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Alba Baptista e Chris Evans || Créditos: Reprodção/Instagram
Alba Baptista e Chris Evans || Créditos: Reprodção/Instagram

Certamente, casamentos secretos e Hollywood têm uma longa e apaixonante história, como no icônico enlace de Audrey Hepburn e Mel Ferrer em 1954, uma cerimônia tão fechada que até os detalhes mais minuciosos permaneceram um mistério por anos. Mas no mundo atual, onde cada smartphone é uma câmera e cada amigo uma potencial ameaça à privacidade, como equilibrar a intimidade com a transparência? O suposto casamento da atriz portuguesa Alba Baptista, de 26 anos, com o astro da franquia hollywoodiana “Capitão AméricaChris Evans, de 42, – que teria acontecido no último fim de semana em Boston, no estado americano de Massachusetts, porém ainda não confirmado – levanta questões inquietantes.

De acordo com o “New York Post”, o local da troca de alianças era tão blindado que até os convidados de peso da Marvel, entre eles Robert Downey Jr. e Chris Hemsworth, foram instruídos a deixar seus iPhones à porta e a assinar acordos de confidencialidade. O sigilo planejado teria sido tão meticuloso que quase chega a ser irônico que a notícia do enlace, completa com detalhes e localização, tenha vazado. Seria essa uma quebra moderna de etiqueta que protege a vida real de celebridades mas pode corroer a confiança entre amigos, ou um sintoma da digitalização? Vale explorar.

Amy Vanderbilt, a renomada especialista em etiqueta, poderia achar a situação perplexa. Tradicionalmente, um casamento é uma celebração pública de um compromisso privado. Contudo, em uma realidade nada estática cheia de smartphones e redes sociais, onde cada convidado é um paparazzo em potencial, as regras de etiqueta estão em fluxo. Temos, então, o paradoxo da privacidade moderna: ela se torna tanto um luxo quanto uma commodity, algo que pode ser controlado, até certo ponto, por acordos legais.

Mas vamos ponderar: não parece estranho, ou até mesmo meio rude, pedir aos seus amigos mais próximos, aqueles convidados para testemunhar uma troca de alianças tão íntima, que assinem um contrato essencialmente revelando uma falta de confiança neles?

Os dois atores têm visões muito definidas sobre o assunto. Em uma entrevista que deu no ano passado à revista “People”, Evans explicou que prefere manter certas coisas apenas para si, sua família e amigos, ecoando a mesma prudência que o levou a manter seu casamento longe dos holofotes. Da mesma forma, em bate-papo com a “GQ Portugal” publicado em 2020, Baptista ponderou sobre o delicado equilíbrio entre exposição e privacidade nas redes sociais, ressaltando a importância de “equilibrar as coisas”. Não necessariamente essas opiniões entram em contradição com a suposta exigência deles em seu casamento. Afinal, quem melhor do que eles para entender o valor daquilo que não dividem com o público dado que ambos vivem da exposição da própria imagem?

Em uma sociedade em constante mudança, moldada pela Web 3.0, Internet 4.0 e uma indústria de entretenimento transformada por OTT e streaming, onde exatamente traçamos a linha entre a intimidade e a invasão? Momentos em família compartilhados pelas celebridades no Instagram e afins seriam “menos íntimos”? Ou são “privacidades mimetizáveis”?

O casal, evidentemente, tem todo o direito de querer manter a privacidade de seu grande dia. No entanto, a maneira como eles optaram por fazê-lo nos leva a questionar a autenticidade dessas relações. Em uma era em que a privacidade é cada vez mais difícil de manter, recorrer a contratos legais pode parecer uma solução prática, mas também lança uma sombra de desconfiança sobre os laços que supostamente deveriam ser os mais fortes.

Nesse contexto, a suposta subida ao altar de Baptista e Evans se torna um microcosmo da nossa complexa dança social contemporânea, com conceitos antigos caindo por terra e novos surgindo. Para os millennials e a Geração Z, que estão reformulando as regras à medida que avançam, talvez essa seja uma evolução natural das coisas. Mas mesmo na modernidade, é válido questionar: em nosso desejo de controlar a narrativa de nossas próprias vidas, estamos sacrificando algo mais fundamental, como a confiança e a simplicidade de um momento compartilhado?

Enquanto os detalhes do tal casamento, caso de fato tenha ocorrido, continuam sendo um mistério bem guardado, o questionamento sobre normas de conduta modernas permanece. Talvez o maior enigma aqui não seja como manter um casamento em segredo, mas como manter a essência das relações humanas em um mundo que está constantemente tentando nos desumanizar. Vanderbilt, papisa da etiqueta, uma vez disse: “Boas maneiras têm muito a ver com emoções. Devem ser usadas para torná-las mais claras e mais gentis, para fazê-las mais simples e mais inteligíveis e, acima de tudo, mais humanas”.

Nesses tempos em que vivemos, onde a privacidade se tornou um luxo quase inatingível, talvez tenhamos que nos perguntar se as regras de Amy ainda se aplicam, ou se elas também evoluíram para um espaço onde confidencialidade legal é a nova cortesia. Assim como os votos de casamento, quem sabe esses contratos sejam apenas outra maneira de dizer “Eu confio em você”, mas com anexos e cláusulas de não divulgação. E isso pode ser a gentileza moderna – uma que Vanderbilt nunca viu chegando, mas que nos faz questionar o que significa realmente ser gentil, inteligível e, acima de tudo, humano.

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