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Por Roberta Sendacz

É preciso se deparar pelo menos em algum momento da vida com a linda entrevista que Vinícius de Moraes concedeu a Clarice Lispector, no final da década de 1960. Não sabemos de onde vem mais erudição, se da parte da entrevistadora ou do entrevistado. O bate-papo se encontra, dentre muitos outros realizados pela escritora, em “Entrevistas, Clarice Lispector”. Aliás, foi muito difícil buscar o tema dessa coluna apenas na entrevista de Vinícius. O conceito de amor de Tom Jobim (outro entrevistado) não fica nada atrás em termos de beleza poética.

É lindo. Mas vamos à primeira pergunta de Clarice ao pai de Garota de Ipanema:

“…Vinícius, você amou realmente alguém na vida? Telefonei para uma das mulheres com quem você casou, e ela disse que você ama tudo, a tudo você se dá inteiro: a crianças, a mulheres, a amizades. Então me veio a ideia de que você ama o amor, e nele inclui as mulheres”.

Resposta de Vinícius: “Que eu amo o amor é verdade. Mas por esse amor eu compreendo a soma de todos os amores, ou seja, o amor de homem para mulher, de mulher para homem, o amor de mulher por mulher, o amor de homem para homem e o amor de ser humano pela comunidade de seus semelhantes. Eu amo esse amor, mas isso não quer dizer que eu não tenha amado as mulheres que tive. Tenho a impressão que, àquelas que amei realmente, me dei todo.”

Os dois ainda tocam nesta mesma conversa, sem, entretanto, desenvolver muito o assunto (talvez por medo do precipício temático), no perigo do amor-paixão: bem mais precário e doloroso que o amor trivial, o de gente como a gente. Este amor-paixão é tão intenso e profundo que é realmente único. Por que não qualificá-lo como infinito? Assim o faz o poeta. Parece que se trata de um misto perfeitamente emparelhado de corpo e alma. A fusão de tudo e a supressão de limites. Questionado por Clarice se viveu alguma vez tal amor, Vinícius diz que simplesmente só ama desse modo. Será ele também para os não iniciados?

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