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Reynaldo Gianecchini || Créditos: Reprodução Instagram

Reynaldo Gianecchini estava no quinto mês de seu desejado ano sabático quando recebeu convite para atuar em “Os Guardas do Taj”, peça de autoria do americano com ascendência indiana Rajiv Joseph que estreou off-broadway em Nova York em 2015 e ganhou inúmeros prêmios desde então. Trata-se da história de dois amigos, interpretados na versão brasileira por Reynaldo Gianecchini e Ricardo Tozzi, que trabalham como guardas do Taj Mahal durante a construção do monumento. A trama tem forte teor filosófico e interpretação emocional.

Dias antes da peça com produção da Morente Forte estrear em São Paulo, primeira parada no Brasil, Reynaldo Giannechini, eterno galã que na peça interpreta um indiano, motivo pelo qual adotou bigode, falou com exclusividade ao Glamurama.

Ensaio da pea “Os Guardas do Taj” de Rajiv Joseph, protagonizada por Reynaldo Gianecchini e Ricardo Tozzi || Créditos: Luis Vieira/Lusa

Glamurama: O que na peça o levou a interromper seu ano sabático?
Reynaldo Gianecchini: 
“Foi tudo de uma sincronicidade maravilhosa. Em uma semana a gente já tinha dinheiro para o patrocínio e a história toda com Portugal montada. Eu ia ficar um ano sem trabalhar, mas de repente surgiu o convite para esse papel incrível e resolvi abdicar do sabático, afinal, não é todo dia em que essas coisas acontecem na lei do menor esforço. Sem falar que trabalhar com amigos é maravilhoso (falando sobre Tozzi e o diretor Rafael Primor, amigos de longa data de Gianecchini).”

Glamurama: Como foi a estreia da peça em Portugal?
Reynaldo Gianecchini: “Uma experiência incrível. Primeiro que Portugal hoje em dia talvez seja o melhor lugar do mundo para se estar, é um país que tá florescendo: tem segurança, as pessoas vão ao teatro, estão felizes… Tem turistas, enfim, o país está no auge em todos os sentidos e participar desse momento foi muito legal. Uma oportunidade muito bacana com toda aquela estrutura. Eles são um público exigente e a gente ficou bem feliz com a repercussão da peça. Queremos voltar para lá pra mais uma temporada… Sucesso pra mim é isso, quando uma coisa gera tanta coisa boa.”

Glamurama: Das ideias filosóficas apresentadas na peça, qual você gosta mais e por que?
Reynaldo Gianecchini: “A peça toca em vários pontos bonitos, mas o que eu mais gosto dela é que, além da amizade linda entre os dois personagens e a diferença entre os seres, ela faz refletir sobre as escolhas: de onde você faz as suas escolhas e quais são as consequências das escolhas que você faz. A escolha do meu personagem, por exemplo, o leva pra um lugar muito radical. Tem muita gente seguindo regras, fazendo escolhas que na verdade não é nada do que quer, mas faz porque outras pessoas esperam ou pra seguir uma ordem, a se questionar, já que aquilo pode vir a te ferir. A beleza da peça está na atualidade dela em questionar, nos tempos de hoje, o que as pessoas querem de verdade: compactuar com tudo o que tá ai ou gritar ‘vamos parar, eu quero que seja diferente’?”

Glamurama: A peça tem um caráter cinematográfico. Você acha que tem potencial para o cinema?
Reynaldo Gianecchini: “Ela tem um elemento que é quase um personagem da peça que é a luz. A luz é tão mágica, tão bonita… e junto com o figurino, a trilha sonora e as texturas, parece um sonho. Há uma magia no ar. Tudo é muito sensorial, talvez a mais bela que eu já vi, então acho que é cinematográfica sim.”

Glamurama: Seu personagem, Humayun, é extremamente obediente. Você se identifica com ele neste ou em outros aspectos?
Reynaldo Gianecchini: “A gente para muito pra pensar, me identifico muito com o sonhador. Nunca fui muito de tradição, de regras, mas a gente se pega também seguindo regras, querendo agradar… É uma coisa da maturidade. Tem gente que passa uma vida e não tem essa maturidade de entender que você não precisa agradar ninguém. Estou nesse ponto da minha vida, de entender que não precisa ser fofo, não se precisa agradar ninguém. Pode fazer suas escolhas do coração. Sinto muito se a outra pessoa não gostou. Mas isso só vem com a maturidade mesmo porque no geral as pessoas seguem mesmo sem questionar, querendo sempre agradar, sempre seguir a historia do pai, da mãe, ou do que a sociedade espera deles.”

Glamurama: A jornada dos dois amigos, personagens centrais da peça, nos questiona se vale a pena pagar um preço tão alto para atingir a perfeição. A perfeição é algo muito importante pra você? Até onde você iria por ela?
Reynaldo Gianecchini: “Não é tão importante para mim, quer dizer, não agora com as minhas terapias que estão me fazendo entender essa questão. Todo mundo quer ser tão perfeito, pra ter amor, que é como aprendemos como somos crianças, que só vamos ter amor se agradarmos a todo mundo. Não existe a perfeição, ela é muito relativa. Estou muito em paz em não ser perfeito, tudo bem não ser o melhor, tudo bem errar.”

Glamurama: Você passa uma paz muito grande.
Reynaldo Gianecchini: “Engraçado que todo mundo acha isso, mas na verdade tenho um mundo interno em ebulição, sinto que eu sou um vulcãozinho por dentro.”

Glamurama: Como era o Gianecchini aos 20 anos e como é hoje aos 45?
Reynaldo Gianecchini: “Totalmente diferente, com o foco em outras coisas. Fico impressionado como estou mudando. As minhas prioridades hoje são totalmente diferentes. Antes trabalho era o que mais me excitava e hoje tem outros departamentos na jogada. Isso é algo bem radical pra mim já que muda todo o meu foco. Não fico mais querendo fazer de tudo ou topando qualquer trabalho. Se ele [o trabalho] não vai me dar paz e vai ser um sacrifício que eu não queira passar, talvez eu diga ‘não’. Antigamente ia falar:  ‘vambora!’, e agora não. Quero que seja em harmonia, não to mais afim de trabalhar com gente mau caráter, o que muitas vezes acontece. Quando se é jovem quer testar tudo, conquistar o mundo, e quando a maturidade vem você não quer provar nada e nem conquistar tudo. Não quero mais fazer dez coisas ao mesmo tempo, não preciso.”Glamurama: O que você faz no seu tempo livre?
Reynaldo Gianecchini: “Às vezes nada. Adoro ficar em casa vendo Netflix com o meu cachorro. São nesses momentos que não estamos fazendo nada que tudo acontece, você entra numa onda criativa e começa a ter insights. São os momentos mais férteis, quando a cabeça esvazia e a mente se acalma um pouquinho, um espaço enorme se abre para que alguma coisa aconteça, e eu tenho feito isso direto. E fazer nada pode incluir uma praia – quer coisa mais gostosa do que acordar e dar um mergulho no mar, ou ficar tomando sol, ou com os amigos e família?”Glamurama: Algo concreto pra voltar voltar pra TV ou cinema?
Reynaldo Gianecchini:
“Pedi pelo menos um ano de férias na Globo, fiz a novela “A Lei do Amor” faz quase um ano, terminou em março, e foi um papel bem cansativo pra mim. Estou esperando… Acho que em março vai pintar alguma coisa pra mim, vamos ver. Sempre trabalhei muito e não quero fazer nenhum papel que eu não esteja totalmente apaixonado, caso contrário prefiro ter um tempinho de férias, de contemplar um pouco e ter tempo pra mim. Trabalhei a vida inteira de domingo a domingo e agora to sentindo falta de mais tempo. Não é só trabalho mais que tá me preenchendo, então eu decidi que só quero fazer as coisas que to muito realmente a fim. Tem muita coisa acontecendo o tempo todo e por isso tenho buscado cada vez mais esse equilíbrio, dar uma acalmada na mente. É um exercício que veio depois que eu fiz os 40 anos e depois que estive doente. Estou afim de ficar quietinho mesmo nesse momento.”Glamurama: Você ainda mantém contrato com o a Globo?
Reynaldo Gianecchini: “Sim.”

Glamurama: Como é sua alimentação?
Reynaldo Gianecchini: “Cada vez mais voltada para o vegetarianismo, gostaria de ser vegano. Tentei mas é muito difícil pra mim em alguns momentos. Como eu tenho uma vida muito louca, de não ter uma rotina e não ter mais uma estrutura – não tenho mais ninguém em casa para me ajudar, estou simplificando muito a minha vida -, fica difícil ter uma alimentação tão regrada quanto gostaria. Mas procuro ter uma alimentação mais saudável, mais orgânica, livre de industrializados e comendo cada vez menos carnes. Acho que não tem que ser nada forçado nem radical. É uma decisão muito de dentro. Se estiver com muita vontade de comer carne, vou comer, mas essa vontade tem sido cada vez menor. Tem sido muito orgânico pra mim não querer.”

Glamurama: Sua vida toda parece estar voltada para a simplicidade. 
Reynaldo Gianecchini: “Eu nunca tive muitas ambições materiais, não tenho por exemplo uma casa na praia, um sítio, helicóptero e etc… Nem tenho cacife pra isso (risos), mas também não gostaria de ter. As pessoas ficam muito escravas de um esquema e aí você não se liberta nunca, vai ter que sempre trabalhar horrores pra manter isso e é o que eu menos quero pra mim. Busco uma vida simples pra depender cada vez menos disso. Já fui duas vezes pra Índia e o país me ensinou muito, que a gente não precisa nem da metade do que a gente tem. A paz está na simplicidade e eu só quero ter paz, afeto, curtir a vida, simplesmente contemplar… estou nesse momento.” (Por Julia Moura)

Ensaio da pea “Os Guardas do Taj” de Rajiv Joseph, protagonizada por Reynaldo Gianecchini e Ricardo Tozzi || Créditos: Luis Vieira/Lusa

“Os Guardas do Taj”
Teatro Raul Cortez (513 lugares)
Rua Dr. Plínio Barreto 285 – Bela Vista
Sexta e Sábado às 21h
Domingo 18h
Ingressos:
Sexta R$ 60
Sábado R$ 80
Domingo R$ 70
Vendas: (11) 2626-5282 – www.compreingressos.com
Estreia dia 13 de Janeiro de 2018
Temporada: até 25 de Março

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