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Toda vez que Maxwell Alexandre ouve alguém dizer que ele retrata o cotidiano da Rocinha, favela da zona sul do Rio de Janeiro onde nasceu e vive atualmente, já sente “um bode”. A definição, “apesar de ótimo headline”, segundo ele, é uma grande redução do seu trabalho. “Quando você nomeia algo, já limita”, acredita. O artista, que desenha desde criança e se viu fisgado pela pintura nas aulas de Eduardo Berliner, quando cursava design na PUC-Rio, lembra que passou muito tempo desenvolvendo pinturas abstratas, como o trabalho “Wallride Painting”, no qual pigmentos de tinta registram o percurso dos patins em cima de uma tela. Sua série “Pardo É Papel”, que dá nome à exposição que passou pelo Museu de Arte do Rio e pelo Instituto Tomie Ohtake, em São Paulo, no entanto, continua sendo a mais difundida.

Cortesia da Galeria David Zwirner

Neste trabalho, que começou em 2017, Maxwell pintou autorretratos em folhas de papel pardo e percebeu ali, para além da potência estética, o ato político de representar corpos negros sobre o pardo, já que essa cor também tem sido usada para velar a negritude.  

“Sempre pensava na minha vida como uma aventura, um anime, e isso fazia com que eu alimentasse meu imaginário”

Maxwell Alexandre

Mas a escolha dos materiais que utiliza, entre tijolos e graxa, por exemplo, não está sempre embasada em questões semânticas. “Quando falo do meu lugar, é um lugar de escassez e é a partir dessa escassez que escolho os materiais que são acessíveis”, diz. “Também hoje, como já tenho um pouco de chão, é quase como se eu não precisasse pesquisar o meu assunto.”

Cortesia da Galeria David Zwirner

Antes de decidir se dedicar à arte contemporânea, sua paixão era o patins street e a opção em cursar faculdade de design, a princípio, foi uma forma de buscar ferramentas para promover o esporte. Naquele momento, Maxwell tinha dois medos: o de acabar em um emprego formal, o que representava, para ele, “quase uma prisão”, e o de ter uma “vida comum”, aquela de quem completa a escola, começa a trabalhar e constitui família. “Sempre pensava na minha vida como uma aventura, um anime, e isso fazia com que eu alimentasse meu imaginário”, conta. Durante o período de estudante, o único trabalho que aceitou foi um que lhe rendia R$ 300 por mês e exigia menos de meia hora por dia – consistia em atualizar uma tabela com preços de pneus –, o que lhe dava tempo para se dedicar à pesquisa. “Minha mãe ficava me cobrando e eu dava uma de cínico. Fui estudante muito tempo”, lembra o artista, que hoje vive não só para a sua arte, mas também dela.

* Matéria originalmente publicada na Revista J.P, do grupo Glamurama

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