Todo mundo tem uma joia que herdou da mãe ou da avó, mas é difícil encontrar alguém que use de verdade essas peças. Aqui, quatro mulheres mostram que tem muita coisa boa no fundo do baú
Por Thayana Nunes para a Revista J.P de março | Fotos André Giorgi
CLÁSSICA
Letícia Romão, 27 anos, estava pronta para ir à igreja para seu casamento com o empresário Alexandre Correia, em 2016, quando escutou a mãe exclamar: “Você não está usando nada emprestado!”. A ansiedade, que já estava a mil, bateu ainda mais forte. Para se casar, a estilista da marca de underwear Ava Intimates queria seguir à risca a tradição que diz que no grande dia é preciso vestir uma peça antiga, outra azul e outra emprestada. Foi nessa hora que a avó entrou na conversa, tirou o anel do dedo e entregou para a neta. “Ela me salvou!”, relembra rindo. Mas essa não é a primeira joia vintage de Letícia: ela não tira o anel da juventude da mãe e outro que ganhou da madrinha quando nasceu, mas que só agora serviu. Todos delicados, com detalhes de pérolas e pequenas pedras de diamante, do jeito que gosta – não à toa, suas criações de bodies, tops e hotpants seguem a mesma linha, com muita renda, tule e cetim com seda.
TEMPERO FRANCÊS
Nos anos 1950, uma das lojas mais tradicionais de São Paulo pertencia a Enrique de Goeye, um imigrante francês que comercializava objetos de decoração e joias, muitas delas trazidas da Europa. Hoje, esse sobrenome continua sendo sinônimo de chiqueria e dá vida a uma das marcas mais bacanas da cidade, a De Goeye, das irmãs Fernanda e Renata. Por ali, somente peças atemporais, nada de modismos. “Muito do nosso DNA vem dessa nossa história, de investir em coisas eternas”, conta Renata, 38 anos, que vira e mexe está usando os colares com desenhos de flores ou pedras de murano, relíquias da loja do avô. Mas, para o nosso clique, a estilista preferiu usar um presente que a mãe, Yvonne, ganhou durante a comemoração de bodas de prata do casamento, há mais de duas décadas. Já virou herança de família, claro. “Meu jeito de me vestir, as joias que uso, as roupas da De Goeye. Tem tudo a ver.”
FEITO TATUAGEM
Na família de Vanessa Rozan, 37 anos, é tradição as mulheres ganharem uma joia ao completarem 15. Foi assim com a avó e a mãe da make-up artist, foi assim com ela e será assim com Pina, sua filha de 4 anos, de seu relacionamento com o empresário Facundo Guerra – Vanessa é casada com o jornalista Ricardo Lombardi. E esse presente passado de geração em geração não é qualquer um: são três peças, um brinco, uma pulseira e um colar de pequenas pérolas que, de tão delicadas, são guardadas a sete chaves. Vanessa adora acessórios antigos: não tira do pulso um relógio dourado que era da avó. Aliás, é essa relação com a avó Lourdes que marcou toda a sua trajetória com as artes plásticas e como maquiadora – ela viaja o Brasil falando sobre beleza feminina e está há oito anos no programa Esquadrão da Moda, no SBT. “Ela era costureira e lembro muito de ver aqueles tecidos, as revistas e o barulhinho da máquina. Foi esse pequeno mundo o embrião dos meus gostos principais.”
PEQUENO SANTUÁRIO
Joias na família de Suzana Junqueira, 45 anos, vão muito além dos acessórios para vestir. A empresária paulistana considera que os quadros que herdou da avó, como a tela Babinski que enfeita uma das paredes de sua sala de estar, ou as xícaras inglesas que servem os cafés da tarde, são as verdadeiras relíquias. Mas, para os cliques, tirou do closet uma pulseira Cartier que pertenceu a uma das bisavós, que, apesar de ser uma mulher discreta, usava em ocasiões especiais no início do século passado. Como é filha única, ela tem a sorte de receber todos esses mimos. “Minha avó Cecília guardou durante anos uma pedra água-marinha e nunca soube o que fazer com ela. Fiz um colar que adoro”, conta ela, que tem uma queda para o colecionismo. “Gosto de coisas de casa, de objetos cheios de história.” Deve ser por isso que um de seus programas favoritos é passear pela feirinha da praça Benedito Calixto.
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