Por Kanucha Barbosa para a Revista J.P de outubro
Fotos Maurício Nahas
Há exatos dez anos Taís Araújo posou para a capa da primeira J.P. Acompanhando as fotos em que a atriz aparecia com uma peruca de fios bem curtinhos, um texto de Joyce Pascowitch dizia: “Taís é uma surpresa. Uma moleca. Original, autêntica e cheia de vida”. A escolha de tê-la estrelando o primeiro número não poderia ser mais acertada, pois, modéstia à parte, suas qualidades têm tudo a ver com o DNA da revista e o espírito leve e jovem que invadiu nossas páginas nessas 121 edições.
O tempo passou e, na hora de escolher a garota da capa da edição de aniversário, nada mais natural que fazer um repeteco e trazer Taís de volta. Desta vez, porém, ela não vem sozinha – tudo culpa desse nosso jeito fora da caixa de fazer as coisas: Karol Conka e Emicida, dois dos nomes mais festejados da música brasileira atual. Taís bateu palmas: “Isso, sim, é que é empoderamento!”.
Falou tudo, Taís! Empoderamento é mesmo a palavra da vez. Principalmente para esses três que estão na batalha desde que se entendem por gente. No dia deste ensaio ficou evidente como essa vivência trouxe cumplicidade ao encontro e como a história deles é parecida. Taís, Karol e Emicida têm sucesso, mas um tipo de sucesso concreto, fruto de muita batalha e, acima de tudo, de muita superação. Há uma década, Taís já era casada com o também ator Lázaro Ramos, e trilhava seu caminho para ganhar cada vez mais destaque na Rede Globo. Emicida, por sua vez, lutava para se profissionalizar e encontrar seu espaço no universo musical. “Esse mundo estava apenas se abrindo para mim. Mas eu ainda não tinha nenhuma expectativa de viver uma experiência como esta, de posar para a capa de uma revista, por exemplo”, revela. Já Karol, só sonhava com a fama. “Estava bem perdida, tinha acabado de ter um filho, mas tinha muita vontade de trabalhar com música”, conta.
Taís – A equilibrista
A atriz viveu um ano positivo na carreira – além do sucesso da série de TV Mister Brau, da Rede Globo, a peça O Topo da Montanha, em que Lázaro Ramos vive Martin Luther King Jr. e ela, a camareira Camae, foi muito aplaudida. Por tratar de temas como racismo, em um ano em que esse tipo de discussão foi tão presente, a peça marcou época não apenas para o público. “Eu sou negra, sou do Brasil, tenho dois filhos negros. Essa é a minha questão e vai ser para o resto da vida. Confesso que tem dias em que acordo com a certeza de que ninguém ouve o que eu digo. Mas aí tem muita gente que me fala: ‘Ainda estou pensando na apresentação de vocês no palco’. Acreditar que dá para atingir pessoas é uma batalha diária.”
Maternidade, teatro, TV, publicidade, redes sociais… Como conciliar? “Me sinto como aquele artista de circo chinês que equilibra os pratos, sabe? Minha sorte é que tenho uma mãe 100% devotada aos meus filhos, que segura muito a nossa onda”, responde. Mesmo assim, equilibrar pratos não é tarefa fácil. Ela acorda todos os dias às seis da manhã para conseguir tomar café, ler jornal e fazer ginástica. Certa vez lembra que foi questionada por um amigo sobre “ter filhos em uma época tão próspera da carreira”. “Não faria sentido de outro jeito. Lázaro e eu temos um casamento, uma história e nossos filhos fazem parte dela. No fim, a gente sempre dá um jeito.”
Emicida – O sonhador
Não é exagero dizer que Emicida é um personagem-chave na história do rap brasileiro. E pode parecer clichê dizer que tudo começou como brincadeira, mas foi assim que aconteceu. “Eu fazia batalhas com meus amigos da rua, não tinha nenhuma ambição mercadológica”, diz. Para quem não tem muita intimidade com o rap, ele adianta: “Nascemos da necessidade de colocar nosso nome no mundo. Por isso, os MCs sempre se autovangloriam, repetem seus nomes nas músicas. Tudo porque essa é nossa forma de dizer ‘estamos vivos, estamos aqui’”.
Aos 31 anos, o paulistano faz parte do time de fundadores da gravadora Laboratório Fantasma, que, desde sua criação, em 2006, mudou a trajetória do estilo musical no país. Embora tenha passado por poucas e boas para chegar aonde está, Emicida não perdeu a ternura. Nas redes sociais, usa sempre a #Ubuntu em suas postagens. “Conheci essa palavra num livro de Nelson Mandela. Tanto ele quanto o Desmond Tutu falavam muito dessa filosofia, que acredita que uma pessoa não pode ser feliz se as outras estão tristes. Ou seja, minha humanidade é um espelho da sua”, explica. Além de Mandela e de Tutu, ele cita o ativista africano anti-apartheid Steve Biko, que costumava dizer que o papel da África no século 21 é reconectar a raça humana com a sua humanidade. Tudo a ver com o MC que estrela estas páginas. “Ubuntu é algo em que acredito e algo que gosto de replicar à exaustão. O mundo precisa disso”, afirma.
Karol – A tombadora
Na adolescência, Destiny’s Child, Lauryn Hill, Erykah Badu, Missy Elliott e Elis Regina faziam parte da playlist de Karol Conka. “O que mais me atraía era como se vestiam e o jeito poderoso que se apresentavam. Parecia que os homens tinham medo delas”, diz. Mulheres talentosas e fortes na essência, assim como a própria curitibana que ficou famosa com o hit “Tombei”, quase um hino da autoconfiança. E Karol sempre foi assim: na falta de alguém para acreditar em seu trabalho, era ela mesma quem se colocava para cima. Com exceção da avó, não houve alma viva que encorajasse a moça a investir na carreira musical. “Todos falavam que eu era boba, que minha vontade de cantar era coisa de criança. Me perguntavam: ‘Você já está com filho e ainda está falando que quer ser artista?’, como se isso fosse o fim do mundo. E eu sempre tive certeza de que iria provar que eles estavam errados”, conta.
Assim foi. Quando Jorge, seu filho, fez 5 anos (hoje, tem 10), ela recuperou as forças e a autoestima e se profissionalizou – o sucesso veio. Neste ano, a projeção de seu trabalho foi mundial quando se apresentou no Maracanã, durante o show de abertura da Olimpíada do Rio, ao lado da pequena MC Soffia.
Morando em São Paulo, longe de Jorge, que vive com o pai em Curitiba, pode-se dizer que ela está completamente focada em seu trabalho. Com a postura de Karol, a mensagem de empoderamento é natural e, para ela, necessária. “Me sinto na obrigação de levantar bandeiras como o feminismo e a igualdade racial porque a gente não costuma ver muitos artistas comprando essa ideia. Acredito que faço isso de um jeito mais leve e mais fácil de digerir.” Daqui para frente, a cantora só quer continuar fazendo o que já faz. Escrever suas músicas e, claro, inspirar muitas meninas a encontrar internamente seu girl power.
Aqui, o ensaio com as estrelas da capa. Siga a seta e arrase!
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E como a ideia é comemorar sem fim, aqui os vídeos da TV Glamurama
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