Como Glamurama contou, Vera Fischer está de volta às novelas em “Espelho da Vida”, próxima das seis da Globo. No final do evento de lançamento da trama, na noite dessa terça-feira no Teatro Riachuelo, no Rio, a gente foi conversar mais um pouco com a atriz sobre essa nova fase profissional. Foram seis anos longe da TV, desde que ela fez “Salve Jorge” – e reclamou publicamente da personagem, o que teria resultado em uma geladeira.
“Mas vocês olharam pra mim nesses anos todos?”
“Aceitei esse convite porque o Pedrinho Vasconcellos [diretor] deixou um recado no meu telefone e disse que ia me tratar como trata a mãe dele. Eu respondi que a reverência e o carinho, tudo bem, mas menos, menos. Mãe não”. Sobre esse retorno… “Mas vocês olharam pra mim nesses anos todos? Não olharam. Isso porque eu não estava lá fora, estava em casa. Não fiz novela porque não me chamaram. Tem que perguntar pra TV Globo por quê. A gente nunca sabe. Foram seis anos sabáticos. Aí fui fazer teatro. Mas me pergunta se esse tempo no teatro não me ajuda agora pra fazer a novela… Agora se a cadeira cai [em cena], eu falo com a cadeira… É ótimo porque a cena não para. Ao invés de ter que gravar de novo, você aproveita tudo. O teatro te ensina porque você não pode parar. Aprendi muito no palco a ter jogo de cintura”.
Um possível encontro entre o seu personagem e o do Felipe Camargo na trama?
“Eu sou uma boa atriz, ele é um bom ator. Vai ser uma felicidade se a Elizabeth Jhin escrever que a gente vai ter um caso, a gente vai ter, ué? Mas na vida real não. Ele é casadíssimo e tem um outro filho lindo.”
“Vai que precisa numa hora de emergência?”
Perguntamos se, durante esse tempo afastada da TV, ela teve medo de ser demitida. “Nunca tive medo porque sabia que nunca houve uma mulher como Gilda”, disse a atriz, em referência ao icônico filme de Rita Hayworth. “Lá pra Globo, nunca vai ter alguém como Gilda, então eles não podem dar mole. Vai que precisa numa hora de emergência?”
“A Maitê faz monólogo. Desculpa!”
Comentamos que a Maitê Proença, da mesma geração, saiu da emissora. “Saiu, não, foi saída. Pluft! Mas, digamos, qual a diferença? Medo a gente tem de várias coisas… Mas em teatro boto 10 atores no palco e faço drama do Tennessee Williams e nego vai lá ver. A Maitê faz monólogo. Desculpa!”
“Não gosto de novela com gente gritando em baianês”
Então a gente falou sobre essa demanda da Globo por atores muito produtivos, que emendem um trabalho no outro. “Não é que não preciso emendar. Nunca precisei e na minha época não era assim. Comecei a fazer novelas, eu já era a Vera Fischer há muito tempo, você sabe. Desde 19 anos, Miss Brasil, uau, Brasil inteiro! Uau! Todo mundo já me conhecia. Com 26 anos eu já era um monte de coisa e aí entrei na TV Globo. E era Janete Clair, Dias Gomes, Lauro César Muniz…. Eram outras coisas. Entendeu? Depois teve coisa boa e tal, mas agora… Ah, eu gosto disso, closes que dizem muita coisa, uma mão, uma lágrima. ‘Espelho da vida’ é bonita, tem gente bonita e mesmo os mais velhos são bonitos porque têm o que dizer, tem expressão, cara! Não gosto de novela com muita gente gritando em baianês, desculpa. Não gosto. Um bando de gente, e um monte de gente do mal, querendo que o malvado não morra. Pra que isso?”
“Já me emputeci muito com a Kefera”
Sobre Kefera, a youtuber e atriz que faz sua estreia em novelas em “Espelho da Vida”… “Ela é a melhor pessoa de 20 anos que conheço… Já me emputeci muito com a Kefera e já falei muito mal dela porque ela não tinha respeito no teatro. Quando acho ela engraçada, é engraçada. Mas vejo a Kefera quando contracena, ela tem um jogo… É pra ficar séria, ela fica. Está aprendendo. Acho bacana que não é na hora da gaiatice. Ela faz a sério. A Vitoria Strada [a protagonista] não contracenei ainda, mas vejo de longe e também é muito séria. São meninas bonitas e sérias. Eu também era muito séria quando comecei”.
“Um monte de pornochanchadas”
Sobre a fase… “Até 25 anos fiz show de Canecão [famosa casa de espetáculos carioca] com Miele, ‘Trapalhões’ e muitos filmes, um monte de pornochanchadas, Ronald Golias, mas não me considerava atriz. Realmente não. Com 25 anos, eu e o Perry [Salles, marido dela na época] fizemos um filme – e ganhei todos os prêmios. Cortei meu cabelo curtinho, sem maquiagem, óculos de grau. A partir dali me considerei atriz. Aí o Lauro Cesar Muniz me chamou pra fazer a novela ‘Espelho Mágico’ na Globo. Mas não era o personagem principal. Logo no segundo papel já era Dias Gomes, ‘Sinal de Alerta’, papel principal”.
Frases de Odete Roitman: “Diria tranquilamente hoje”
Sobre o politicamente correto de hoje em dia… “Não vi na época o ‘Vale Tudo’, estou vendo agora [reprises] só por causa da Odete Roitman. E não vejo a malvadeza dela. Vejo ela dizendo frases que eu diria tranquilamente hoje, que não é o politicamente correto, mas pra mim, que sou de uma cultura europeia, acho perfeitamente normal”. Nessas frases, a personagem desdenha do povo brasileiro – que ela chama de “jeca” -, especialmente dos pobres.
#metoo: “Tem que ver muito bem o que é assédio e o que é um galanteio”
E se o assunto descamba para assédio sexual… “Vou responder a mesma coisa que vi na entrevista da Marilia Gabriela para o Bial. Ele perguntou se ela está de acordo com o movimento ‘Me Too’ americano ou francês… Francês! Francês! Sou da turma da Catherine Deneuve… Odeio mimimi e gosto dos homens. Tem que ver muito bem o que é assédio e o que é um galanteio. Eu sempre me virei sozinha muito bem porque meu pai me ensinou. Ele dizia: você tem que se defender sozinha”.
“Essa Asia Argento… Acho ela nojenta”
E mais: “Já me senti ofendida no trabalho, sim, mas acho horrível a pessoa com 50 anos vir falar que com 20 aconteceu isso ou aquilo. Essa [ativista] Asia Argento… Acho ela nojenta, pra combinar com o nome. Ela levantou o ‘Me Too’, mas pagou para aquele carinha [Jimmy Bennett, ator que era menor de idade], diz que não teve nada [relações sexuais], mas pagou. Aquele cara, o chef [Anthony Bourdain], namorava ela dois meses antes de se matar… Que relação eles tinham? O cara namorava a Asia, que pagou esse cara, se matou e era ele que pagava o cara… Que diabo de gente era aquela? Não! Pra cima de mim, não, meu bem! E ela é a rainha do ‘Me Too’… Ah, manda embora essa moça. Tá furado esse ‘Me Too’ com essa mulher. Sempre tive uma desconfiança brutal dessa mulher e também não gosto dessa gente nhenhenhém, dessa patrulha”.
“Eu quando era nova, muitos diretores da Globo e de cinema que vocês conhecem…”
Como assim, Vera? “Tem coisas que são galanteios… E nunca ninguém meteu a mão em mim – porque eu não deixei. É uma questão de atitude! Eu quando era nova, muitos diretores da Globo e de cinema que vocês conhecem, e também gente que já morreu, que… Mas eu tenho atitude! Inventava coisas e me livrava. Agora só porque tem uma turminha então pode reclamar de coisas de 20 anos atrás? Não gosto disso. Sou mais da turma da Deneuve. Tudo que é exagero, over, está errado”. (por Michelle Licory)
- Neste artigo:
- espelho da vida,
- Maitê Proença,
- me too,
- Vera Fischer,