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Debora Bloch faz selfie para o Glamurama no camarim do Teatro Porto Seguro || Créditos: Glamurama

Debora Bloch está na área! Ela chegou a São Paulo com a peça “Os Realistas” depois de temporada no Rio, assinando a produção e compondo o elenco, ao lado de Emilio de Mello, Fernando Eiras e Mariana Lima. Com direção de Guilherme Weber, a peça é do dramaturgo americano Will Eno, expoente do teatro contemporâneo que já recebeu uma indicação ao Prêmio Pulitzer, e trata de dois casais vizinhos que descobrem ter casas idênticas e sobrenomes iguais. Glamurama encontrou a atriz no Teatro Porto Seguro, onde a peça estreia neste sábado, para uma bate-papo sobre “Os Realistas”, a nova série que a atriz vai fazer na Globo, “Justiça”, sobre mulheres na televisão, “o lance é botar as mulheres escrevendo”, casamento, e até sobre política: “Eu me coloco a favor da democracia”. Pode entrar! (Por Verrô Campos)

Glamurama: Como surgiu a ideia de produzir a peça?
Debora Bloch:
 “Eu conhecia o Will Eno das montagens da Sutil Cia. de Teatro, do Felipe Hirsch e do Guilherme Weber, e eu fui assistir a uma peça dele, “Middletown”, em um teatro bem pequenininho Off-Broadway, e adorei. Na época pensei até em montar aquela peça, mas eram 12 atores, 12 personagens, era complicado e ele [Will Eno] estava lá porque era estreia. Falei com ele, trocamos e-mails, conversei sobre montar a peça, mas acabei desistindo porque era complicada de produzir. Aí, como a minha filha está morando em Nova York [Júlia estuda cinema na School of Visual Arts], eu tenho ido muito nos últimos 3 anos para lá e assisti outra vez a uma peça dele, desta vez “Os Realistas”, em um teatro maior, e adorei o texto. Era uma peça para 4 atores, personagens muito bons, igualmente bons, uma peça de elenco, de time e adorei isso. Retomei o contato com ele para pedir para fazer a peça aqui e foi dando tudo certo, estou fazendo com esse elenco, que é tipo sonho. O Guilherme Weber que dirige, ele ia fazer como ator, mas quando a gente começou as leituras, eu achei que ele conhecia muito a linguagem do Will Eno, que era muito íntimo desse autor [Guilherme é o ator que mais encenou Will Eno no mundo] e achei que tinha a ver ele dirigir, que era a pessoa ideal e realmente foi. A direção é primorosa e foi uma parceria incrível.”

Glamurama: Você acha que os casais representados na peça, que é americana, têm alguma correspondência com casais brasileiros?
Debora Bloch: “É uma peça bem americana, mas ao mesmo tempo não, porque ela fala de temas universais: as relações dos casais a relação com uma doença e a possibilidade da morte, como cada um dos personagens se relaciona com isso. A peça fala de amor, de relação, de muito tempo de relação de homem e mulher, dos nossos medos, nossas fraquezas; comuns a todo ser humano. O Will Eno fala disso no programa: ‘É uma peça sobre você compartilhar seus medos e suas fraquezas’. Isso pode ser um casal americano, um casal brasileiro, em qualquer lugar do mundo uma hora você se confronta com a possibilidade da morte. Ele fala sobre isso através destes dois casais, mas fala de pessoas comuns, ordinárias no sentido de comuns, da relação destas pessoas comuns com o vasto, com o extraordinário que é a natureza, a morte, o seu tamanho diante da vida, do universo, do mundo. É sobre tudo isso a peça, não sobre uma vida americana, sobre a vida no que ela tem de universal a todo ser humano.”

Glamurama: Mas fala sobre casamento também?
Debora Bloch:
 “Sobre relações de casais. Sim, sobre casamento.”

Glamurama: Quantas vezes você foi casada e por quanto tempo?
Debora Bloch:
 “Fui casada duas vezes. Na primeira fiquei casada 7 anos [com o diretor de fotografia Edgar Moura] e na segunda vez fiquei casada 13 anos [com Olivier Anquier].”

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Emílio de Mello, Debora Bloch, Fernando Eiras e Mariana Lima, elenco de “Os Realistas” || Créditos: Divulgação

Glamurama: Agora você está solteira. Do que sente falta da vida de casada e do que não tem a menor saudade?
Debora Bloch:
“Eu não tenho saudades da vida de casada, estou gostando de ser solteira. Eu fiquei tanto tempo casada, que agora eu estou achando bom [risos] ter uma outra experiencia, não sinto saudades da vida de casada. Foi bom, tive filhos maravilhosos, acho que o fato de ter filhos te preenche muito na coisa que o casamento também te preenche, que é no afeto e na relação, na companhia que seus filhos fazem. Você fica afetivamente muito preenchido convivendo com a família da mesma maneira. Porém, eu gosto dessa vida mais independente.”

Glamurama: E você está namorando?
Debora Bloch:
“Agora não.”

Glamurama: Pensa em se casar de novo?
Debora Bloch:
“Quem sabe? Pode ser, a gente nunca sabe essas coisas, não dá pra saber e acho que quando você está numa relação apaixonada é uma coisa meio natural, você acaba casando. Mas no momento eu estou achando bom não casar, acho bom esse jeito de viver também, acho as duas coisas boas, acho que tem umas épocas, a vida não é sempre igual, tem épocas que é bom estar casado e tem épocas que é bom não estar, depende do momento em que você está. Mas aí nada impede que daqui a um mês eu fale pra você: ‘Ih to doida pra casar, estou apaixonada por alguém.’ Eu sempre fui muito independente desde garota com o meu trabalho, essas coisas me preenchem muito, então não sinto necessidade de estar casada, o que não quer dizer que não possa casar.”

Glamurama: Como é pensar em voltar às novelas depois de um trabalho tão autoral como “Os Realistas”?
Debora Bloch:
 “São duas coisas diferentes, quando você escolhe um texto para montar, um determinado autor, as pessoas com quem você quer trabalhar, o diretor que você convida, a equipe, os atores… Tem uma autoralidade que você só experimenta assim. Na TV é muito difícil, você é uma peça na engrenagem, que também tem o barato disso, mas são coisas muito diferentes, você não tem autoralidade em televisão. Aí, quando você produz uma peça, é muito prazeroso. Mas agora na TV Globo eu não vou fazer novela, vou fazer um trabalho com o qual estou muito animada, que é uma série, um texto muito interessante, que se chama ‘Justiça’, que na verdade é sobre justiça e injustiça; e vingança. É muito interessante, vou viver uma personagem bem forte, uma mulher cuja filha é assassinada, um assunto que acho bem forte. A direção vai ser do José Luiz Villamarin, diretor com quem trabalhei em novela, de quem gosto muito, com quem fiz muitos trabalhos legais. Acho que vai ser um trabalho muito instigante, estimulante, às vezes você faz uma coisa na TV que também é muito legal.”

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Cena de “Os Realistas” || Créditos: Divulgação

Glamurama: Você acha que na TV tem aparecido mais trabalhos deste tipo?
Debora Bloch:
“Tem aparecido mais, acho que a TV está experimentando caminhos novos, estimulantes.”

Glamurama: O texto de “Justiça” é de quem?
Debora Bloch:
 “Da Manuela Dias, vou começar a gravar em maio e deve ir ao ar só no segundo semestre.”

Glamurama: Algumas atrizes reclamam que não há papel para elas depois de uma certa idade? Depois dos 50 você também sente isso?
Debora Bloch:
 “Acho o seguinte, tem muitas atrizes boas e os bons papéis são raros mesmo. Mas acho que depende do que você está falando. Se você falar em teatro não concordo, acho o contrário. No teatro os bons papéis são para atrizes com experiência e só o tempo te dá isso, o teatro precisa de atrizes com recursos, com história, instrumentos. Na TV depende também, se você estiver falando da protagonista é mais difícil ter uma na minha faixa de idade. Em geral, para fazer a heroína romântica, são as mais jovens, mas também é o que combina, acho que na minha idade as mulheres não são heroínas românticas, a gente está em outra fase, aí a gente vai representar estas mulheres. Eu acho que se tivermos mais autoras mulheres escrevendo, como a Lícia Manso [autora da novela ‘Sete Vidas’], com quem fiz novela, a gente terá papéis para mulheres de todas as idades. Essa série que vou fazer agora [de Manuela Dias], tem papel para as mais jovens e para as mais velhas também. Tem eu, a Adriana Esteves, a Drica Moraes e também as atrizes que fazem as mais jovens. Mas acho que o lance é botar as mulheres escrevendo, aí você vê de um ponto de vista feminino.”

Glamurama: Essa reclamação também vem de atrizes de outra geração, como a Beatriz Segall.
Debora Bloch:
 “Sim, acho que é raro um papel para a Fernanda Montenegro, Beatriz Segall, Nathalia Timberg, Agora o Gilberto [Braga] fez aquele casal da Fernanda com a Nathalia incrível, senhoras gays, bonito né? Mas acho que é raro mesmo papéis para mulheres mais velhas, mesmo no cinema. Tem uma coisa, a câmera ama a juventude, uma relação do cinema e da TV com a juventude, que acho que é meio antiga. Mas estão surgindo autores olhando para essa faixas etárias, como por exemplo a Lícia Manso, agora a Manuela Dias.”

Glamurama: Wagner Moura acaba de publicar na “Folha de São Paulo” um artigo pela legalidade e contra o impeachment. Você acha que os atores devem se colocar neste momento?
Debora Bloch: “Acho que o Wagner não está se colocando como ator, eles está se colocando como cidadão e acho que a escolha é de cada um.”

Glamurama: E você? Se coloca neste momento da política no país?
Debora Bloch:
 “Eu me coloco mais estarrecida, mais assustada do que qualquer outra coisa. Porque acho que a gente está numa situação se correr o bicho pega se ficar o bicho come. Eu me coloco a favor da democracia, com medo de que a democracia seja ameaçada se houver este processo de impeachment fora do processo legal exigido. Isso me preocupa, porque eu cresci sob a ditadura militar e vi pais de amigos presos e torturados e acho um grande perigo. Eu acho também a opção para um impeachment muito ruim, não temos projeto político que me interesse. Não estou a favor nem da Dilma, nem do Lula e nem do PT, apesar de já ter votado no Lula. Não sou a favor da corrupção, de todo o jogo político que foi feito pelo governo, porém me assusta trocar 6 por meia dúzia, acho que a gente tem que ficar mais atento, que as pessoas estão julgando tudo muito rápido, se posicionando muito rápido. A questão é mais complexa que coxinha e petralha, que o bem e o mal, bandidos e mocinhos, não estou vendo mocinho nessa historia, só estou vendo bandido. Então, pra mim, tá um pouco difícil me posicionar publicamente por causa disso. Acho errado a gente ter um processo de impeachment fora da legislação, dos trâmites legais da democracia, isso abre um precedente para a arbitrariedade, acho isso um perigo, estou muito assustada com quem está trabalhando pelo impeachment, com as pessoas que estão brigando pelo impeachment, porque acho que elas são tão culpadas e com as mãos tão sujas quanto o governo. A gente tá vivendo um momento complexo difícil e perigoso. eu acho muito bacana que o Wagner se posicione. Eu não consigo ir para passeata nenhuma, não quer dizer que quero que esse governo fique, tá muito ruim, fomos traídos, com todos os ganhos sociais que eu sei que tiveram, os fins não justificam os meios e vejo uma articulação política que soa a golpe; aí acho um perigo.”

“Os Realistas” – De 2 de abril a 29 de maio
Teatro Porto Seguro – Al. Barão de Piracicaba, 740 – Campos Elíseos – São Paulo

 

 

 

 

 

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