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Lily Safra
Lily Safra, em sua casa La Leopolda, Sul da França em 1991. Foto: Slim Aarons/Hulton Archive/Getty Images

Acostumado a cobrir o mundo dos muito ricos para a “Vanity Fair”, para a qual escreveu entre 1984 até sua morte, em 2009, Dominick Dunne não era de se impressionar muito por histórias que não envolviam nada além de cifras vultuosas e todos os tipos de luxos inacessíveis para os mortais como talvez muitos pensam sobre o lendário repórter investigativo, que por mais de duas décadas foi o autor mais prestigiado pelos leitores da revista americana.

Ter muito dinheiro, portanto, não era atributo suficiente para chamar a atenção de Dunne, cujo real interesse era o mistério no entorno da aura dos personagens da vida real – do grand monde, claro, e também sempre riquíssimos – que chamava mais atenção do que seus pedigrees ou suas contas bancárias.

Nesse sentido, Dunne confessadamente nutria uma curiosidade ímpar por Lily Safra, a brasileira que mais circulou pelas altas rodas sociais internacionais em todos os tempos, e que morreu no último sábado, aos 87 anos, devido às complicações de um câncer no pâncreas contra o qual lutava havia tempos.

“Foi um dos casos mais marcantes da minha carreira”, Dunne declarou certa vez sobre o incêndio criminoso que resultou na morte, em 1999, do quarto marido de Lily, o banqueiro Edmond Safra, um dos inúmeros mistérios envolvendo a bilionária que renderam algumas das melhores reportagens do jornalista americano.

“Ela foi uma mulher muito poderosa e muito misteriosa. E notável em vários aspectos: foi alguém de origens razoavelmente modestas de classe média que chegou ao topo transformando-se em locomotiva social em Nova York, Londres e Mônaco, e também numa filantropa das mais conhecidas”, disse ao GLMRM Isabel Vincent, que foi amiga de Dunne e é autora das mais famosa biografia não autorizada sobre Lily – “Gilded Lily”, ou “Lily Dourada” em tradução livre.

“Lily foi intrigante porque chegou aonde chegou ao mesmo tempo em que viveu grandes tragédias em seu caminho. Acho uma pena que os brasileiros não tenham a chance de conhecer melhor a história dessa mulher fascinante”, Vincent completou, fazendo alusão ao livro lançado em 2010 no hemisfério norte mas proibido no Brasil pela justiça do país, que na época atendeu a um pedido formalizado por Lily para barrar a publicação de sua versão em português por aqui.

GLMRM concorda tanto com Vincent quanto com Dunne no que diz respeito à atração que Lily despertava por onde passava, e em sua homenagem nesse momento de despedida, listamos a seguir 5 daqueles que podem ser considerados como alguns de seus melhores momentos e maiores destaques. Continua lendo…

O chapéu que ela deu em um bilionário russo

La Leopolda
La Leopolda. Foto: Reprodução/ Oficial Roses

Em 2009, Lily vendeu sua famosa La Leopolda – a vila na Riviera Francesa construída no começo dos anos 1900 pelo rei Leopoldo II da Bélgica – que comprou em 1985, com Edmond, para Mikhail Prokhorov, um dos homens mais ricos da Rússia, que então pagou um sinal de US$ 55 milhões (R$ 294,2 milhões) pela propriedade.

O problema é que a crise financeira de 2008 acabou afetando as finanças de Prokhorov, que fez fortuna no segmento de metalurgia de seu país, e em razão dela quis desistir do negócio, em seguida pedindo a devolução do adiantamento milionário que desembolsou.

Lily não gostou nem um pouco disso, e entrou na justiça para evitar ter que devolver a bolada para ele, finalmente vencendo a disputa nos tribunais em 2012. Já os US$ 55 mi pagos por Prokhorov foram doados por ela para a caridade depois dessa vitória judicial.

Frise-se que a La Leopolda é considerada a casa mais cara do mundo, com um valor estimado entre US$ 500 milhões (R$ 2,7 bilhões) e US$ 750 milhões (R$ 4 bilhões), e depois da venda malsucedida para Prokhorov nunca mais foi listada nos classificados novamente por sua falecida proprietária.

Ela já foi dona da escultura mais cara do mundo

L’Homme qui marche I de Alberto Giacometti. Foto: Divulgação

Em 2010, Lily chacoalhou o mundo das artes quando desembolsou nada menos que US$ 104,3 milhões (R$ 558 milhões) por uma escultura do suíço Alberto Giacometti leiloada pela Sotheby’s de Londres, tornando-a a mais cara da história vendida no martelo.

A obra intitulada “L’Homme qui marche I”, de 1960, deteve esse título até 2015, quando uma outra de Giacometti (“L’Homme au doight”, de 1947), foi arrematada em um leilão da Christie’s de Nova York pelo bilionário americano Steven A. Cohen, por US$ 141,3 milhões (R$ 755,8 milhões).

O leilão multimilionário das joias dela

Uma das maiores colecionadoras de joias de sua época, Lily decidiu se desfazer de parte de seus diamantes, rubis e afins em 2012, e em prol da caridade. Numa parceria com a Christie’s, a bilionária leiloou 70 de seus blings, dos que ganhou de seus maridos e dos que adquiriu por conta própria, e inclusive alguns assinados por Joel Arthur Rosenthal, o JAR, o recluso e seletivo joalheiro americano radicado em Paris que escolhe suas clientes a dedo, e tinha nela uma de suas maiores e mais fiéis.

A princípio, a Christie’s esperava levantar US$ 20 milhões (R$ 107 milhões) com o leilão beneficente, cuja integralidade dos lucros foi prometida para várias ONGs apoiadas por Lily ao redor do mundo. Mas o resultado foi ainda melhor, com quase US$ 38 milhões (R$ 203,3 milhões) levantados, e a soma extra também foi doada para entidades assistenciais de todos os cantos e segmentos.

As amizades estreladas que ela teve

Sir Elton John com Lily Safra. Foto: Kevin Mazur/WireImage

Poucos brasileiros tiveram tantos amigos famosos e poderosos como Lily, que contava a duquesa da Cornualha, Camilla Parker Bowles, e o príncipe Charles, os futuros rainha consorte e rei da Inglaterra, entre seus mais chegados. De fato, Lily foi a única brasileira convidada para os dois casamentos reais mais importantes da realeza britânica dos últimos anos: o de Kate Middleton e do príncipe William, em 2011, e o de Meghan Markle e do príncipe Harry, em 2018, sendo este de quatro anos atrás o único que a socialite não testemunhou.

Lily também era amiga pessoal de Michael J. Fox, cuja fundação que investe nas pesquisas pela cura do mal de Parkinson a tinha como maior doadora, e de Elton John, talvez seu bff mais famoso, e também beneficiário de muitos de seus milhões para investir em sua fundação homônima que banca programas de prevenção ao HIV. Apenas para as duas entidades, Lily enviou cheques que totalizam mais de US$ 40 milhões (R$ 214 milhões).

A doação milionária que ela fez para a Notre-Dame

Contando apenas as doações que anunciou para a imprensa, sempre buscando incentivar outras pessoas a fazerem o bem, Lily destinou mais de US$ 250 milhões (R$ 1,3 bilhão) de suas contas para inúmeras causas. Mas nenhuma de suas boas ações financeiras rendeu mais manchetes do que o cheque de € 20 milhões (R$ 107,8 milhões) que mandou, em 2019, para os trabalhos de restauração da Notre-Dame de Paris, a catedral mais famosa da capital da França, que quase sucumbiu ao incêndio que sofreu naquele ano e que chocou o mundo.

A soma, aliás, foi outra que saiu do próprio bolso de Lily, ou seja, como pessoa física e sem nenhum tipo de contrapartida, como eventuais compensações fiscais. Tudo isso servia para torná-la tão intrigante quanto seu vasto patrimônio, ou como bem resumiu Dunne em um de seus textos em que a abordava: “Lily Safra é uma daquelas pessoas que possuem um ar de riqueza tão natural que imediatamente as tornam destaques pelos lugares que passam”. E Lily se destacou mesmo. E não foi por pouco.

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