Populares entre mais velhos e pessoas sem smartphones, as redes sociais de namoro mais acessadas do Brasil são desconhecidas pela galera do Tinder
Por Chico Felitti para a Revista J.P de março
“Aqui é BBBB: cliente votando no Big Brother Brasil e cliente entrando no Badoo”, diz Solício Antunes, um homem que passou 12 dos seus 54 anos administrando um cyber café (que não serve café, só cerveja) no Largo do Arouche, no centro de São Paulo. O empresário afirma que “sem esses sites de namoro, estaria falido”, e carrega uma sabedoria do mercado de e-namoro que pode passar desapercebida.
Para o leitor da J.P, deve parecer que todo mundo (que não está casado) está no Tinder e no Happn. Mas o mercado do namoro na internet brasileiro ainda é dominado por sites e aplicativos cujos nomes soam como grego para o circuito Jardins-Leblon.
Em uma pesquisa feita pelo Núcleo de Estudos e Tendências da Atento, 33% dos adeptos das redes sociais de namoro usavam um programa chamado Badoo, e 15% usavam o ParPerfeito, mesmo percentual dos usuários do Tinder. Ou seja, quase metade dos usuários de serviços de namoro on-line não estão nas redes mais descoladas.
Mas o modelo de aplicativo mais moderno ainda não deu match com dois segmentos da população brasileira: as pessoas acima de 50 anos e uma fatia da população que prefere usar essas redes sociais em computadores, e não em smartphones.
“O consumidor mais velho prefere o desktop (computador de mesa), porque é maior, mais fácil de ver, mais fácil de digitar. E essas plataformas apostam em bons sites, por mais que estejam lançando apps cada vez mais parecidos com o Tinder, por exemplo. E também tem as pessoas que não têm dinheiro para ter um telefone com internet, ou mesmo internet em casa”, diz Arnav Amba, do Instituto de Tecnologia de Délhi, na Índia, que estudou os mercados do seu próprio país, da África do Sul e do Brasil para um pós-doutorado em sociologia da tecnologia.
O pesquisador aponta o Badoo como um case de sucesso nesses territórios emergentes. Ao entrar no site da plataforma mais popular do país, o contador de usuários aumenta a cada meio segundo. No momento em que esta reportagem foi escrita, eram 378.178.022. Não, 378.178.027. Enfim, uma população dos Estados Unidos mais a população da Espanha. Todos atrás de alguém para chamar de seu .
A cabeleireira Sofia Aragão, 44 anos, é uma parte infinitesimal desse público. Ela conheceu seu namorado Cláudio no Badoo. “Vi uma foto dele na rua do salão de beleza em que trabalhei, no Jaçanã, e mandei um oizinho. Acabou que ele era vizinho da minha mãe”, diz ela, que está com casamento (o terceiro da vida) marcado para agosto deste ano.
Há até famosos nessas redes menos famosas. Ou quase famosos. Uma das ex-mulheres do ex-ministro José Dirceu está lá. “Sou jovial e procuro homens de alma nova”, diz ela, que já teve funções públicas, hoje se define como uma dona de casa interessada por viagens e por leitura (o último livro que declara ter lido foi A Menina que Roubava Livros).
VELHA METIDA
Engana-se quem pensa que essas marcas fazem mais sucesso só com quem não pode ter um iPhone X. Até porque os aplicativos ocultos também favorecem quem pode pagar. Você pode comprar o que o Badoo chama de “superpoderes”: por uma taxa única de US$ 60 (cerca de R$ 200), seu perfil vai aparecer com mais frequência na tela dos candidatos. É possível também parcelar a compra de superpoderes com créditos, numa lógica que imita a do celular pré-pago.
Segunda plataforma mais popular no país, empatada com o Tinder, o ParPerfeito se gaba de ter 450 mil novos usuários por mês – e ao menos 24 mil que o deixam a cada ano, porque afirmaram ter achado alguém.
Uma pesquisa interna do ParPerfeito mostra que 65% tem ensino superior completo. É o caso da advogada aposentada Lina Sá, que tem um diploma de mestrado, mas não um perfil nos apps da moçada. “Ah, esses de celular são coisa de jovem. O Badoo e o pepê [ParPerfeito] são mais para a gente, que gosta de usar computador, de ver foto grande, de pegar o óculos de perto para ver as fotos, conferir se os moços não estão mentindo a idade”, diz Lina, que esconde os óculos de hipermetropia na bolsa Michael Kors que comprou um Miami no último Réveillon.
Lina, que mora nos Jardins e tem “perto dos 60” anos de idade, até tentou se modernizar. Com ajuda da única filha que teve com um médico, com quem foi casada por 30 anos até ele morrer, ela se inscreveu no Tinder. “Parecia a rua da Consolação numa sexta à noite, só tinha criança”, ela ri. “Olhei uns 15 minutos. O único sentimento que me despertou foi vergonha de ser uma velha metida a moderna.” Lina afirma que experimentaria outros aplicativos de namoro, “contanto que minha filha não esteja neles”.
Isso sem falar nos competidores de nicho do mercado do e-namoro, como a Ashley Madison (destinado a puladas de cerca, mas que caiu num escândalo depois que uma pesquisa mostrou que pelo menos 70 mil dos seus 37 milhões de usuários, quase todos mulheres, eram, na verdade, robôs se fazendo passar por mulheres) e o OkCupid, que leva em conta a personalidade do usuário na hora de oferecer possíveis parceiros.
Pode parecer muita opção, mas ainda há um mercado virgem a ser seduzido: 13% dos brasileiros entrevistados no fim de 2016 jamais tinham usado a internet para achar um amor – ou uma cilada que fosse.
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