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Rita D'Libra
Foto: Divulgação/ Giulian Serafim

Imagine só chegar a um evento ou show, e se deparar com uma drag queen intérprete de libras? Parece inusitado, mas é a escolha de vida de Lenon Tarragô, de 31 anos, pedagogo, intérprete de libras e drag queen do Rio Grande do Sul, dono da personagem Rita D’Libra

Considerada a primeira drag intérprete da língua de sinais aqui no Brasil, Lenon fala em entrevista ao GLMRM sobre o início da carreira de Rita D’Libra e suas inspirações.

Representatividade importa

“Eu percebi muito a necessidade de representatividade. Aqui no Rio Grande do Sul nós não tínhamos muitos intérpretes que fossem fora do padrão, que é a pessoa cis, com cabelo preso, sem maquiagem. roupa preta. Então, foi muito estranho pra mim começar a me montar e estar ali fazendo a tradução de uma forma diferente, porque a drag queen é o oposto da discrição. Depois que comecei a ter contato com um intérprete de São Paulo a minha cabeça abriu: comecei a me soltar mais, a ter uma visibilidade maior e as pessoas começaram a entender a razão de eu estar ali no palco, e isso ajudou a Rita se soltar e aparecer”, relata Lenon.

Muitas outras “Ritas” serviram de referência para a criação do nome da personagem: Rita Von Hunty, Rita Cadillac e Rita Lee foram escolhidas por serem pessoas abertas e sem preconceitos. Já Glória Groove, cantora drag paulista em cujos shows Rita já trabalhou, é uma das inspirações para que a intérprete assuma o ofício “drag”: “É uma artista que eu tenho uma paixão imensa e fiquei muito feliz de ter feito a tradução do show dela. Interpretar as músicas dela faz eu me emocionar, pois as letras passam uma mensagem maior”. Com uma carreira bastante ambiciosa, Rita ainda quer trabalhar com nomes em ascensão na música brasileira como Luisa Sonza e até Anitta.

Palavrões em libras

Alguns trabalhos já colocaram Rita em situações no mínimo engraçadas: “Já passei por situações bastante embaraçosas. Em 2020, fui convidado para a live da Inês Brasil e acabei tendo que interpretar as músicas de uma convidada, que eram bem polêmicas cheias de palavrões. Foi engraçado, mas agora que lembro me pergunto como consegui interpretar daquela forma. Vários artistas acabaram comentando e compartilhando, e a partir daí a Rita explodiu nas redes sociais”.

Foto: Divulgação/ Giulian Serafim

Rita além da drag

Por trás da peruca e maquiagem, Lenon Tarragô se diz uma pessoa observadora e quieta, em contraponto à personagem que interpreta.

“A minha formação é pedagogia, então a questão de acolher a pessoa e ganhar a intimidade e confiança do aluno é bem viva. O Lenon é a coerência da Rita, que é solta demais e fala com todo mundo!”, brinca.

A profissão no mundo LGBTQIA+

A profissão de tradutor e Intérprete de Língua Brasileira de Sinais ainda é considerada recente no Brasil, sendo regulamentada há apenas 12 anos. Com isso, Rita acredita que no meio LGBTQIA+ ainda existam pessoas se sintam retraídas em se assumirem dentro da profissão:

“Acredito que o primeiro passo para fazer as pessoas LGBTQIA+ se sentirem incluídas é ter respeito, tratá-las como ser humano, e aceitar suas limitações e particularidades, sem tratar com ‘pena’. A gente precisa ver que essas pessoas existem”, relata Rita D’Libra.

“A cada dia que passa eles me ensinam, e sei que estou aqui para contribuir com essa evolução”. E que seja apenas o começo!

Foto: Divulgação

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