A entrevista estava marcada para às 14h, mas minutos antes do horário, a sala de espera do aplicativo de videochamadas já apontava que tinha alguém querendo entrar. Era Luka Peros, o ator croata intérprete de Marselha em “La Casa de Papel”. Inclusive, como não poderia ser diferente, este foi o primeiro assunto da conversa.
Luka lembrou como foi o processo para entrar no casting de uma das séries mais famosas da atualidade, “recebi uma ligação da minha agente quando estava de férias na Croácia, a audição era para o papel de Bogotá. Durante as três semanas em que estive lá, antes de voltar para Madri, me preparei para isso, ensaiei as falas e trabalhei duro no espanhol”, contou o ator que revelou falar oito línguas. Cinco delas fluentemente – croata, alemão, inglês, espanhol e sérvio – e outras três – italiano, francês e português – nas quais “consigo me virar”. A resposta veio um mês depois e, como você deve imaginar, foi negativa: “Fiquei chateado, mas logo em seguida já perguntei se eles não tinham nenhum outro papel. E tinha, o Marselha”.
A entrevista segue e é fácil perceber o bom humor, muitas vezes ácido, de Luka. Para ele, o sucesso mundial do seriado espanhol se deve ao bom entretenimento que a trama entrega. “Tínhamos personagens para todos os tipos de audiência, ação, drama, mistério e um pouco de história de novela também. Era uma bela mistura de vários formatos de entretenimento e todos feitos muito bem”, afirmou o ator que recordou quão detalhista era a equipe por trás das câmeras: “Era um trabalho meticuloso, eles gastavam muito tempo para preparar a cena, achar o ângulo ideal, tornar aquilo o mais interessante e ativo possível, imergir o telespectador naquela situação. Para você ter uma ideia, para gravar só um episódio eles já chegaram a levar 32 dias de gravações. Curta metragens são feitos em menos tempo, mas é o preço que se paga para ser um sucesso no mundo inteiro”.
“Para gravar só um episódio levamos 32 dias de gravações. É o preço que se paga para ser sucesso no mundo inteiro”
Luka Peros, o Marselha de “La Casa de Papel”
Gravações durante a pandemia
“Profissionalmente, a pandemia foi bem negativa para mim, para ser sincero. Tínhamos uma energia diferente no set. Fazer um filme, uma série, o que seja, é um esforço coletivo, como em um circo, a gente se toca muito e estamos sempre próximos para fazer com que aquilo aconteça. E aí, do nada, todos estão com máscaras, não se pode mais abraçar, dizer ‘oi’, sentar perto, almoçar com quem você quiser. Tudo ficou muito impessoal e eu não gostei nada disso. O processo também ficou muito mais lento por conta das restrições. Eu e minha família conseguimos passar bem, na medida do possível. Nos apoiamos, conversamos bastante, tentamos entreter uns aos outros e tínhamos estabilidade financeira, ou seja, uma preocupação a menos. Fui sortudo, muita gente não teve a mesma sorte. Quanto tempo isso ainda vai durar? Eu não sei, só quero voltar a um certo nível de normalidade. São tempos difíceis, mas os seres humanos são resilientes. Vamos sobreviver a isso”.
Onde Brasil e Croácia se encontram
“Sei que tenho muitos fãs no Brasil. Para falar a verdade, a maioria dos meus seguidores no Instagram são brasileiros. Quero muito conhecer o país. Minha esposa é carioca, de Copacabana, estamos juntos há 11 anos e ainda não fui. Quando eu tinha dinheiro, não tinha tempo. Quando tinha tempo, não tinha dinheiro. O velho paradoxo. Tinha esperanças de ir no Natal do ano passado, mas tive que trabalhar. Minha família inteira já foi, menos eu. Mas queria perguntar uma coisa, vocês usam relógio? Tem alguém na América Latina que é pontual? Por favor, pelo amor de Deus! [risos] Na Espanha também não é muito diferente, mas eu fui criado na Alemanha, se estou um minuto atrasado, começo a suar e tenho ataques de ansiedade, não consigo lidar. Sou muito pontual, não consigo ser de outra maneira, já minha esposa…”
“No Brasil vocês usam relógio?”
Luka Peros