Ela hoje dispensa apresentações. Com pouco mais de uma década de carreira na TV, deu um nó na crítica, encarnou uma drogada que foi indicada ao Emmy e ficou muito maior do que imaginava. E do que todo mundo achava
Por Thayana Nunes para Revista J.P de fevereiro de 2017 Fotos Maurício Nahas
Grazi Massafera não foi Miss Brasil em 2004 nem ganhou o BBB de 2005. Também não era protagonista em Verdades Secretas, minissérie da Globo de 2015, assim como não é a atriz principal da novela A Lei do Amor, a atual trama global das 9. Mas nada disso importa, porque Grazi brilha mesmo assim. Ela levanta a audiência. Ela pode até começar como a segunda da fila, mas vira a primeira assim que começa a mostrar a que veio. A Larissa, de Verdades Secretas, por exemplo, uma modelo que fazia programas e acabou viciada em crack lhe rendeu uma indicação de melhor atriz no Emmy – e não foi da premiação latina, que fique bem claro.
J.P pôde comprovar o poder, digamos, secreto de Grazi assim que ela entrou no estúdio. Chegou quietinha, de jeans, tênis e rabo de cavalo, mas em minutos se transformou no mulherão que a gente vê aí do lado e nas outras páginas. Bastam dois, três cliques e as fotos saem perfeitas. Ela sabe posar, sabe qual é seu melhor ângulo e arrasa. “Ma-ra-vi-lhooosa!”, gritam os stylists em coro enquanto o fotógrafo Maurício Nahas dispara a câmera sem parar.
Vivendo a melhor fase da carreira, Grazi está emendando personagens ousados: por causa da Larissa, de Verdades Secretas, concorreu com a inglesa Judi Dench ao Emmy, o mais importante prêmio da televisão mundial. E agora a periguete Luciane, de A Lei do Amor, ganha força a cada capítulo. E pensar que Grazi quase desistiu de tudo. Ela nunca escondeu que pensou em parar quando recebeu críticas negativas em atuações anteriores, como em Negócio da China, de 2008. “Comecei a me questionar: por que estou nessa profissão? Está me dando prazer? Qual a minha função? É alimentar meu ego?” As dúvidas eram muitas, mas acabaram assim que participou de um curso de interpretação na Espanha, em 2014. A partir daí, voltou apaixonada pela carreira e se uniu aos preparadores de elenco Sergio Penna e Andrea Cavalcanti, dois feras na área. “Não ligo mais para críticas. Senão, você vira um fantoche na mão de gente louca”, diz ela, que costuma levar todos os seus roteiros para o Santuário de Aparecida, no interior de São Paulo, que recebe milhares de peregrinos.
No futuro, seu desejo é interpretar uma travesti. O motivo? Passou a adolescência entre elas em Jacarezinho, cidade de 40 mil habitantes no interior do Paraná. Além da família, foram as amigas travestis as primeiras a dizer: “Essa menina tem alguma coisa. Vamos levá-la a um concurso de beleza!”, conta. Grazi, adolescente e linda, veio de uma família humilde e fazia de tudo para não ter a mesma situação financeira dos pais. Virou babá, trabalhou em cabeleireiro, foi vendedora. E foi nesse contexto que começou a participar de concursos de beleza. “No Miss Paraná usei roupa do Miss Gay. E isso no interior!” Levá-las para o cinema ou TV seria uma espécie de homenagem. “Acho que o preconceito está mais forte”, diz.
PAREDÃO
Antes da entrevista, J.P ficou meio reticente de falar sobre reality show. Afinal, Grazi ficou tão maior que o BBB, que chega a ser meio injusto lembrar essa parte de sua história. Assim como Gisele, Sabrina e Ivete, ela também virou uma estrela e dispensa o sobrenome. Mas foi a própria atriz quem puxou o assunto. “O BBB não é um problema para mim. Criaram isso, de que tenho vergonha, para virar uma novelinha da minha vida. E as pessoas gostam de criar, porque ‘Grazi vende’.” Ela não entende por que tantas críticas ao programa, ainda mais quando o que todo mundo quer é aparecer. “As pessoas estão fazendo um reality de si mesmas com o celular. Virou um grande Big Brother. Olha que falso moralismo! Criticam o que mais querem para a vida delas”, reflete. Ok, mas o caso é que ela tem uma conta no Instagram com 9,4 milhões de seguidores. Diz tentar “nadar contra a maré” e que estar ali é muito pelos contratos publicitários, já que hoje é uma mídia “mais forte que a TV”. Conta que busca equilíbrio e mostra fotos de lugares como Fernando de Noronha, para onde viaja com frequência, dos bastidores das novelas, e uma selfie ou outra fazendo biquinho – mas ela não resiste e também publica imagens do corpão sarado. E dispara, se justificando: “Gente, quem sou eu para querer me mostrar?”. Aham.
PAPARAZZI
O papo agora passa para a maternidade. A atriz mostra fotos de Sofia, sua filha de 4 anos com o ex, Cauã Reymond, e vídeos da menina vendo a neve pela primeira vez – no dia do ensaio, ela estava com o pai em Utah, nos Estados Unidos. O clima entre os dois parece bom: trocam imagens da filha pelo WhatsApp, e a atriz fala dele uma única vez ao refletir sobre a sorte que Sofia tem com pai e mãe morando em frente ao mar, no Rio. Grazi é superdiscreta com sua vida pessoal. Sobre o namorado, o empresário carioca Patrick Bulus, com quem está há oito meses, é quase monossilábica. Está apaixonada? “Eu tô bem.” O que gostam de fazer juntos? “Ficar juntos.” Ah, fala mais… Ela ri: “Está fluindo muito bem. E é bom namorar alguém que não é do meio, que não é famoso. Os assuntos são outros”. Patrick, de 27 anos, é considerado um dos herdeiros mais cobiçados da capital fluminense e é ex da atriz Mariana Rios, com quem ficou por dois anos.
A gente entende. Afinal, Grazi já sentiu na pele o que é invasão de privacidade. Em 2014, quando a separação de Cauã veio a público, ela passou por poucas e boas: todo mundo queria saber o motivo real do fim do casamento e a atriz vivia cercada de fotógrafos. Teve um que a seguiu saindo da igreja e gravou uma conversa em que ela dizia que “Cauã está mesmo com a Isis [Valverde]”. Hoje, os paparazzi continuam por aí, mas ela diz não ligar. O que incomoda agora são os falsos perfis na internet. “Minhas amigas me mandam: Grazi, essa pessoa está armando a maior confusão falando que é você. Tenho advogado para ir tirando.” É, lidar com a fama não deve ser fácil. Sente saudade de ser uma pessoa comum? “Dentro de casa eu sou, faço questão. E gosto de viajar para um lugar onde ninguém me conhece. Fico que nem ‘pinto no lixo’. É mais para poder observar do que ser observada. Aqui, o tempo inteiro estão vendo se você é bonita, se é feia, se seu nariz é reto, se é gorda, se é magra.” Que chato, hein? “Não! Nem ligo mais. Porque isso não vai mudar minha vida.” Humm. E o melhor de ser famosa? “Acho que as facilidades, sua cara abre portas. As pessoas recebem você sorrindo. O Rio não é uma cidade fácil para quem está chegando. Minha família sempre fala: ‘Poxa, o atendimento aqui é complicado’.” Por isso, bate uma saudade de voltar a morar no interior. Grazi fala das delícias da infância, de brincar na rua e de jogar conversa fora com o vizinho. “Troco a troco de garrafa! Sorveteeeeiro!”, fala alto, imitando a frase do sorveteiro que passava na rua onde morava. Depois do auge, diz estar valorizando as coisas simples da vida. “Sou uma pessoa simples. Antes, quando comia alface e tomate da horta, era louca para comer coisa industrializada. Hoje, quero comer tudo da horta de novo. É como se estivesse voltando às origens. Claro, repaginada.”
PÔR DO SOL
O papo está bom, mas o ensaio ainda está rolando. Grazi surge com um vestido vermelho Cris Barros e bracelete Silvia Furmanovich. “Agora, sou a dona do barco e vou dar uma festa”, diz, brincando com as cores e o tema do nosso ensaio que segue o clima de “um fim de tarde na Bahia”. Enquanto Ricardo dos Anjos retoca seu make, ela descobre quanto custa a pulseira que está usando. “Então, sou a dona da frota de barcos, gente!” Todo mundo morre de rir. Em outro look, com um maiô Jo de Mer e saltos altíssimos Gucci, Grazi puxa a parte de trás do body e solta – para delírio do fotógrafo. Tudo ao som de “Tombei”, de Karol Conka. que brada sobre empoderamento feminino. Quando J.P pergunta se ela se acha sexy, Grazi desconversa. “Acho sexy pessoas interessantes… Me acho sexy quando estou feliz, na praia. Com aquele sol maravilhoso, aquele mar. Pronto: sou sexy quando estou bronzeada.”
- Neste artigo:
- Grazi Massafera,
- revista jp,