Oprah buscou formar aliança contra Trump e pela Casa Branca em 2020, segundo livro

Oprah Winfrey || Créditos: Reprodução

O dom da eloquência pode tanto iluminar caminhos quanto acender fogueiras, dependendo de quem ouve algo verbalizado por alguém quando pronunciado assim tão perfeitamente. É o caso de Oprah Winfrey. Colecionadora de prêmios por sua dicção e oratória perfeitas quando ainda estava na escola, a apresentadora e empresária fez disso uma carreira que a permitiu ainda desenvolver o talento de se conectar com as pessoas de um jeito que, praticamente, só ela mesmo entende.

Essa aptidão natural da megaestrela já lhe causou algumas fogueiras, todas devidamente controladas. Uma das mais intensas que enfrentou data de 1996, quando Winfrey declarou em um episódio de seu programa sobre a doença da vaca louca, que então matava rebanhos de bovinos por todo o mundo e foi uma das maiores crises dos anos 90, que nunca mais iria comer um hambúrguer na vida.

Foi um comentário em tom descontraído, feito depois que cientistas a explicaram alguns detalhes da mazela, porém entendido como ofensa por criadores de gado do estado americano do Texas, no sul dos Estados Unidos. Eles iniciaram uma ação em classe e levaram Winfrey ao banco dos réus, pedindo uma indenização de dezenas de milhões de dólares e uma retratação pública dela, que segundo eles teria prejudicado enormemente a indústria pecuária do país.

Winfrey foi inocentada, eventualmente. Mas outras fogueiras acabaram surgindo em seu caminho, todas sempre igualmente alguma fala sua que, embora dita em algum contexto que não as tornava nada além de eloquentemente ditas, eram interpretadas como fogo posto em outros campos. Mais recentemente, a mulher negra mais rica do mundo acendeu uma fogueira intensa com um discurso de agradecimento pelo prêmio de conjunto da obra que recebeu em 2018.

Perfeito em todos os sentidos, e emocionante, o enunciado de Winfrey ecoou como seu lançamento de campanha à presidência dos EUA entre a turma de Hollywood que o ouviu ao vivo, e sempre sonhou em vê-la na Casa Branca – apesar de que a própria oradora premiada na ocasião já tenha até jurado que se candidatar ao cargo mais importante do mundo jamais esteve em seus planos. Inclusive porque seria, nesse caso, quase um rebaixamento.

Dito isso, é possível que esse ardor de cinco anos atrás tenha sido mais um fogo amigo lançado do que incêndio deliberado. Nessa segunda-feira (16), o portal Axios informou ter obtido com exclusividade, uma cópia do manuscrito de “Romney: A Reckoning”, livro do jornalista americano McKay Coppins que será lançado na próxima terça-feira (24), com um depoimento em primeira pessoa de Mitt Romney, atualmente senador pelo estado americano de Utah.

Nesse trecho da obra, conforme descrito pelo Axios, Coppins escreve que Romney lhe contou que Winfrey, uma democrata, fez uma proposta para formarem juntos uma chapa presidencial de união para as eleições de 2020, a fim de “salvar os EUA” do então presidente americano Donald Trump, que buscava a reeleição, de acordo com uma fonte familiarizada com o manuscrito.

Romney, que já concorreu à presidência em 2012, rejeitou a proposta. Segundo o Axios, ele acreditava que tal campanha poderia, sem querer, beneficiar Trump, uma preocupação corroborada por uma fonte próxima a Winfrey. Com esse histórico de influência e controvérsia, não é nenhuma surpresa que o nome daquela que a imprensa americana trata como “rainha de todas as mídias” vira e mexe acabe sendo citado em algum contexto político.

Mas citação tão direta como essa é novidade. Fundamentado em dezenas de horas de entrevistas com Romney, o trabalho de Coppins também contou com o diferencial de ter tido acesso aos diários do republicano – algo raro, considerando que ele é detentor de um cargo público.

Winfrey, que sempre teve o discernimento para saber quando evitar o fogo, não comentou nada sobre o suposto plano revelado pelo Axios, assim como Romney também não se pronunciou. Em situações como essa, vale a pena dedicar o tempo que for necessário para escolher palavras que nem acendam fogueiras, nem esfriem os ânimos.

Sair da versão mobile