Publicidade
Lady Gaga, uma das celebridades por trás desse boom, sendo tatuado em estúido || Créditos: Reprodução/Instagram
Lady Gaga, uma das celebridades por trás desse boom, sendo tatuado em estúido || Créditos: Reprodução/Instagram

É uma ironia cultural interessante: o ato de se tatuar, outrora um grito silencioso dos rebeldes, se tornou um emblema de moda e tendência. Não é mais apenas o motociclista robusto ou o roqueiro rebelde que se orgulha de sua tatuagem. Os millennials, esses consumidores de luxo bem informados, estão transformando esse antigo gesto de desafio em um sofisticado rito de passagem.

O valor atribuído a essa forma de expressão repaginada é palpável. Segundo um relatório recente da firma indiana de análises mercadológicas Fortune Business Insights, o mercado global de tatuagens foi avaliado em impressionantes US$ 1,89 bilhão (R$ 9,5 bilhões) em 2022, e nesse ano já superou a cifra de US$ 2 bilhões (R$ 10,1 bilhões) movimentados. Projetado para quase dobrar até 2030, esse mercado está florescendo a um ritmo que muitos outros setores ‘tradicionais’ só podem invejar.

Mas o que impulsiona esse crescimento meteórico? Em grande parte, a indústria do entretenimento e da moda. Assim como uma bolsa Ava Triomphe da Celine ou um par de tênis Maison Martin Margiela se tornam instantaneamente cobiçados depois de serem vistos nas mãos ou nos pés de uma celebridade, as tatuagens se tornaram mais desejáveis graças ao endosso implícito de ícones da cultura pop. Atores, músicos e influenciadores digitais: a cada nova tatuagem que exibem, alimentam uma indústria faminta.

Tal revolução não se limita a uma única região geográfica. Embora a tatuagem, como forma de arte, tenha suas raízes em várias culturas ao redor do mundo, sua narrativa contemporânea tem um sabor decididamente global. Grandes players atuais do segmento de tatuadores, como o Celebrity INK na Tailândia e o Alien’s Tattoo na Índia, estão moldando tendências mundiais, atestando o alcance e a influência da indústria.

Entretanto, o que acontece quando comparamos esse florescimento do mercado de tatuagens com o movimento que ele uma vez simbolizou? No início dos tempos modernos, tatuagens eram uma declaração audaciosa de não conformidade. Para muitos, eram um grito silencioso de descontentamento contra normas culturais, políticas ou sociais. Era, acima de tudo, uma maneira de reivindicar a autonomia sobre o próprio corpo em conjunturas em que o verbo parecia determinado a restringi-lo.

E cá estamos, em uma era em que essa antiga forma de protesto agora adorna os corpos daqueles que percorrem os corredores das lojas de luxo e frequentam os points mais hypados de Saint-Germain-des-Prés. Um paradoxo? Talvez, e quem decide isso são as gerações atuais. Aliás, no coração desse crescente interesse universal em tatuagens está, sem surpresa, o rápido avanço da tecnologia.

O relatório citado sugere um aumento na preferência por serviços a laser, que permitem uma precisão sem precedentes. Além disso, a tendência emergente das técnicas de tatuagem em 3D dá a essa forma de arte uma nova dimensão – literalmente. Assim, o consumidor de hoje não apenas deseja uma tatuagem, mas anseia por aquela que emprega a mais recente inovação tecnológica.

A Europa, em particular, tem sido um grande case nessa indústria em ascensão, com sua adoração à tatuagem amplificada pelo endosso de personalidades media-friendly. Já o mercado asiático, impulsionado por uma crescente conscientização sobre a arte corporal, está prestes a experimentar um boom semelhante. Tatuagens estão se tornando tão omnipresentes quanto as últimas tendências da moda, e em muitos aspectos, são a última moda: na última Paris Fashion Week, claramente surgiram como a mania favorita de estilistas e fashionistas.

Não se pode esquecer, no entanto, os riscos associados. Com a crescente popularidade, há um aumento correspondente nas preocupações de saúde. Alergias, infecções de pele e outros problemas médicos podem ocorrer. O rigor na escolha de um estúdio de tatuagem e na garantia de que os padrões de higiene são mantidos nunca foi tão crucial. Mas a grande ironia permanece: uma forma de expressão que uma vez serviu como um símbolo de resistência agora é alimentada, em grande parte, pelo mainstream. Os ‘anarquistas’ de hoje, adornados com tatuagens de todos os tipos e tamanhos, estão, sem saber, alimentando uma indústria multibilionária.

No final das contas, se submeter à agulha continua sendo, em todas as suas formas e cores, e ainda como uma celebração da complexidade humana e sua evolução coletiva, um reflexo de nossa incessante busca por significado e identidade. Afinal de contas, o verdadeiro ato de rebeldia meio que sempre foi o de reconhecer e abraçar essas contradições, e jamais fugir delas. Et voilà, o auge da caretice.

Alta marcação

Tatuagens se tornaram extremamente populares nos últimos anos e, com isso, surgiram algumas das artes corporais mais caras. O custo de uma tatuagem varia dependendo da habilidade do artista, design e localização. Para um tatuador profissional, é vital entender a precificação do desenho a ser gravado na pele para determinar os valores de seu próprio trabalho. O preço de uma tatuagem é influenciado por diversos outros fatores, como tamanho, complexidade e, claro, o “brand value” do tatuador.

Em geral, tamanho é um dos principais desses fatores, dado que tatuagens maiores requerem mais tempo, trabalho e material. Designs mais complexos com várias cores e detalhes também têm um custo mais elevado. Já as tatuagens com desenhos simples e pequenos normalmente são mais acessíveis do que grandes e detalhadas, que exigem consultas, lista de espera e várias horas de trabalho.

A localização da tatuagem no corpo também é relevante. Tatuagens em áreas mais sensíveis, como no rosto ou nas mãos, tendem a custar mais devido à dificuldade e à atenção necessária. Por fim, os artistas das agulhas mais renomados podem cobrar mais por seus serviços simplesmente por ser quem são: tatuadores de grife, por assim dizer. Nome e reconhecimento são essenciais para a precificação nesse caso. Aqueles com grandes seguidores nas redes sociais e que atraem clientes pelo boca a boca, com certeza, podem cobrar valores dignos da New Bond Street de Londres.

Um exemplo? Considerada como a tatuagem mais cara da história, uma feita alguns anos atrás com 612 diamantes de 0,5 quilates cada rendeu ao americano Ed Hardy nada menos que US$ 924 mil (R$ 4,65 milhões). As pedras minúsculas foram aplicadas na modelo e embaixadora da fabricante de diamantes Shimansky, da África do Sul, Minki van der Westhuizen. Esse job de Hardy durou mais de 8 horas.

Com o reconhecimento equivalente ao do mestre das tattoos, cuja fortuna é estimada em US$ 250 milhões (R$ 1,23 bilhão), tatuadores chegam a faturar mais do que algumas das celebridades que marcam. Coisa de US$ 500 (R$ 2,5 mil) por hora pra cima, nesse nicho específico. GLMRM lista a seguir os 5 com os mais altos cachês:

#1 Scott Campbell | US$ 2 mil (R$ 10,1 mil) na 1ª hora

Conhecido por trabalhar com famosos como Marc Jacobs e Orlando Bloom, Campbell é renomado por seu estilo único. Seu agendamento tem uma espera de até dois anos, e ele cobra US$ 2 mil (R$ 10,1 mil) na primeira hora e, em seguida, US$ 200 (R$ 1 mil) por cada hora extra. Embora Campbell tenha tatuado em várias cidades ao redor do mundo devido à sua alta demanda, ele é baseado em Nova York

#2 Joaquin Ganga | US$ 100 mil (R$ 503 mil) por dia

Ganga é famoso por usar anestésicos durante o processo e por ter uma equipe de tatuadores. Ele atende celebs como Post Malone e Lil Uzi Vert, e seu sistema é diferente: o pro nunca atende mais do que um cliente por dia em seu estúdio em Los Angees, na Califórnia.

#3 Ami James | $500 (R$ 2,5 mil) por hora

Alçado à fama no programa “Miami Ink”, James é um dos tatuadores mais famosos no momento. Ele é co-proprietário do estúdio Love Hate Tattoos em Miami.

#4 Bang Bang | Mínimo de $700 (R$ 3,5 mil)

Bang Bang, cujo verdadeiro nome é Keith Scott McCurdy, é famoso por sua extensa lista de clientes seletos e seu estúdio estiloso, que fica em Nova York. Os artistas em seu estúdio têm um cachê mínimo de US$ 700 (R$ 3,5 mil) por hora, cobrando outros US$ 500 (R$ 2,5 mil) pelas extras. Mas acredita-se que uma tatuagem feita pelo próprio Bang Bang seja consideravelmente mais cara.

#5 Anil Gupta | Consulta de US$ 200 (R$ 1 mil), mais US$ 500 (R$ 2,5 mil) por hora de trabalho

Gupta, originário da Índia, é conhecido por suas microtatuagens realistas. Ele tatuou miniaturas de pinturas famosas e atualmente trabalha no estúdio Inkline, de Nova York.

VOCÊ TAMBÉM PODE GOSTAR

Instagram

Twitter