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Crédito: Reprodução/Instagram

Grifes de luxo reinventam o equilíbrio entre ostentação e discrição, mas quem vai decidir o que é certo ou o que é chique são os novos titãs do tabuleiro da moda.

No fulcro da tensão entre ostentação e discrição, encontra-se uma indústria que se reinventa constantemente. Seu desafio atual? Conciliar a ascensão do “quiet luxury” — o luxo discreto, que se distancia da necessidade de exibir logomarcas — com um público que ainda anseia pelo glamour identificável das grandes grifes.

Em um mundo cada vez mais globalizado, com um número crescente de pessoas ascendendo à riqueza, o “quiet luxury” pode ser entendido como uma resposta à saturação visual e à cacofonia de símbolos que definem o “novo rico”. Não é apenas uma moda, mas um reflexo da complexidade do capitalismo contemporâneo, onde marcas desejam ser simultaneamente inclusivas e exclusivas. Ele serve como uma espécie de “linguagem silenciosa do poder”, similar ao papel que as pérolas desempenharam na moda do século passado.

Contudo, essa busca pela discrição não é um fenômeno moderno. Rebobine a história para a Roma Antiga, onde, paradoxalmente, os cidadãos mais ricos frequentemente se vestiam de maneira modesta para evitar o olho público, enquanto usavam anéis de sinete intricados como um sinal discreto de status. Naquela época, como hoje, a moda servia como um campo de batalha onde se negociava a visibilidade do poder.

E enquanto o “quiet luxury” atrai muitos adeptos, especialmente entre os mais jovens que prezam a sustentabilidade e a ética, a logomania não desapareceu. O desejo de “mostrar que chegou lá” é uma constante humana, tão antiga quanto as pirâmides do Egito ou as joias da monarquia. Pode até ser considerado parte de nossa evolução, uma forma de comunicação não-verbal que diz: “Eu tenho sucesso; portanto, sou valioso.”

Marcas de luxo, atentas a esse dualismo, estão adotando uma abordagem híbrida. Coleções recentes têm incorporado peças que, à primeira vista, podem parecer destituídas de logos, mas um olhar mais atento revela monogramas delicadamente costurados ou emblemas sutilmente colocados. A ideia é oferecer opções para todos os gostos, permitindo que a individualidade — essa moeda cada vez mais valorizada — seja expressa de múltiplas formas.

Um exemplo disso é a ascensão de acessórios “statement” com múltiplas funcionalidades. Imagine uma bolsa Hermès que, além de seu design icônico, oferece compartimentos secretos para tecnologias sustentáveis, ou um relógio da Patek Philippe que é uma obra-prima da engenharia além de um indicador de status. Essas são as novas linguagens não-verbais que gritam elegância e sucesso, mas apenas para aqueles que sabem onde olhar.

Outro fenômeno intrigante que surge nesse panorama é o advento do marketing de antagonismo, uma abordagem de publicidade que se posiciona ousadamente contra correntes populares para chamar a atenção. Pode parecer contra-intuitivo, mas essa técnica de publicidade parece ter encontrado seu momento perfeito justamente com a ascensão do “quiet luxury”.

O luxo discreto oferece uma espécie de retiro silencioso dos excessos visuais, e o marketing de antagonismo cria um barulho deliberado, provocando diálogos e desafiando convenções. Ambos, de maneira curiosa, se beneficiam da mesma atmosfera cultural: uma sociedade saturada de informações, faminta por autenticidade e significado. Neste contexto, marcas podem optar por um ou outro ou, de forma mais astuta, utilizar ambos em uma estratégia bem orquestrada, tornando o silêncio e o ruído dois lados da mesma moeda de engajamento e relevância.

O cenário atual é um retorno ao equilíbrio, uma dança entre o ostensivo e o discreto. As grandes marcas não estão apenas vendendo produtos, mas sim narrativas, emoções e, mais importantemente, identidades. E em uma realidade onde o personalizado é o novo padrão, o luxo agora tem múltiplas faces, cada uma adequada para diferentes públicos, ocasiões e, claro, estados de espírito.

Afinal, a verdadeira arte da moda sempre esteve em saber ler a sala — ou neste caso, o mundo. Seja com uma bolsa Gucci clamorosamente estampada ou um terno Armani sutilmente elegante, a mensagem continua sendo uma só: o luxo autêntico é aquele que permite que você seja inconfundivelmente você mesmo.

Na era contemporânea, onde a celebração da individualidade está em ascensão, a moda se torna não apenas um estilo, mas um testemunho eloquente de quem realmente somos. Este cenário configura o terreno fértil para a afirmação de luxo mais potente de todas, especialmente para a nova classe de consumidores que agora detém o poder de ditar as regras do jogo.

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