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Luana Génot
Foto: Jorge Bispo

“De maneira geral, nós mulheres sempre fomos tensionadas a sermos mais fortes. Mas, ser uma mulher negra, de fato nos inclina a uma dupla camada de opressão”.  A reflexão da empresária, apresentadora e mestra em Relações Étnico-Raciais Luana Génot entrega um breve direcionamento do que encontrar nas páginas de “Mais forte: Entre lutas e conquistas”, seu novo livro, lançado pela Editora Objetiva. Sincero e direto ao ponto, a obra é um convite para sermos mais solidários e conscientes do lugar que ocupamos ou que gostaríamos de ocupar.

Com reflexões e episódios da trajetória de Luana, um dos nomes mais representativos no mundo corporativo e na promoção da igualdade racial no Brasil, a publicação joga luz em discussões sobre temas fundamentais para a nossa sociedade. “No meu lugar de fala, enquanto mulher negra, sempre vou para a questão do ‘mais forte’. Começo o livro falando sobre essa posição que nos foi imposta e o quanto essa é uma visão colonial, que vem do tempo da escravidão”, conta ela sobre o livro, em que também divide suas vivências e opiniões sobre os mais variados temas, como autoestima, beleza, ancestralidade, maternidade e empreendedorismo.

Tendo como fio condutor a palavra “forte”, usada por muito tempo para definir o que as mulheres negras deveriam ser, Luana luta para que não precisem desempenhar o papel que esperam delas para conquistarem espaço na sociedade. “Temos que colocar esse ‘mais forte’ em perspectiva, ao mesmo tempo entendendo como o fato de sermos constantemente tensionadas por uma estrutura acaba nos fortalecendo”, ressalta a autora. Ao longo da narrativa, é perceptível como a questão racial foi se tornando o filtro pelo qual ela passou a enxergar o Brasil e o mundo. Assim, percorrendo lembranças dos tempos de menina até a idade adulta, a autora fala de suas origens, de racismo estrutural e do impacto da religião em sua formação.

O olhar curioso e atento de Luana revela a urgência do engajamento de todos para uma sociedade mais justa e fraterna. “Usamos essa palavra (força) com exagero, como se bastasse força para gente avançar, conquistar, enquanto essa força, apesar de ser uma tensão que nos propõem aprendizados, também é cansativa. Por isso trago essa reflexão no livro: não é só sobre força, mas a forma como o sistema está constituído e que precisamos questioná-lo para que seja calibrado e por entender que partimos de perspectivas diferentes”, explica.

Foto: Jorge Bispo

Perspectivas diferente

“No mercado de trabalho, por exemplo, a força sempre está relacionada ao masculino e a mulher negra é duplamente cobrada, tanto pela questão do machismo quanto pela do racismo. Ela tem que ser mais forte também para entender que as perspectivas de onde ela parte não são iguais as das mulheres brancas. Sabemos que enquanto uma negra ainda estava sendo escravizada, uma branca da elite já ia para a universidade. Enquanto essa mulher branca alcançava conquistas, a mulher negra lutava por liberdade. Mesmo que as duas estejam na luta contra uma estrutura machista, são patamares diferentes no que se diz respeito às conquistas.”

A força da mulher no mercado de trabalho

“Nos esforçamos muito falando sobre a trajetória das mulheres no mercado de trabalho e, nesse caso, mais sobre as mulheres brancas, geralmente elas têm mais tempo de estudo do que os homens, se esforçam para estudar mais, dedicar mais, qualificar mais, mas não conseguem cargos tão bons quanto os deles. Somos criados sob a ideia da meritocracia, que todo mundo que empenha uma determinada força consegue chegar em um resultado quase padrão. Mas a realidade não é assim, e quando você percebe que as recompensas não são iguais, por maior que seja a força que você coloque nisso, e essa indagação desestabiliza por saber que você não vai avançar como a forma esperada.”

Consciência do lugar que ocupamos

“Ao entender que não é só sobre força, mas como entendemos o sistema da forma como ele está constituído, começamos a lidar melhor com essa situação. É importante questionar se essa força é justa como parte de um sistema que foi moldado e pensado especialmente na perspectiva de homens brancos, heterossexuais, cisgeneros, de classe alta, e que qualquer um que não se encaixe neste padrão não vai conseguir chegar ao mesmo resultado, mesmo que coloque o nível de força. “Nascemos passos atrás. E é ai que mora a questão: isso não me torna menor, mas vou ter que aprender a criar estratégias para lidar com esse fato”.

Recalibrar o sistema

“Não adianta partir da premissa que somos todos iguais, como se esse pensamento anulasse os efeitos da sociedade quando, na verdade, não anula o fato de eu ter duplamente a chance de ficar desempregada ou que a cada 23 minutos jovens negros são assassinados. Meu pensamento ou a minha fé não acabam com isso, então o primeiro passo para mudar é detectar que faço parte de um sistema, assim consigo dar nome ao que acontece comigo, identificar e dizer o que é racismo, machismo, etc… e começo a criar defesas. Além de coletivamente me aliar às pessoas que estão na mesma luta ou são aliadas da minha luta e pleitear mudanças coletivas, politicas públicas e privadas.”

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