legião de fãs ensandecidas se espreme para chegar mais perto do palco, com as tacinhas de plástico em riste. O repertório do show, com direito a “Emoções”, “Detalhes”, Esse Cara Sou Eu” e “Jesus Cristo”, costuma ser praticamente igual a de anos anteriores – a não ser por uma novidade: após um hiato de anos, RC voltou a incluir  o hit “Quero que vá tudo para o Inferno.”  “Não gosto de falar essa palavra [inferno], prefiro evitar.  Mas foi tanta insistência que cantei. E gostei. Foi bom  passar por cima do toque, porque isso tem a ver com o toque”, explicou.

Tudo, no entanto, se encerra no reino dos céus. Vestido com uma camisa azul e um blazer branco, RC canta a última canção, “Jesus Cristo”, distribuindo duas dúzias de rosas, brancas e vermelhas a dezenas de fãs. Arremata o galanteio com um beijo em cada uma das flores.

 

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