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Em seu livro de estreia, a escritora e psiquiatra Natalia Timerman relatou as experiências vividas com pacientes de um hospital penitenciário. Ano passado, foi indicada ao Prêmio Jabuti por sua publicação de contos, ‘Rachaduras’, e agora, lança seu primeiro romance ficcional, ‘Copo Vazio’, em que aborda a relação da mulher com o abandono quando o outro parte sem se despedir

por Carol Sganzerla

Em 2015, Natalia Timerman entrou para um curso de formação de escritores no Instituto Vera Cruz e deveria pensar em um projeto de livro como trabalho final. “Lembrei que tinha vivido uma situação de ‘ghosting’ [prática de terminar um relacionamento sem aviso prévio, ignorando qualquer contato] e percebi um sofrimento desproporcional. Ao mesmo tempo, fui vendo que na clínica isso era algo recorrente”, conta a psiquiatra. Assim, Mirela e Pedro ganharam vida pelas mãos de Natalia, que levou quatro anos, duas recusas de editoras e algumas versões até ‘Copo Vazio’ ganhar um ponto final e ser lançado pela Todavia no mês passado.

O romance conta a história de uma arquiteta bem-sucedida que conhece Pedro por um aplicativo de encontros, eles começam um relacionamento e, certo dia, sem qualquer pista nem explicação o companheiro some, deixando a protagonista sem rumo e ávida por respostas. A partir daí, Mirela precisa lidar com seu sofrimento, sua solidão e sua vulnerabilidade. “Ainda hoje, muitas vezes é motivo de vergonha para mulheres independentes sofrerem por amor. É uma camada a mais de sofrimento para elas se verem tão vulneráveis, como se não tivessem o direito de sentir aquilo que estão sentindo”, observa a escritora paulistana. “O discurso do empoderamento feminino é lindo e importante, mas ele não significa uma mudança imediata e essa fragilidade acaba ficando sem lugar.”

Natalia comemora o retorno que tem recebido de muita gente que se identifica com o comportamento e atitudes de Mirela. “O amor é um tema universal. Não é fácil escrever sobre amor porque há um risco muito grande de cair no clichê. É preciso coragem para falar de sentimentos. Tenho gostado o quanto o livro está reverberando porque é como se a gente não tivesse o direito de sofrer por amor por ser um problema menor e estamos sofrendo por tantas coisas neste momento. É como se isso não tivesse lugar. Mas sempre tem”, acredita. “Estou quase agradecendo aquela história por ter acontecido.”

Por ‘Rachaduras’ (ed. Quelônio), seu livro de contos, a escritora de 40 anos foi indicada ao Prêmio Jabuti, em 2020, ao lado de nomes como Jarid Arraes e Veronica Stigger. “Levei um susto quando soube. São essas alegrias verdadeiras. É algo que fica”, resume. Sua primeira publicação, ‘Desterros’ (ed. Elefante), de 2017, conta histórias de pacientes que ela atendeu durante oito anos no Centro Hospitalar do Sistema Penitenciário. “Lembro de um homem que tinha HIV, daqueles muito magros, e ele decidiu que não ia morrer. Eu pensava, ‘por quê?’. Apesar da dor, ele queria continuar. Talvez, a gente esteja precisando disso. Trabalhando lá, aprendi que os meus parâmetros não servem. Talvez essa pessoa tenha me ensinado uma força de vida que não conhecia, e que a gente necessita tanto hoje”, pontua.

Atualmente, ela vem se dedicando a um novo romance, uma autoficção, que tem como eixo a história de seu pai, o médico infectologista Artur Timerman, referência no combate de doenças infecciosas no Brasil, morto dois anos atrás em decorrência de um linfoma. “É sobre morte, sobre luto. Ainda falta escrever.”

 

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