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Joyce em papo com Gabriela sobre violência doméstica || Créditos: Reprodução / Divulgação
Joyce em papo com Gabriela sobre violência doméstica || Créditos: Reprodução / Divulgação

“Tivemos um aumento de 30% na emissão de medidas protetivas durante essa quarentena”, esse foi um dos dados mais alarmantes sobre violência doméstica que Gabriela Manssur, promotora de Justiça do Ministério Público de São Paulo, dividiu com Joyce Pascowitch, em live realizada nesta segunda-feira. Esses números fazem parte do projeto Tempo de Despertar – grupo reflexivo e de ressocialização de autores de violência doméstica e familiar contra a mulher, idealizado pela promotora em 2014 –, que ainda atendeu quase 300 mulheres em menos de 15 dias de isolamento social.

Logo no início do papo, Gabriela, que também é fundadora dos projetos Justiça de Saia e Justiceiras, entre outros, fez questão de reafirmar que a promotoria tem como objetivo aproximar esse trabalho da sociedade, mostrar que está ao lado da população por um bem comum, ainda mais nessa fase que estamos passando. Abaixo, Glamurama mostra os pontos principais da conversa que pode ser conferida na íntegra no nosso Instagram.

Relacionamento abusivo: “Muitas vezes, violência é um termo muito forte, pois essa questão de relacionamento abusivo está um pouco atrás, mas gera consequências como a violência doméstica e até crime, quando causa alguma lesão ou fere algum direito adquirido constitucionalmente, além de prejuízos morais, profissionais, familiares… A mulher tem que ficar atenta porque um tapa já é crime de lesão corporal e isso é violência, mas está naquela linha tênue, em que muitas não identificam e postergam uma denúncia até que sejam vítimas de um crime. Por isso falamos sobre todas essas questões, para evitar que chegue ao feminicídio”.

Violência psicológica: “Inclui verbal, perseguição, comentários ofensivos… O comportamento abusivo está nos pequenos sinais e podem evoluir até serem considerados crimes. Amor, baixa autoestima por causa de diversos tipos de relacionamento ao longo da vida… muitas vezes não é “dedo podre”, mas a nota de corte da mulher é baixa e esse tipo de situação violenta pode parecer normal, pois vai entrando em um circulo intenso de agressividade. Para ter condenação neste tipo de violência, a mulher passa por uma avaliação técnica, com psicólogos e psiquiatras, pois é aquele tipo de situação que ela não enxerga, mas sente a violência. “Hoje, as mensagens de WhatsApp, por exemplo, já são consideradas provas de violência psicológica dentro de um contexto com outras comprovações”.

Causas e consequências: 80% dos casos que Gabriela tem conhecimento, seja por meio do Ministério Público ou nos projetos que atua, mostram que os agressores estavam sob o efeito de álcool e/ou droga no ato da agressão: “Isso pode não ser a causa, pois tem um comportamento pré-existente que é estimulado por essas substâncias. O perfil desses homens é sem antecedente criminal, mas com comportamentos machistas incentivados pelo álcool ou droga. Eu sempre falo para os homens: ‘Você bateu em um homem quando estava bêbado ou drogado?’ A bebida encoraja, mas ele não sai batendo em amigo ou outro homem.”

Crianças e adolescentes: “Eu os chamo de ‘Os filhos da violência’, que podem ser agressivos, usar álcool e drogas como válvulas de escape, ou se tornarem verdadeiros defensores e abraçarem causas. Muitas mulheres ficam para tentar manter a família, só que isso independe delas, o agressor só muda se ele quiser. Para ter uma ideia, 67,5% dos homens que vivenciaram violência doméstica repetem esse ato. Trabalhamos para eles não serem multiplicadores da violência, mas de mudanças. Conseguimos conscientizar e trazer para o debate, à reflexão. Sem querer ser muito otimista, tivemos uma diminuição de 65% para 2% de homens que passaram pela socialização que promovemos. Isso não é bom só para eles, mas pra elas, pois quantas mulheres pararam de sofrer com essas mudanças. As mulheres tem que entender que os filhos sofrem mais com a violência do que com a separação e não precisam abrir mão do seu direito à vida, liberdade e felicidade. Não podemos perder a dignidade, porque assim abrimos espaço para outras violências. As mulheres precisam buscar tratamentos para os filhos, fazer atividades físicas e intelectuais, buscar ajuda da família, conversar e não perder a autoestima dessa criança”.

Classe econômica: “Em todas elas existe violência doméstica. Para as mulheres mais pobres, a única forma de sair disso é ir na policia, ligar no 180 e procurar canais de ajuda. Já as mulheres das classes média e alta ainda têm muita vergonha, medo e costumam acionar advogado sem passar por delegacia, mas isso está mudando. O caso da Luiza Brunet mostrou que mulheres escolarizadas e bem sucedidas também são vítimas, e devem romper esse silêncio”.

Se proteja!: “A mulher é a defensora dela mesma, tem que entender e romper essa situação. Investir na prevenção, buscando conscientização do homem, tentar evitar o abuso de álcool e drogas, ciúmes e situações que servem de gatilho. Ela que tem que ser o termômetro dela. Se fortalecer, desenvolver os seus direitos, sem ser controlada e criticada, ser sua essência, caso contrário não consegue avaliar o que está passando. Tem o risco de morte, além de deixar de ser ela mesma, e isso envolve depressão profunda, desestruturação de amizades, trabalho, família. Recebo as mulheres no chão quando elas me pedem ajuda.”

Saia dessa: “A questão da violência ainda não é prioridade para os governos de modo geral. É culpa de toda a sociedade, de aceitação, mas as mulheres estão fortes e esclarecidas, e não aceitaremos retrocessos. Toda essa onda do feminismo, sem bandeira política e ideológica, é para lutar pelos nossos direitos. Independentemente de governo, vamos nos posicionar. Denunciem, é difícil sair, mas não pode subestimar porque você pode morrer todo dia na sua alma, deixar de sonhar, acabar com a autoestima e quem não sonha morre, e nós temos o direito de viver. Existe vida após a violência. O resto deixe nas mãos da justiça.”

Para saber mais acesse: @justiceirasoficial ou mande mensagem para (11) 99639-1212.

PM – Disque 190
Central de Atendimento à Mulher: Disque 180

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