Andrea Beltrão ataca em dose dupla no novo filme do diretor Gustavo Rosa de Moura, “Ela e Eu”, que estreia nesta quinta-feira (21) nos cinemas. Aos 58 anos, a atriz é uma das protagonistas do longa e, pela primeira vez, atua como roteirista. No enredo, Bia, sua personagem, acorda do coma após 20 anos e fez com que a atriz tivesse o desafio de entender como a vida é para quem se recupera de um estado vegetativo.
Convidada pelo diretor, Andrea Beltrão deu passos de tartaruga até aceitar trabalhar na história como roteirista. Aos poucos, os dois trocaram mensagens e ideias para o filme que, a princípio, seria do gênero comédia. Quando os dois menos esperavam, a parceria estava formada e “Ela e Eu” ganhava cada vez mais vida.
“Eu não sou roteirista de cinema, então, é muito difícil contar uma boa história”, diz a atriz ao GLMRM. No entanto, parece que Andrea gostou tanto de se aventurar na área que já até começou a trabalhar em uma nova possível série com Gustavo. Os detalhes da novidade, até o momento, acabam por aqui.
Construção da personagem
Para dar vida à Bia, quem lhe rendeu o prêmio de melhor atriz no 54º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, em 2021, a artista contou com a ajuda do diretor e de colegas de elenco, como a atriz Mariana Lima, que vive Renata no longa e levou um livro essencial para a construção da personagem.
“A Mariana levou um livro que me ajudou muito sobre como uma neurocientista percebeu ter um AVC (Acidente Vascular Cerebral). Também teve uma médica que acompanhou o filme, a doutora Cristina, contando sobre o quadro evolutivo daquela mulher que acorda 20 anos depois. A Márcia Rubim, uma diretora de movimento que é bailarina e coreografa, também acompanhou a filmagem diariamente”, revela Andrea.
Com um panorama em mãos de cada etapa do processo evolutivo, a atriz entendeu como seu corpo deveria performar em “Ela e Eu”. Exemplo disso é quando a personagem está, sutilmente, aprendendo a levantar a mão novamente.
“A gente criou [uma ideia] de como gostaríamos de ver a Bia e aí fomos todos nessa direção juntos – eu fui interpretando ela em nome de todos nós”, conta.
Andrea ainda diz que sua personagem lembra a infância, época da vida em que nos maravilhamos com tudo ao nosso redor, mas esquecemos da sofisticação de um movimento simples como o de levar um copo d’água até a mesa.
“A Bia representa as nossas falências, nossa limitação e nossa dificuldade,” complementa.
Apesar dessa entrega profunda, Andrea não conseguiu acompanhar um caso real de uma pessoa que acordou do coma para inspirar sua personagem. “Eu até tentei, mas me deixou mais triste do que me ajudou”, entrega.
À lá cinema francês
Cuidado! Essa parte contém spoilers sobre “Ela e Eu”.
Para o diretor, Gustavo, “Ela e Eu” é um filme sobre surpresa – seja o despertar de Bia ou sua morte. A decisão de matar a personagem ao final do longa aconteceu por alguns motivos, segundo ele.
Os estudos da produção mostraram que a maioria das pessoas que superam esse tipo de quadro e acordam de um coma duradouro, não vivem muito tempo. Apesar desse ser o primeiro motivo apresentado pelo diretor, ele considerava o menos importante. A razão com maior destaque veio de uma verossimilhança filosófica, que exalta a sensibilidade de “Ela e Eu”, ou seja, a mensagem por trás do longa:
“O filme fala o tempo todo sobre o inesperado, sobre as coisas que acontecem na vida o tempo todo – a morte é uma delas.”
Ao concluir, Gustavo explica: “A Bia não morre devagar como muitas pessoas morrem, né? Ela morre assim como entrou e acordou do coma: de repente.”
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