Por Thayana Nunes para a revista Joyce Pascowitch de fevereiro
Quando aterrissou em Trancoso pela primeira vez, há 20 anos, Fernando Droghetti não imaginava o que encontraria pela frente. Era sua primeira vez no sul da Bahia e o que ele queria mesmo era descansar da vida frenética de São Paulo, onde se dedicava ao mercado financeiro. “Levei dois, três dias para perceber o que era isso aqui”, fala a J.P, com o brilho nos olhos de quem relembra com carinho de uma sensação gostosa. “Foi caindo a ficha de que Trancoso não é só beleza, é energia. A energia da natureza, das praias, das pessoas e de como elas aproveitam o dia.”
A partir daquele momento, Droghetti mudou completamente de vida. Fez do destino praiano seu segundo lar, para onde ia todos os anos com a família, e local de inspiração constante. Desistiu de seu emprego e abriu uma loja de decoração na capital paulista, a Jacaré do Brasil – nome que acabou dando a ele o apelido pelo qual é conhecido nos quatro cantos –, até que, em 2008, resolveu se mudar de vez para o vilarejo. “Era para ser um ano sabático… Mas agora me sinto muito mais baiano do que paulistano.” Hoje, trabalha como decorador e é proprietário de um dos restaurantes mais charmosos e concorridos do Quadrado, que também leva o nome de Jacaré do Brasil. “Trabalhar virou um grande hobby”, declara, orgulhoso.
Localizada em uma área em meio à Mata Atlântica e ao lado do rio da Barra, a casa que ele ergueu tem muito desse espírito de total liberdade que tanto buscava. Tudo ali transpira uma vida mais simples, de contato com a natureza e bem longe dos padrões estéticos de uma grande metrópole. Começando pela sala de estar e a cozinha: ambas não têm portas nem janelas e estão rodeadas pelo verde do terreno de 5 mil metros quadrados. “Eu queria uma arquitetura com o mínimo de estrutura possível”, conta. E conseguiu: a cobertura desses espaços é uma lona de caminhão. “Sempre quis ter uma tenda de lona. Pensava: ‘Se ela protege durante tanto tempo o alimento na estrada, então deve ser resistente’.” Com a pouca chuva da região, Jacaré não tem muito com o que se preocupar. Já o charme desses ambientes fica por conta do forro do teto em tala de dendê, uma fibra natural muito utilizada para dar um clima rústico, e, claro, da decoração feita por ele. Mesas de madeira e luminárias levam sua assinatura e vivem em harmonia com tecidos étnicos, cerâmicas e objetos típicos da arte nordestina. “O que é comprado em outros lugares não se encaixa aqui”, diz.
A mesa de jantar descansa sob as árvores do lado de fora e os únicos cômodos fechados, que ficam em outra construção, são os quartos e banheiros, todos climatizados – e sempre ocupados! É que Jacaré gosta muito de receber e sua casa vive cheia. No dia da foto para a J.P, por exemplo, eram 12 pessoas, entre elas os filhos Ana Maria (23), Ana Teresa (20) e Luis Fernando (18), que moram em São Paulo, mas passam as férias de verão com o pai.
Todo esse agito muda na baixa temporada, quando o entra e sai de gente cessa e ele pode retomar a rotina, que começa com uma volta a cavalo pela manhã – ah, Jacaré tem vários animais, como os cavalos Fórum e Sargento, o jegue Luis Caldas, os cachorros Tufão e Nina, além de papagaios, patos e galinhas – ou com um passeio de stand-up paddle pelo rio que passa pelo seu “quintal” e chega à praia dos Nativos, uma das mais bonitas da região. Em seguida, ele caminha até seu restaurante, onde leva seus dias sempre com um sorriso e a certeza de que encontrou a felicidade plena. “As pessoas achavam que sentiria falta de São Paulo. Acho que não deixa de ser um ato de coragem. Você muda seus valores, rompe uma barreira e encontra uma nova liberdade. Eu vivo meu sonho. Moro com quem gostaria, do jeito que gostaria. No fundo você é feliz quando tudo é mais simples.”
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