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Kim Kardashian
Foto: Gotham/Getty Images

Em um grupo de Whatsapp, chega o anúncio: “Meninas, estou com duas injeções de Ozempic sobrando. Alguém se interessa?”. Não é preciso ser da área de saúde para saber do que se trata. O medicamento em questão, da Novo Nordisk, é usado no tratamento contra diabetes tipo 2, mas se tornou popular nos últimos anos por outro motivo: o de fazer as pessoas perderem peso rapidamente.

O remédio reduz a velocidade de esvaziamento do estômago e do intestino, gerando sensação de saciedade e, portanto, diminuindo o apetite. A ação é semelhante à do hormônio GLP-1, produzido pelo intestino após as refeições.

O Ozempic – nome comercial da semaglutida – se tornou sucesso de vendas em diversos países. O aumento de peso da população durante a pandemia de Covid-19 foi o empurrão que faltava para que essa “moda” ganhasse força, inclusive no Brasil, que ainda não possui aprovação da Anvisa para essa finalidade. Mesmo assim, os não-diabéticos conseguem comprar o medicamento com facilidade, já que não há controle da retenção de receita.

Em redes sociais, como Tik Tok, influenciadores compartilham abertamente os efeitos “milagrosos” da canetinha com injeção auto aplicável. A hashtag #MyOzempicJourney – entre outras com o nome do remédio – viralizou e foi publicada dezenas de milhões de vezes na rede, e o Brasil está entre os países que mais produzem esse tipo de conteúdo.

Várias celebridades teriam adotado o tratamento para secar rapidamente. Kim Kardashian, que surgiu muitos quilos mais magra da noite para o dia para caber em um vestido usado por Marilyn Monroe no último Met Gala, em maio, foi apontada como uma delas.

No pain no gain

É com certa frequência que o endocrinologista Rogério Ribeiro, do Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo, recebe pacientes que não estão satisfeitos com os resultados do Ozempic para emagrecer.

“O medicamento tem efeito para perder peso quando a pessoa está engajada em mudar seu estilo de vida, com uma alimentação mais saudável e prática de exercícios físicos. Se não há mudança de comportamento, ela pode recuperar todo o peso perdido com a mesma rapidez com que perdeu’’, diz. Além disso, o médico explica que cada organismo responde de forma diferente e que há pessoas que simplesmente não emagrecem com o antidiabético.

“O medicamento tem efeito para perder peso quando a pessoa está engajada em mudar seu estilo de vida, com uma alimentação mais saudável e prática de exercícios físicos. Se não há mudança de comportamento, ela pode recuperar todo o peso perdido com a mesma rapidez com que perdeu”

Rogério Ribeiro, endocrinologista

Além do risco de se frustrar com os resultados na balança, há também a possibilidade de sofrer com efeitos colaterais. Os mais comuns são náuseas, vômitos e constipação, mas não é impossível desenvolver problemas de refluxo e gastrite. Recentemente chegou ao Brasil a versão oral do medicamento, com nome comercial de Rybelsus. Diferente da injeção, que deve ser administrada semanalmente, o comprimido precisa ser tomado todos os dias – ambos atuam de forma semelhante e tem um custo parecido, em torno de R$ 900.

Reprodução/Pexels

Estilo de vida

O que poderia ser uma arma contra a obesidade virou caminho fácil para perder aqueles cinco quilinhos que insistem em incomodar. De acordo com a psicóloga Ilana Pinsky, consultora da Organização Pan-americana de Saúde (Opas), emagrecer pode ser algo bastante difícil e a sociedade moderna contribui com os obstáculos.

O estilo de vida urbano dificulta uma rotina mais equilibrada: há menos tempo para a prática de atividades físicas e para cozinhar em casa, priorizando ingredientes saudáveis. Adiciona-se à conta a má qualidade do sono, o tabagismo e o consumo excessivo de bebidas alcoólicas.

“As pessoas procuram um remédio milagroso porque não se sentem capazes de mudar o estilo de vida. E são levadas a acreditar que essa é a única opção possível. O medicamento pode ser uma ferramenta para o início de uma mudança, mas não o processo de mudança em si”

Ilana Pinsky, psicóloga

Além disso, a psicóloga alerta sobre o efeito que a popularidade desse tipo de remédio pode gerar no comportamento dos adolescentes – principalmente meninas – que aprendem desde cedo que existem formas de driblar hábitos de vida mais saudáveis para alcançarem um ideal de corpo.

“Essa ideia do shortcut é complicada e traz consequências, além do custo elevado. É possível fazer muita coisa legal para o corpo e para a mente com o dinheiro investido nesse tipo de solução’’, conclui.

*Reportagem de Carolina Melo. Leia a íntegra na nova edição da revista J.P, já nas bancas

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