Até o início dos anos 1970, quando iam à praia, mulheres grávidas tinham de esconder a barriga usando maiô. Foi Leila Diniz quem acabou de vez com esse costume e desvendou as cortinas da maternidade. Além dela, outras estrelas solidificaram essa liberdade e fizeram história
Por Renato Fernandes para a Revista J.P
Leila Diniz – A pioneira
Em agosto de 1971, a atriz Leila Diniz, grávida de seis meses, foi ao ginecologista e perguntou se podia tomar sol na barriga. Com a resposta afirmativa, não teve dúvidas, comprou um biquíni grande e se mandou para Ipanema, praia onde era musa. Foi um escândalo nacional! Até então, quando uma mulher grávida ia à praia – e quando ia – usava um maiô que escondia a barriga por inteiro. “O médico devia estar imaginando que ela ia pegar sol no terraço ou na piscina. Nunca nenhuma mulher havia feito isso”, conta o amigo e cineasta Luiz Carlos Lacerda, no livro Toda Mulher É Meio Leila Diniz, da antropóloga Mirian Goldenberg. Em pouco tempo, as fotos de Leila estampavam as capas de revistas e dos jornais. “Teve até carta de leitor protestando contra a ‘exibição vulgar’ de um estado de graça que é a maternidade. Leila sem nenhum alarde dessacralizou a maternidade. Expôs ao sol a felicidade que seu corpo de mulher estava vivendo”, concluía o cineasta. O assédio da imprensa na gravidez de Leila foi tão grande que, em pouco tempo, ela resolveu tomar sol na então deserta São Conrado e era coroada a grávida do ano no programa do Chacrinha. Um dia antes do nascimento de sua filha Janaína, aos nove meses de gravidez, Leila posou para o fotógrafo David Drew Zingg. Nua! Quis o destino que ela não pudesse curtir a maternidade por muito tempo. Leila Diniz faleceu em um acidente aéreo em 14 de junho de 1972, aos 27 anos, quando Janaína tinha apenas 7 meses. Antecipou o voo da volta de um festival de tanta saudade da filha. Mito em vida, mito eterno. Em muitas de suas antológicas frases está: “Eu tenho muita pena do homem não poder ficar grávido”.
Betty Faria – Mãe Natureza
Foi ao beijar uma mulher na boca que Betty Faria descobriu sua primeira gravidez, da filha Alexandra. J.P explica: Betty estrelava a peça A Falsa Criada, sucesso em 1968, e, em um dos atos beijava Yolanda Cardoso. “Comecei a enjoar com o gosto do batom!”, conta a estrela em sua biografia Rebelde por Natureza, de Tania Carvalho. Logo depois precisou deixar o espetáculo, pois teve uma ameaça de perder o bebê. O pai, o ator Claudio Marzo, naquela época o maior galã do Brasil, estava gravando uma novela em São Paulo e partiu às pressas para o Rio. “Ela nasceu de parto normal e fui invadida por um sentimento de responsabilidade absoluto que me acompanha por toda vida”, revela Betty no mesmo livro. A maternidade a fez procurar a amiga Leila Diniz para ajudá-la a arrumar um emprego na televisão. Virou estrela de novela. Não morou muito tempo junto com Marzo, mas ficaram amigos por toda vida. Durante a segunda gravidez, do diretor Daniel Filho, estava fazendo a novela O Espigão, na qual interpretava a rebelde Lazinha Chave-de-cadeia. Betty e Daniel acabaram se casando em maio de 1974, numa cerimônia íntima, e, em agosto do mesmo ano, já era capa da revista Manchete com a barriga de fora. Sua personagem, Lazinha, de tão popular, continuou na novela e também aparecia com a barriguinha de fora, “parecendo um croquete de tão roliça”, dizia Betty. Durante toda a gravidez, a atriz foi ainda capa de diversas revistas ao lado de Daniel, muitas só de biquíni. No dia 1º de abril de 1975, nasceu João, em parto normal, pelo método “nascer sorrindo”, também conhecido como método Leboyer, o menos agressivo ao bebê. “Quando o colocaram no meu colo, com aqueles olhinhos abertos me encarando, eu disse: ‘Oi, há quanto tempo!’ Era como se nos conhecêssemos de outras vidas. Um amor! E depois de parir um filho homem, entendi todas as sogras”, revela, também em sua biografia. Hoje, além de supermãe, Betty é uma superavó.
Dina Sfat – Mãezona
Na sala da cobertura onde morou durante décadas no bairro do Leblon, no Rio, havia um grande pôster de Dina de perfil, grávida. Quem já conheceu sua residência não esquece jamais. Ser mãe, para ela, sempre foi sua maior obra de arte: teve três meninas, estilo escadinha na diferença de idade, Bel, Ana e Clara. E Dina, uma das maiores atrizes do Brasil, engravidava sempre durante o período que estava no ar. “Numa delas, fui acusada por um diretor, meio louco, de estar grávida. Logo, eu, um mito sexual, grávida? Para ele era uma catástrofe, para mim, um estado maravilhoso. Não fui triturada pela máquina da televisão. Pelo contrário. Talvez tenha sido a primeira atriz grávida que engravidou um personagem”, disse ela a Ronaldo Bôscoli, em uma entrevista para a revista Manchete, em 1976. Quando o jornal O Pasquim fez uma enquete para escolher a mulher mais sexy do ano, Dina ganhou… grávida de oito meses. “É muito bonito ter três filhas mulheres… Revivo minha infância nas minhas três mulherezinhas. Convivo com elas e elas me devolvem três épocas, cada uma vivendo o seu tempo e me devolvendo vários tempos meus. É muito bonito”, declarou ela a Marília Gabriela para a revista Especial, em 1980. Ela também sempre fez de tudo para dar tudo de bom e do melhor para as meninas, investindo muito em cultura e viagens. A maternidade marcou sua carreira e era ela quem embalava Grande Otelo no filme Macunaíma (1969). Sua última novela também remete ao tema: Bebê a Bordo, sucesso em 1988, um ano antes de sua morte. Sua biografia, Palmas Para que Te Quero, foi lançada quando já estava doente, mas ela fez questão de fazer um ensaio fotográfico, assinado por Frederico Mendes, dela com suas filhas. Dina sempre lutou pelo direito das mulheres e fez uma capa icônica para a IstoÉ, segurando uma placa a favor do aborto. Salve Dina!
Wanderléa – Mãe Coragem
Quem vê Wanderléa, linda de morrer, aos 72 anos, desconhece suas dores e perdas. A rainha da Jovem Guarda sofreu a dor maior de uma mulher: perdeu um filho pequeno, Leonardo, com quase 3 anos, em 1984, afogado na piscina de sua casa na Granja Viana, em São Paulo. Corajosa, conseguiu expor isso pela primeira vez em sua biografia, Foi Assim, lançada no ano passado. Os ventos parecem compensá-la com uma energia maior e, em pouco tempo, sem planejar, estava grávida novamente, de uma de suas filhas. Não teve dúvidas e ousou: posou nua usando apenas véu para a revista Status, em 1985. Também na biografia, ela deixa claro que fez bem antes da icônica capa de Demi Moore para a Vanity Fair, em agosto de 1991. Antes de Demi, mas depois de Leila, que fique claro. Wanderléa é família toda vida e volta e meia pode ser vista ao lado das filhas nos Jardins. Nos anos da Jovem Guarda, adquiriu um ótimo apartamento na alameda Franca. Avessa à frescuras, tem fãs por onde passa. O espetáculo 60! Década de Arromba – Doc. Musical estava previsto para ficar três meses em cartaz no Rio, mas o sucesso foi tanto, tanto, que rodou o Brasil por dois anos. No grande elenco também está sua filha Jadde. Inseparáveis.
Baby do Brasil – Mãe Revolucionária
Em 1985, a cantora Baby do Brasil – então Consuelo – escandalizou os conservadores da sociedade brasileira ao surgir com a barriga de oito meses de gravidez totalmente de fora na primeira edição do Rock in Rio. Ponto para ela: o filho Kriptus virou um marco do festival. Vinda de uma família de classe média, Baby largou tudo e foi morar na Bahia, onde conheceu o guitarrista Pepeu Gomes e mais os músicos que formariam pouco tempo depois os Novos Baianos. Com Pepeu teve seis filhos, e eles deram nomes completamente diferentes: “Eu queria cooperar com nomes novos”, declarava ela aos quatro cantos. Vieram Riroca, Zabelê, Nãna Shara, Pedro Baby, Krishna Baby e Kriptus Rá. Todos músicos. Riroca resolveu mudar de nome e hoje assina Sarah Sheeva e é pastora evangélica. E não foi só no show que Baby inovou com a gravidez, mas também na capa de seus discos. No de Krishna Baby, aparece grávida, com um bebê pintado na barriga. “Fizemos a foto ao amanhecer, Baby precisou de horas para a pintura”, revela o fotógrafo Antonio Guerreiro, que assina as três capas em que a maternidade é tema. Grávida, com o filho no colo, e outra já com todos eles. “O nascimento de um filho melhora os pais, é um espelho. Um bebê ao nascer precisa de amor 100%”, disse ela, em entrevista ao programa do Fábio Porchat, na Record. A separação de Pepeu foi em 1988, inclusive musical, e foi o filho, o guitarrista Pedro Baby, que os uniu novamente para um show, depois de anos. Se os netos têm nomes convencionais? Nada. Baby é avó de Rannah Sheeva, que é musicista, e Dom Pedro Baby, que nasceu este ano. Baby fez e faz escola.
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